Classificação dos juízos: quantidade e qualidade dos juízos
1.3. Classificação dos juízos: quantidade e qualidade dos juízos
Quanto à quantidade, os juízos podem ser universais, particulares ou singulares.
- Os juízos são universais quando o predicado se aplica a toda extensão do sujeito.
(Todos) os homens são mortais.
Nenhum homem tem asas.
Juízos como «As minhocas são animais.» e «O avarento é egoísta.» são necessariamente universais porque se referem a toda a extensão do sujeito: «todas as minhocas»; «todos os avarentos».
- Os juízos são particulares quando o predicado se aplica apenas a uma parte da extensão do sujeito.
Alguns moçambicanos são médicos.
Juízos como «PeIo menos, uma criança é obediente.», «Certos atletas mundiais são africanos.», «Existem homens honestos.», são particulares porque em cada um deles o sujeito refere-se só a «algumas crianças», «alguns atletas», «alguns homens».
- Os juízos são singulares quando o predicado se refere a um único individuo.
A Maria é costureira.
Todavia, no caso do juízo «Sócrates é mortal.», pode considerar-se que o predicado se aplica ao sujeito em toda a sua extensão — Sócrates na sua totalidade é mortal, da mesma forma que os homens na sua totalidade são mortais, ao contrário de apenas «alguns homens serem violentos» — costuma reduzir-se o juízo singular ao juízo universal.
Convém notar que as proposições singulares referem-se a universos constituídos por um só individuo no conjunto de tantos outros, isto é, universos particularizados. Por isso, rigorosamente falando, as proposições singulares são redutíveis a proposições particulares.
Quanto à qualidade, os juízos podem ser:
- Afirmativos: quando o predicado é afirmado em relação ao sujeito.
Nkahimany é um menino obediente.
- Negativos: quando a cópula indica que o predicado não é aplicável ao sujeito.
O Mataka não é um bom estudante.
Quanto inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito, os juízos podem ser:
- Analíticos: quando o predicado está compreendido no sujeito.
O quadrado tem quatro lados iguais.
- Sintéticos: quando o predicado não está contido na noção do sujeito.
Os bitongas são avarentos.
Quanto à dependência ou não da experiência, os juízos podem ser:
- a priori: quando a sua veracidade pode ser conhecida independentemente da experiência.
O quadrado tem quatro lados iguais.
- a posteriori: quando a sua veracidade só pode ser conhecida através da experiência.
Os coreanos são baixos.
Quanto à relação ou condição, os juízos podem ser:
- Categóricos: quando há afirmação ou negação sem reservas. Exprimem uma correspondência clara e sem condições entre o enunciado e aquilo que referem.
O Homem é mortal.
- Hipotéticos: quando há afirmação ou negação sob condição (condicional).
Se não fores, também não vou.
- Disjuntivos: quando a afirmação de um predicado exclui os outros (incompatibilidade).
Kwessane estuda ou vê televisão.
Quanto à modalidade, os juízos podem ser:
- Assertórios: quando enunciam uma verdade de facto, embora não necessária logicamente.
A Lurdes Mutola é uma atleta exemplar.
- Problemáticos: quando enunciam uma possibilidade.
Os bitongas são provavelmente bons apreciadores de mathapa.
- Apodíticos: quando são necessariamente verdadeiros; o predicado convém necessariamente ao sujeito.
O triângulo tem três lados.
Quanto à matéria, os juízos podem ser:
- Necessários: quando o predicado convém e não pode não convir ao sujeito.
O círculo é redondo.
- Contingentes: quando o predicado convém de facto ao sujeito, mas poderia também não convir.
O Pedro passou com distinção no exame.
- Impossíveis (ou absurdos): quando o predicado não pode convir ao sujeito.
O círculo é quadrado.
Os quatro tipos de proposições categóricas
Ao combinarmos a qualidade e a quantidade, encontramos quatro tipos de juízos que irão desempenhar um papel importante na teoria das inferências, que abordaremos mais adiante.
A sua importância justifica que sejam simbolizados pelas vogais A, E, I, O.
Antes de definir estes juízos, importa ainda dar a conhecer a forma como se trabalham os argumentos em lógica, ou seja, a lógica trabalha com argumentos formalizados, substituindo por símbolos os conteúdos das proposições ou juízos que compõem o argumento, abstraindo-se do conteúdo das mesmas e trabalhando apenas a sua forma. Na lógica aristotélica, que vamos estudar de seguida, Aristóteles definiu que cada um dos elementos de uma proposição seria substituído por um só símbolo.
Observa:
A Clara é uma menina muito bondosa.
(Sujeito) (Cópula) (Predicado)
Pala formalizar este juízo, substituem-se os termos do mesmo por letras ou símbolos e obtém-se a forma de proposição:
Sujeito Cópula Predicado
S é/não é P
As formas «S» e «P» podem ser utilizadas em substituição do Sujeito e Predicado de qualquer proposição, independentemente do conteúdo da mesma. (S é P / S não é P)
Vejamos agora, então, a classificação da combinatória das proposições categóricas juízos no que se refere à quantidade e qualidade.
Universais afirmativos (A): são da forma "Todo S é P»
Ex.: «Todos os moçambicanos São africanos.»
Universais negativos (E): são da forma «Nenhum S é P.»
Ex.: «Nenhuma ave tem quatro patas»
Particulares afirmativos (I): da forma «Algum S é P.»
Ex.: «Alguns filósofos são loucos.»
Particulares negativos (O): são da forma «Algum S não é P.»
Ex.: «Alguns filósofos não são loucos.»
Estas vogais são tomadas das duas primeiras vogais da palavra AFIRMO e das duas únicas vogais da palavra «NEGO».
Em resumo:
Tipo | Qualidade | Quantidade | Exemplo |
A | Afirmativa | Universal | Todo o S é P. Todos os cães são companheiros. |
E | Negativa | Universal | Nenhum S é P. Nenhum cão é companheiro. |
I | Afirmativa | Particular | Algum S é P. Alguns cães são companheiros. |
O | Negativa | Particular | Algum S não é P. Alguns cães não são companheiros. |
Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçamique, Maputo, 2010.
Comentários