Geologia de Moçambique: Estrutura geológica e localização dos jazigos
Geologia (de Moçambique)
As cartas ou mapas geológicos mostram-nos aspectos importantes relativos à geologia de uma determinada região ou país. Indicam-nos o tipo e distribuição de afloramentos rochosos.
Neste tema estudará os seguintes aspectos:
- Estrutura geológica;
- Precâmbico Inferior e Superior;
- Fanerozóico: Karroo, Jurássico, Cretácico e Quaternário;
- Principais rochas e minerais – suas áreas de ocorrência;
- Solos: tipos e sua localização.
A primeira Carta Geológica de Moçambique foi publicada em 1929 e foi preparada pelo Engo Freire de Andrade, a qual possuía dados quer geológicos quer minerais. Neste período foram estudados vários depósitos de minerais. Em 1948 e com a participação de empresas estrangeiras iniciou-se a prospecção de petróleo e gás natural na bacia sedimentar de Moçambique. Estes trabalhos continuaram até aos nossos dias, contudo, Moçambique continua a ser um país insuficientemente conhecido no domínio geológico.
ING, Boletim Geológico, Maputo, 1985
Os trabalhos de prospecção de petróleo continuam na actualidade. A geologia de Moçambique está bastante ligada à do continente africano em geral e ao da África Austral em particular.
Barca e Santos, Geografia de Moçambique, Maputo, 1992
Geologia – ciência responsável pelo estudo da origem, da história, da composição e das características do planeta Terra. Esta ciência também se dedica ao estudo das alterações que se vão verificando na crusta terrestre ao longo do tempo. |
Estrutura Geológica
No contexto geológico, Moçambique desenvolveu-se a partir da conjugação de fenómenos e processos exógenos e endógenos. Formaram-se unidades tectónicas, designadamente cratões arcaicos, zonas de dobramento e zonas de abatimento. No processo registaram-se fases de deformação, destruição e consolidação da crusta.
Vocabulário:
Exógenos – referem-se aos processos externos (ex.: ventos).
Endógenos – referem-se aos fenómenos internos (ex.: vulcões).
As principais unidades geológicas de Moçambique que irás estudar são: o Precâmbrico, subdividido em Inferior e Superior; o Fanerozóico e suas subdivisões: o Karroo, o Jurássico, o Cretácico e o Quaternário.
1. Precâmbrico
Precâmbrico – refere-se aos terrenos mais antigos, sem fósseis (antes da era primária).
O Precâmbrico representa os terrenos mais antigos de Moçambique (entre 3500 a 2800 M.a). Estes complexos formaram os complexos rochosos do chamado Cratão Rodesiano (Cratão do Zimbabwe), no Precâmbrico inferior, e o Cinturão Moçambicano (Mozambique Belt), no Precâmbrico Superior. Estes territórios ocupam cerca de 2/3 do país, com maior dispersão nas regiões norte e centro, principalmente nas províncias de Manica, Sofala, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado.
Sob o ponto de vista económico, nas formações precâmbricas ocorrem o ouro, cobre, asbestos, talco e argilas.
2. Fanerozóico
É uma era marcada pela ocorrência de rochas do Supergrupo do Karroo e pela deposição de formações Vulcano-sedimentares do Jurássico Superior e do Cretácico. Esta actividade continuou durante o Terciário e Quaternário, originando sedimentação e vulcanismo.
Era – a maior divisão de tempos geológicos: Era Primária, Secundária, Terciária e Quaternária. Sedimento – depósito natural cuja formação é devida à acção dos agentes externos (vento, chuva, rio, mar, glaciar). Sedimentação – formação de sedimentos. Magma – massa mineral profunda, situada numa zona de temperatura muito elevada e de altas pressões, onde opera a fusão das rochas. Magnetismo – fenómeno de formação do magma. |
2.1. Karroo
Os terrenos deste supergrupo são constituídos por espessas formações sedimentares e vulcânicas. Essas formações estão depositadas em fossas tectónicas, principalmente nos rios Lunho, Luângua e Zambeze, e em depressões marginais entre as regiões de Nacala e Angoche.
A deposição do Karroo fez-se em quatro andares. Em primeiro lugar ocorreram os depósitos glaciogénicos – Grupo de Dwyka. Em seguida aparecem os depósitos periglaciares com sedimentos argilosos e orgânicos de origem lacustre – Grupo de Ecca. No terceiro andar ocorrem sedimentos de origem fluvial – Grupo Beaufort. Esta sequência culmina com o Grupo de Stomberg (Karroo Superior).
Sob o ponto de vista económico, o Grupo de Ecca é o mais importante por apresentar, no Ecca Médio, camadas produtivas de carvão, resultantes da sedimentos de origem vegetal provenientes da flora de Gondwana. Em Moçambique estas camadas encontram-se distribuídas em seis bacias sedimentares, nomeadamente Chicoa-Mecúcuè, Sananguè-Mefidezi, Moatize-Minjova, Niassa, Lugenda e Mepotepote (Afonso et al. 1998). As reservas de carvão do distrito de Moatize, em Tete, estimam-se em cerca de de 5500 milhões de toneladas. Nos distritos de Marávia e Zumbo, da mesma província, as reservas estimam-se em 3560 milhões de toneladas.
Para além do Ecca Médio existem o Ecca Inferior e o Ecca Superior, formados procedimentos de natureza fluval e sedimentos da fácies com depósitos de planícies de inundação, respectivamente.
As formações geológicas do Karroo albergam, para além do carvão, ágatas, bentonite e perlite, nas províncias do Niassa, Cabo Delgado, Tete, Manica e Sofala. As formações de ágatas estão relacionadas com eluviões de basalto e riólito do Karroo Superior em Libombos, Canxixe, Doa, Lupata e Zungue (Afonso et al. 1998).
2.2. Jurássico
O Jurássico sedimentar em Moçambique dividiu-se em unidades, a sabe:
- Formações de grés e conglomerados de Tete;
- Calcários de Nampula e Cabo Delgado;
- Grés inferior de Lupata.
· No período do Jurássico Superior, a flexura do bloco da África Oriental, na sequência do desmebramento do continente Gondwana, deu origem a uma transgressão marinha que atingiu o Norte de Moçambique. Tendo ocorrido a deposição de sedimentos constituídos por calcários de grão fino e médio, por vezes grosseiro, entre Nacala e Mossuril e na bacia do Rio Rovuma.
2.3. Cretácico
A sedimentação e a actividade magmática desta época estão ligadas a eventos que deram origem ao oceano índico. A tectónica ligada a estes acontecimentos originou bacias de afundimento, devido ao abaixamento dos blocos, por sistemas de falhas e bacias marinhas do mar aberto aos litorais (Afonso et al. 1998: 67).
No Cretácico, ocorrem dois ciclos transgressivos. O primeiro ciclo, denominado Eocretácico, iniciou-se na bacia do alto Zambeze, com sedimentação do tipo continental. Neste período formaram-se sedimentos grosseiros, depositados na bacia do Zambeze, por cima dos riólitos de Lupata, em Tete.
No Neocretácico, o segundo ciclo transgressivo, destacam-se a formação de Gudja, do rio Sava ao rio Zambeze, constituída por grés fino, intercalado por argilitos cinzentos.
A actividade ígnea do Cretácico é representada por carbonatitos, kimberlitos e lavas alcalinas.
Nas formações cretácicas ocorrem hidrocarbonetos (Pande e Temane, Província de Inhambane, e Búzi, em Sofala), ouro (no sul da serra de Gorongosa) titanomagnetite (Lupata) e calcário (a 100 Km a oeste da cidade da Beira);mas também fluorite, bauxite, e corindo.
2.4. Quaternário
É a era geológica mais recente (cerca de um milhão de anos). Corresponde à era do aparecimento do Homem.
As formações desta era são constituídas por sedimentos que se depositaram, aquando dos avanços e recuos do mar, sobre a plataforma sedimentar, parcialmente desnivelada por movimentos verticais.
Afonso et al., 1998:79 (Adaptado)
Destacam-se quatro (4) fases de avanço e recuo do mar, nomeadamente:
· Uma transgressão marinha responsável por uma sedimentação aluvial e lacustre que atingia mais de 100 Km a Oeste do actual traçado da costa.
·
Uma regressão, à qual está ligado um segundo nível lacustre a leste do primeiro.
· Ocorrência de inundações fluviais recobrindo ligeiramente a plataforma de abrasão marinha.
· Ocorrência de depósitos interdunares devido à formação dos novos cordões dunares. Entre a zona influenciada por marés e os lagos desenvolverem-se lagunas invadidas por mangais.
Os terrenos do Quaternário e das formações recentes estão distribuídos, de sul para norte, pelas seguintes unidades regionais:
- Bacia ao sul do rio save;
- Zona centro-costeira que abrange o paleodelta e o delta actual do rio Zambeze;
- Zona centro-oeste compreendida entre a bacia do médio Zambeze e a bacia do rio Chire.
- Franja costeira de Nacala e Pebane;
- Bacia do Rvuma;
- Zona de Zânguè-Urema.
A importância económica das formações do Quaternário reside na ocorrência de importantes jazigos de ouro aluvial, areias pesadas, diatomito, granadas, argilas e areias.
Localização dos jazigos
- Ouro Aluvial – rios Revuè, Inhamucarara, Musa, Chimesi, Mimosa e Chua.
- Areias Pesadas Úteis – quase ao longo de toda costa moçambicana, nas praias e dunas. Destacam-se os jazigos da Ponta do Ouro, Inhaca, Limpopo, Závora, Zalala, Moebase, Moma e Angoche.
- Diatomito – é representado por dunas que se desenvolvem ao longo da faixa costeira. Merecem importância os depósitos da Manhiça, Boane, Macia Manjacaze.
- Granadas – encontram-se nos rios Namecovo, Namelade, e Nametala.
- Argilas – ocorrem em Umbelúzi, Namaacha, Salamanga, Sabié, Incomati, Xinavane, Beira, Dondo, Lichinga, Ancuabe, e Nampula, entre outros locais.
- Areias – ocorrem em vastos depósitos ao longo dos rios, dunas interiores e ao longo da costa. As areias mais estudadas localizam-se em Marracuene.
NONJOLO, Luís Agostinho; ISMAEL, Abdul Ismael. G10 - Geografia 10ª Classe. Texto Editores, Maputo, 2017.
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