Indústria e Comércio

3. Indústria e Comércio

3.1. Evolução da indústria e comércio no mundo

Conceito de indústria
A maior parte das matérias fornecidas pela exploração directa do meio ambiente requerem transformações antes de serem consumidas. Por exemplo, as fibras têxteis são fiadas e tecidas; as argilas cozidas para fazer a cerâmica. Os minérios nunca são metais no estado puro, pois devem ser reduzidos, fundidos para dar semiprodutos que servirão para uma grande quantidade de utilizações ulteriores. "Tudo isso espelha que a maior parte dos bens primários necessitam de transformação para o seu imediato consumo.

Mas o que é a indústria?
Etimologicamente indústria significa actividade. No sentido lato, indústria consiste na transformação de matéria-prima em produtos acabados ou semiacabados. Nesta, inclui-se o artesanato, ou seja, a produção doméstica ou caseira. Assim, a indústria propriamente dita, isto é, em sentido restrito, refere-se ao conjunto de processos ordenados e metódicos que o Homem emprega para transformar as matérias-primas em objectos úteis, para satisfação das suas necessidades.

Por outros termos, a indústria está relacionada com a utilização de meios mecânicos e com a produção em larga escala. É aí que se distingue do artesanato, cujas capacidades e horizonte de trabalho são mais restritos.

O estudo da organização territorial da indústria é possível através de muitas ciências, entre as quais cabe um papel fundamental Geografia Económica, através da Geografia da Indústria, que é um ramo da primeira que trata das localizações espaciais da produção industrial, ou seja, que estuda a distribuição geográfica dos modos de produção industrial de acordo com as condições gerais - territoriais, económicas, técnicas e naturais de cada pais ou região.

Conceito de comércio
Por comércio deverá aqui entender-se a actividade económica que consiste na troca ou venda de produtos, mercadorias, valores e ou prestação de serviços.
actividade comercial quase sempre esteve e continua a estar estritamente ligada à actividade industrial. Apesar disso, a génese mostra que esta precedeu o comércio.

A actividade comercial vem de longa data, pois esta última decorre da incapacidade do Homem ser auto-suficiente no que diz respeito à satisfação das suas necessidades.
Nos primórdios da Humanidade, o próprio Homem é quem se responsabilizava por produzir os bens de que necessitava para a sua sobrevivência. Porém, quando não conseguia produzi-los, ele trocava um produto que dispunha em abundância pelo produto de que necessitava. Esse processo de troca directa de produtos é designado por escambo. Pensa-se que o termo câmbio terá surgido a partir desta palavra.

Com a ampliação do horizonte geográfico e as exigências crescentes das suas necessidades, este sistema entrou pouco a pouco em desuso, isto porque a troca directa dos produtos trazia algumas desvantagens, tais como: dificuldade de transporte de grandes quantidades de produtos até ao local de trocas (mercado); nem sempre o Homem conseguia trocar o seu produto por aquele de que necessitava; o estabelecimento dos valores dos produtos era bastante problemático.

Posteriormente, o Homem introduziu a moeda, instrumento este que veio a permitir maior facilidade nas trocas. Com efeito, a possibilidade do alargamento das trocas tornou-se bem maior, sendo este sistema substituído pela actividade comercial. Deste período inicial até aos séculos XV e X VI, o comércio era realizado a nível local e cingia-se apenas a artigos e ou produtos de alto valor e pequeno volume, excepto os produtos do comércio triangular.
Com a Revolução Industrial, o comércio ganha um impulso qualitativo e quantitativo em todo o mundo, pois já há condições favoráveis que estimulam as transações comerciais.

A crescente procura de produtos para satisfazer as necessidades da população, que crescia a um ritmo galopante como resultado do progresso tecnocientífico nos campos da Medicina e agricultura, fez incrementar o consumo das matérias-primas por parte das indústrias, acelerando assim o fluxo comercial.

O comércio mundial conheceu, nas últimas décadas, um crescimento explosivo. Entre 1970 e 1992, tanto as importações como as exportações incrementaram exponencialmente. Entre os factores que justificam a grande expansão do comércio mundial, destacam-se: o forte crescimento económico e demográfico, a diversificação da produção industrial, a demanda pelas populações como resultado da melhoria do nível de Vida, o desenvolvimento e modernização dos transportes e comunicações e a eficácia crescente dos serviços financeiros auxiliares.

De facto, nos dias actuais, as economias nacionais são bem mais abertas para o exterior que no passado. Grande parte dos produtos consumidos num pais vem de fora. Por outros termos, podemos igualmente adquirir, desde que tenhamos dinheiro para tais produtos electrónicos sofisticados, fabricados no Japão ou nos EUA, na China, etc. O comércio internacional gera então entre os países uma corrente de importações (compras) e de exportações (vendas), cujo valor determina em cada país a balança comercial.

Por balança comercial entende-se a diferença entre o valor das exportações e o de importações.
Portanto, a balança comercial diz-se positiva se o valor das exportações for superior ao das importações, e negativa no caso inverso. Se o valor das exportações for igual ao das importações, diz-se balança comercial nula ou equilibrada.

3.1.1. Etapas do desenvolvimento da indústria

De um modo geral, reconhecem-se normalmente três estágios para a transformação de matérias-primas em produtos elaborados: o artesanato, a manufactura e a indústria (ou maquinofatura).

artesanato é o estágio mais primitivo, conhecido desde há milhares de anos, e no qual não há divisão de trabalho, ou seja, o artesão realiza sozinho todas as tarefas necessárias para obter o produto final. Por sua vez, a manufactura é o estágio intermediário entre o artesanato e a indústria, prevaleceu na Europa Ocidental nos séculos XVI, XVII e XVIII, existindo ainda hoje principalmente em algumas áreas atrasadas de países em vias de desenvolvimento. Finalmente, a indústria surgiu com a Revolução Industrial nos fins do século XVIII e XIX e predomina até aos nossos dias.

Desde logo a indústria caracterizou-se por grande divisão de trabalho, com a consequente especialização do trabalhador em actividades especificas. Mas o facto mais marcante da sua aparição foi o emprego de máquinas, movidas por diversas fontes de energia.

A indústria do Paleolítico ao Neolítico
A actividade industrial decorre desde tempos remotos. Esta, paralelamente a tantas outras actividades económicas, surge na tentativa de proporcionar bem-estar à Humanidade.

Desde a Pré-História que o Homem transforma matérias-primas, extraídas do subsolo ou recolhidas da superfície da Terra, em produtos de natureza diferente para a satisfação das suas necessidades. Os vestígios mais antigos de indústria surgiram nos calhaus de sílex talhados pelo Homem primitivo. Não há dúvida de que os homens primitivos eram verdadeiros artistas no talhe do sílex, sendo bem possível que se tenham transmitido as técnicas de fabricação, como através delas tenha sido possível adquirir posição no grupo graças ao domínio de tal técnica.

O fabrico de instrumentos foi assim o primeiro passo dado pelo Homem para dominar a Natureza. Foi assim que o Homem fabricou instrumentos a partir de pedra, pau e osso em objectos capazes de cortar, furar ou raspar para os utilizar na caca ou pesca e até mesmo como defesa contra os animais ferozes. As técnicas foram evoluindo, desde a técnica de lascagem da pedra (talhe) no Paleolítico, até técnica de polimento no Neolítico, de onde resultaram instrumentos mais complexos e de melhor acabamento, aos quais se juntaram instrumentos de osso e madeira também de acabamento complexo.

sedentarização e a Vida agrícola do Neolítico levam ao aparecimento de novos inventos como a cerâmica, a cestaria e a moagem. Outra inovação do Neolítico foi a tecelagem, a qual juntamente com a cerâmica, cestaria e moagem, constituíram o conjunto das formas de produção de Neolítico. O Homem inventa a roda, instrumento este que contribuiu para alterar profundamente as condições da sua Vida. Estas actividades eram desenvolvidas a nível doméstico ou familiar e tinham por objectivo responder às necessidades do agregado familiar. 

Embora não se possa falar propriamente em indústria nesta época, a verdade é que já há uma transformação de matéria-prima, através de técnicas (embora rudimentares) e com base em energia muscular, do vento e uso de mão-de-obra, características inerentes ao conceito de indústria. Assim, podemos dizer estar perante uma indústria doméstica, também chamada Caseira, que consiste na produção de artigos de uso familiar produzidos pela própria família na sua casa. Actualmente, este tipo de indústria está ainda presente em algumas comunidades.

Indústria na Antiguidade
No IV milénio a. C., descobre-se a metalurgia (cobre, bronze e depois o ferro), o que veio revolucionar todas as técnicas até então empregues. Para tanto, o aumento da produção no campo liberta do trabalho agrícola alguns dos seus membros, que se tornam artesãos e passam a dedicar-se por tempo inteiro às artes de Olaria, tecelagem e marcenaria e mais tarde também ourivesaria e metalurgia, o que conduz produção de uma grande gama de objectos, bem como a invenção de novos processos de fabrico. É a especialização artesanal que vai dar lugar à produção com vista troca ou venda de produtos, estimulando assim o incremento da actividade comercial.

Não existiam ainda máquinas, pelo que tudo era feito, numa fase inicial, custa da força muscular humana e, mais tarde, com o contributo do vento e da água. Datam deste período a invenção do torno, dos veículos de rodas, do arado e da vela do navio.

Na Grécia Clássica, entre os séculos VI e IV a. C., a produção industrial concentrava-se em dois tipos: nas oficinas estatais, onde se produziam tecidos, pergaminho e papiro, utilizando como mão-de-obra homens livres e escravos, e nas oficinas de produção livre, nas quais, pela compra de licença ao Estado, os proprietários (artesãos) fabricavam azeite, cerveja, papiro e tecidos.

Entre os séculos I e V d. C., no Império Romano a actividade produtiva exercia-se em pequenas oficinas onde se produziam tecidos, cerâmica, vidro, objectos metálicos e artigos de ourivesaria e joalharia. Existia também uma desenvolvida indústria de extracção de cobre, estanho e chumbo.

Era a época da pequena indústria ou artesanato, que como vimos, consistia e consiste ainda hoje na elaboração de objectos a partir de matérias-primas existentes na região ou nas proximidades numa pequena oficina ou na própria habitação. Tinha por objectivo a troca ou venda dos produtos.

Indústria na Idade Média
Durante a Idade Média, surge a indústria de ofício, ou seja, a pequena indústria de domicílio que se caracterizava fundamentalmente pelo artesanato. Esta concentrava-se junto aos bairros, cujas ruas tomavam o nome do grupo social que aí se fixava (Rua dos Sapateiros, dos Fanqueiros, dos Padeiros, etc.) e que formavam associações de carácter profissional. Cada associação ou corporação de ofícios tinha um regulamento escrito que estabelecia os horários, as condições de trabalho, os processos de fabrico, os preços e o número de trabalhadores.

Os membros das corporações estavam organizados segundo uma rigorosa hierarquia que ia desde a categoria de aprendiz, entrada para a profissão, até de mestre, topo da carreira, a qual era atingida após vários anos de trabalho na categoria intermédia, de oficial, e a prestação de provas. Apenas os mestres podiam ser proprietários das oficinas e como membros das corporações dificultavam a obtenção do grau de mestre, como forma de evitar a concorrência e dispor de mão-de-obra barata. Portanto, era a criação de verdadeiro artesanato, que já no período anterior tinha lançado as suas raízes.
Fig.3: Padeiro uma actividade artesanal importante na Idade Média.

Indústria na Idade Moderna
A influência das doutrinas económicas mercantilistas dos finais dos séculos XVII, de Colbert, Adam Smith e Stuart, proporcionaram novas perspectivas indústria, criando a indústria de manufactura, baseada nas corporações de ofícios manuais herdados da Idade Média.
O grande volume de negócios veio, porém, modificar as técnicas industriais, podendo assim afirmar-se que na Idade Média se lançaram os fundamentos do capitalismo, que terminou com o triunfo do progresso industrial.

Foi, portanto, o advento da pequena empresa industrial, em substituição do artesanato ou fabrico tradicional, com a concentração dos artífices em instalações apropriadas (factory system) e a coordenação das técnicas de produção manuais que conduziu ä produção em massa.

Assim, surge a regularidade da produção e o consequente aumento de rendimentos que vieram permitir a comercialização dos produtos de luxo como a seda, veludos, tapetes, etc., colocando o comércio na dependência da indústria. Foi com a indústria têxtil que se desencadeou a mecanização das fábricas, dado que a maquinaria têxtil era a mais barata e a que tinha maior procura crescente dos artigos produzidos, o que está também ligado ao aumento populacional e melhoria das trocas comerciais. Datam desta época os grandes inventos que provocaram urna verdadeira transformação tecnológica, em que sobressaem a lançadeira volante de John Kay (1733), qual se seguem a roda de fiar de James Hargreaves (1764), a fiandeira mecânica de Samuel Crompton (1779) e o tear mecânico de Edmund Cartwrigh (1785), não como resultado de investigações no campo da ciência mas como fruto do trabalhos de empiristas. Paralelamente a estas invenções, a invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1777, constitui uma das mais importantes deste período. Era o advento da Revolução Industrial, que abre portas na Grã-Bretanha.

3.1.2. Revolução Industrial

A Revolução Industrial refere-se ao conjunto de profundas transformações tecnológicas, económicas e sociais que ocorreram na Inglaterra na segunda metade do século XVIII.

Este processo, que se iniciou na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, expande-se por toda a Europa, especialmente pela França e Bélgica, na primeira metade do século XIX, Alemanha e Rússia durante a segunda metade do século XIX e fora da Europa, pelos Estados Unidos da América e Japão na segunda metade do século XIX e princípios do século XX. Contudo, no século XX, apos a II Guerra Mundial, expandiu-se por todos os hemisférios quando, em ritmo acelerado, países como a China, a Índia, o Brasil, o México, a Austrália, a África do Sul e outros se começaram a industrializar.

A Revolução Industrial introduziu no processo produtivo várias técnicas que foram diminuição a necessidade de mão-de-obra e que possibilitaram substancialmente a aceleração e aumento da produção de mercadorias. A oferta foi largamente ampliada e diversos produtos, antes apenas consumidos nos países mais desenvolvidos e por pessoas das classes mais altas, passaram a ser consumidos escala mundial pela classe média e até pela classe pobre. Dai ser um dos aspectos-chave responsável pelo moderno processo de globalização.

Causas da Revolução Industrial

Inúmeros foram os factores condicionantes da eclosão da Revolução Industrial. Assim, este fenómeno é considerado por alguns investigadores como um dos passos mais importante da civilização dos tempos modernos pelos reflexos que teve nos diversos campos da actividade humana. Esta revolução surge na Europa, concretamente no Reino Unido, onde desde o século XVII o incremento do comércio externo originou uma burguesia endinheirada, pronta a investir na indústria dado o seu espírito de aventura e a existência de um vasto mercado interno e externo (colónias). A somar a estes factores, a existência de abundantes matérias-primas, a situação geográfica e política privilegiada (estabilidade e independência), as boas redes de transportes e comunicações e a existência de mão-de-obra contribuíram substancialmente para a eclosão da Revolução Industrial. Foi neste conjunto de factores favoráveis que os novos inventos técnicos surgiram, trazendo consigo a Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII.

Assim, das causas responsáveis para a eclosão deste fenómeno destacam-se:
  • 1.     A riqueza do subsolo inglês (carvão e ferro) — a abundância de minérios de ferro e carvão mineral permitiram uma produção abundante de ago e ferro, indispensáveis ao fabrico de maquinarias diversas, bem como a disponibilidade de fontes energéticas para o funcionamento das indústrias existentes na época. Por isso, alguns autores consideram que a riqueza do solo inglês em carvão mineral e hulha foram o pão da indústria, tanto mais que para além de serem aplicadas como matéria-prima, desempenhavam um importante papel energético.
  • 2.     A acumulação de enormes capitais – como resultado do intenso comércio externo, sobretudo com as suas colónias, a Inglaterra tornou-se a maior potência comercial e colonial do mundo e investiu os dividendos deste comércio na indústria.
  • 3.     A posse de um gigantesco império colonial – a metrópole conseguiu obter matérias-primas (minerais e agrícolas) através das suas colónias. Como possuía um poderoso mercado para a colocação dos seus produtos industriais, acumulou riqueza.
  • 4.     Revolução agrícola – o desenvolvimento da agricultura proporcionou, por um lado, o aumento acelerado da produção agrícola, capaz de alimentar uma população em rápido crescimento e cada vez menos ligada agricultura, e, por outro, a libertação de muita mão-de-obra rural de que a indústria necessitava. Na senda desta, constatou-se que a agricultura exigia novos instrumentos técnicos que estimulassem maior produção e produtividade. Dai surgiram novos instrumentos que possibilitaram maior produtividade agrícola e asseguraram a satisfatório das necessidades da população.
  • 5.     Revolução demográfica — este foi um dos factores que aumentou extraordinariamente a procura de produtos fabricados e pós disposição da indústria vastos recursos humanos, com uma forte proporção de jovens, ansiosos por abandonarem os campos e procurarem na actividade industrial uma ocupação mais bem remunerada.
  • 6.     Invenções técnicas – assiste-se também nesta altura à sucessão de grandes invenções técnicas — foram inventadas e aperfeiçoadas diversas máquinas, como, por exemplo, as máquinas de tecer, fiar, cardar e a máquina a vapor, e novos métodos de produção de ferro e de aço, etc.
O trabalho mecânico, porém, exigia instrumentos resistentes e as várias peças feitas em madeira tiveram de ser substituídas pelo ferro, o que veio a provocar urna intensificação da mineração deste metal e também do carvão.
  • 7.     A situação geográfica – a boa localização geográfica junto das vias de transportes e comunicação - (rios navegáveis e acesso a bons portos, por exemplo) com fácil acesso às vias mais importantes do comércio mundial, proporcionaram também um comércio muito activo, a que se soma grande experiência técnica, como por exemplo na navegação marítima (indústria naval principalmente).
  • 8.     Espírito de iniciativa – dispor de capitais, matérias-primas abundantes, vastos mercados, riqueza do subsolo em minérios, etc., nada seria possível se os ingleses não tivessem espírito de iniciativa. Com efeito, foi graças a esse espírito que eles foram bem-sucedidos.

Fases da Revolução Industrial

A Revolução Industrial subdivide-se em três fases distintas relacionadas com as fontes de energia empregadas, nomeadamente: a fase do carvão, ferro e máquina a vapor (Era da força mecânica), a fase da electricidade e do motor de explosão (Era da energia) e a fase da energia atómica e da automatização (Era da energia nuclear e da cibernética).

1ª Fase: A Força Mecânica (1750-1875)
Designada por alguns autores como a fase da revolução do carvão-ferro e da máquina a vapor, marcou a passagem da manufactura para a maquinaria. Na sua primeira fase, a Revolução Industrial foi essencialmente mecânica, para responder à crescente procura, resultante do acentuado crescimento demográfico que exigia um maior consumo de bens primários, bem como secundários. Assim, a indústria teve de melhorar a sua produtividade, fazendo por isso um apelo às máquinas. A indústria têxtil foi a primeira beneficiária desta transformação com a invenção da máquina de tecelagem por Jonh Kay em 1733.
    Surgem várias invenções como a máquina de fiar, o descaroçador de algodão, entre outras. Porém, a máquina a vapor foi a conquista mais importante da la fase da Revolução Industrial. Permitiu passar das fontes de produção de energia mecânica, tal como a tracção animal e a roda de água, para o carvão e a hulha, que se tornam a nova fonte de energia. Surgiu, assim, uma nova indústria, a siderurgia.
   A maior parte das indústrias localizavam-se junto as bacias carboníferas devido à dificuldade de transporte do carvão. Por vezes, estas podiam localizar-se ao longo dos cursos de água para aproveitar a energia hidráulica e até nas florestas, dado que aí aproveitavam a energia proveniente da biomassa – lenha e carvão vegetal.
    Inicia-se uma revolução nos transportes com a invenção do navio a vapor e mais tarde, da locomotiva a vapor que irá resolver o grande problema dos transportes e comunicações internos.
   Este facto, aliada invenção da debulhadora e da ceifeira mecânica e melhores arados, contribuíram para o progresso da agricultura. Nesta mesma altura surgem os movimentos sindicais e abrem-se os canais do Suez e Panamá. A Revolução Industrial também contribui para o aumento da importância das actividades bancárias devido à necessidade de capital para investimento. É também nesta altura que nascem as companhias de seguros.

2ª Fase: Revolução energética (1880-1950)
Esta fase é também designada por Revolução da electricidade e do motor de explosão, e compreende dos finais do século XIX primeira metade do século XX, quando são descobertas novas fontes energéticas como a electricidade, o petróleo e o gás natural decorrentes da invenção do motor de explosão, a turbina e o dínamo que vão revolucionar novamente as indústrias, acabando com o condicionalismo energético, devido dificuldade de exploração e de transporte de carvão que obrigava as indústrias a localizarem-se junto às fontes de energia (bacias carboníferas). Assim sendo, estas deslocam-se para as cidades onde encontram mercados e mão-de-obra.

O petróleo não só constituía fonte energética, como também desempenhava um papel preponderante no fornecimento de matéria-prima para a indústria química, fornecendo fibras sintéticas, matérias plásticas, amoníaco, tintas, etc. É, portanto, o eclodir de novas indústrias (metalurgia do alumínio, indústria química) e da em massa estimulada pelo incremento e evolução dos meios de transportes (invenção do automóvel, do navio e do avião) e expansão dos mercados. Assim, surge a indústria moderna nos países desenvolvidos, caracterizada pela produção em larga escala, fabrico em série, trabalho em cadeia, estandardização, especialização, publicidade para alcançar e estimular a venda e pesquisa com intuito de lançamento de novos produtos.
Fig.7: A eletrificação marcou a 2.a fase da Revolução Industrial.

3ª Fase: Revolução da energia atómica e da automatização
Esta fase é também denominada por Era da energia nuclear, da electrónica, da automatização e dos computadores. A investigação não para e com ela novas técnicas vão sendo descobertas.

É a era da cibernética, também conhecida por revolução científica. Iniciou-se após a II Guerra Mundial, chegou aos nossos dias e continuará, a menos que os progressos tecnológicos nos coloquem perante nova fase da Revolução Industrial. A característica marcante desta fase é a submissão da mecanização pela automação e automatização. O trabalho humano é substituído pelo robot e/ou computador. O trabalho que até há pouco tempo era feito por um grande grupo de operários passa a ser feito por um único operário cuja tarefa é carregar num botão.

Nesta, assiste-se ao desenvolvimento da indústria electrónica, pois o seu campo de acção é cada vez mais vasto, abrangendo as telecomunicações, radiodifusão, televisão, radioastronomia, radar, electromedicina, ajuda navegação marítima e aérea, sistemas de telecomando e media, sistemas de investigação científica, etc.

Hoje em dia, com a possibilidade de esgotamento do petróleo e os problemas da energia nuclear, o Homem procura novas alternativas. As energias renováveis (solar, eólica, geotérmica, bioenergia, etc.) são cada vez mais uma preocupação universal.

Consequências da Revolução Industrial

A Revolução Industrial teve consequências socioeconómicas e ambientais, que se sentiram, em especial, ao nível da demografia, da agricultura, dos transportes e do desenvolvimento urbano.

Assistiu-se a um vertiginoso crescimento demográfico como resultado dos progressos técnicos e científicos alcançados nos campos da agricultura e Medicina. Isto contribuiu substancialmente para a supressão da fome, epidemias e, sobretudo, uma redução das taxas de mortalidade e consequentemente longevidade da Vida humana, que constituiu uma verdadeira explosão demográfica. O bem-estar das populações melhorou bastante relativamente a épocas anteriores, isto é, os homens passam a desfrutar de melhores condições de Vida.

Na agricultura, a Revolução Industrial trouxe novos instrumentos técnicos que permitiram incrementar a produção e produtividade. Assim, a introdução de diversa maquinaria agrícola, de novas culturas e novos sistemas de irrigação, o aumento de terras de cultivo proporcionada pela mecanização e a dos meios de transportes, constituíram factores indispensáveis para a maximização da produção agrícola, uma vez que há necessidade crescente de satisfação de alimentos de uma população que crescia e cresce a um ritmo acelerado.

No ramo dos transportes, assiste-se uma profunda transformação. Iniciada pela máquina a vapor, os transportes ferroviários, terrestres, marítimos e aéreos permitiram o contacto imediato com o resto do mundo possibilitando a ampliação do horizonte geográfico. Estas inovações vêm assegurar o escoamento de produtos diversificados do local de produção para o mercado consumidor, quebram-se as barreiras geográficas, facilitando assim o incremento do fluxo do comércio nacional, regional, continental e mundial.

No desenvolvimento urbano, é inquestionável a contribuição da Revolução Industrial, isto porque esta veio criar novas cidades de grande concentração populacional e industrial. Assim, os artesãos que viviam numa pequena aldeia no meio rural, procuram agora trabalho nas fábricas e comércios das cidades, o que os leva a migrarem para os centros urbanos. O tecido urbano expande-se em seu redor, surgindo assim cidades de maior diâmetro; por exemplo, em 1800 a cidade de Londres tinha um diâmetro de 10 km, já em 1914 atinge os 35 km e em 1960, os 70 km e dai em diante foi crescendo vertiginosamente. Com efeito, desde os tempos idos até hoje, constata-se que a expansão das cidades pelas áreas suburbanas está frequentemente ligada ao crescimento das indústrias e da actividade comercial.

Ao nível ambiental, constata-se que a Revolução industrial incrementou o papel dos metais, mobilizou fontes de energia cada vez mais importantes.
Os laços entre as actividades de transformação e o meio ambiente sofreram profundas alterações.

Por exemplo, a Revolução Industrial contribuiu para a delapidação e deterioração dos recursos naturais. As paisagens transformaram-se vertiginosamente. O clima sofreu influências cujas modificações são actualmente visíveis.

Introduzindo na paisagem rural e urbana novos elementos como fábricas, armazéns, fumos, ruídos, bairros residenciais, movimentos intensos de veículos e pessoas, a indústria modificou profundamente o espaço, chegando a transformar áreas desabitadas em grandes centros de atracção populacional, criando a paisagem industrial. Apesar da existência de diferentes paisagens industriais todas tem algo em comum, dado que são o resultado da industrialização.

3.1.3. Comércio depois da Revolução Industrial e na actualidade

Comércio internacional
O comércio internacional pode definir-se como a operarão de troca de bens e serviços entre países, segundo regras definidas. Após a II Guerra Mundial as trocas comerciais internacionais sofreram um incremento muito importante. Este aumento deveu-se melhoria de Vida das populações, à deslocalização industrial da produção, ao aumento da população mundial, liberalização dos mercados com os acordos do GATT e a criação da Organização Mundial de Comércio (OMC) no sentido de regular o comércio internacional.

A distribuição geográfica do comércio internacional foi determinada pela repartição da riqueza a nível mundial, pela natureza da produção e do consumo em cada uma das áreas económicas do planeta e pela existência de diferentes sistemas económicos e políticos. Por outro lado, quando se analisa o comércio, a nível mundial, constatam-se profundos desequilíbrios na sua repartição espacial, traduzindo-se pela sua elevada concentração nos países desenvolvidos e industrializados, em detrimento dos países em vias de desenvolvimento e menos industrializados.

Comércio nos países desenvolvidos
O fluxo comercial nos países desenvolvidos atingiu um crescimento significativo, dado que se caracteriza por produtos transformados, seja de bens de consumo ou de equipamentos. Com apenas 25% da população do globo, os países desenvolvidos detêm cerca de 75% do comércio mundial. À UE (União Europeia) pertencem cerca de 37% do comércio mundial, seguida dos EUA e Japão. Contudo, considerando os países individualmente, a maior potência comercial do mundo são os EUA com 13.2% das importações e 11,7% das exportações mundiais. Na UE (União Europeia) destaca-se a Alemanha (a maior potência comercial europeia), França, Reino Unido, Itália, Holanda e Bélgica. Na América do Norte destacam-se o Canadá e os EUA.

Comércio nos países em vias de desenvolvimento
Contrariamente ao que acontece nos países desenvolvidos, nos países em vias de desenvolvimento o fluxo comercial é constituído fundamentalmente por matérias-primas (ferro, cobre, algodão madeira, etc.), fontes energéticas (petróleo, gás natural e carvão mineral) e produtos alimentares (açúcar, oleaginosas, café, fruticulturas, etc.). Esta situação faz com que estes últimos países detenham apenas 25% do comércio mundial, ainda que alberguem dois terços da população do globo. Assim, constata-se que o tipo de comércio dos países em vias de desenvolvimento assenta essencialmente na exploração dos recursos naturais e produtos agrícolas tropicais e importação de bens transformados (bens de equipamentos).

Actualmente, nesta mesma categoria, há a excepção de países que actualmente deram um salto qualitativo e quantitativo em termos do crescimento das transações comerciais. Fazem parte deste grupo, os chamados «Novos Países Industrializados» (China, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura, Malásia, Tailândia, Brasil, Argentina, México, Chile), que estão a alcançar um importante lugar na produção e comercialização, tanto de bens tradicionais e ou primários, como também de altas tecnologias.

Estes países conseguiram atingir este estágio, graças à importação de tecnologias do Ocidente e ao baixo custo da sua mão-de-obra bastante abundante, constituindo assim uma séria ameaça pela sua forte concorrência. Dentre a disparidade entre estes dois grupos de países, destacam-se: as grandes assimetrias no desenvolvimento industrial, as tecnologias disponíveis, as políticas governamentais, entre outros.

Principais grupos de produtos e as grandes regiões comerciais do mundo

No que toca aos principais produtos transacionados a nível mundial, podemos agrupá-los em três grandes grupos: produtos agrícolas; produtos minerais e energéticos; produtos manufacturados.

Produtos agrícolas
No fluxo dos produtos agrícolas, os cereais têm um lugar de destaque, dada a sua importância na alimentação humana. Deste modo, depreende-se que o comércio mundial de cereais é dominado pelo trigo, milho e arroz. Os fluxos do trigo são dominados por países desenvolvidos, com destaque para os EUA, o Canadá e a Austrália. Em contrapartida, as principais áreas compradoras correspondem a países da Ásia Oriental e meridional, bem como o Norte de África e sobretudo a África subsariana.

Por sua vez, o comércio mundial do arroz encontra-se fundamentalmente assente no continente asiático, facto que se relaciona com o elevado consumo deste cereal por parte de grande parte da população deste continente superpovoado. A Tailândia é o principal exportador de arroz para os países da Asia Oriental e Meridional e África Austral.

Como pudemos ver nos mapas anteriores, relativamente aos produtos agrícolas tropicais, especialmente cacau, café, cana-de-açúcar, borracha, algodão, lã, linho, couro, sisal, etc., o seu fluxo direciona-se no sentido sul-norte, isto é, os países em vias de desenvolvimento é que são os maiores exportadores destes produtos, sendo os países desenvolvidos os maiores importadores destas matérias-primas.

Comercialização de produtos minerais e energéticos
Os recursos minerais apresentam uma considerável dispersão pelo mundo, ao passo que as regiões industriais onde se regista a sua transformação caracterizam-se por urna acentuada concentração num número restrito de países. Assim, este facto propicia importantes fluxos destes recursos entre os países detentores e os de transformação.

Os principais minerais comercializados são: ouro, prata, ferro, manganés, estanho, cobre, alumínio, níquel, urânio, fosfatos, bauxite, diamantes, pedras preciosas e semipreciosas, entre outros.

Quanto aos produtos energéticos, importa-nos aqui referir que o crescente consumo de energia a nível mundial tem levado cada vez mais procura desmedida deste valioso recurso, sendo que nalgumas regiões começam a chegar ao fim as reservas de gás natural, petróleo e carvão mineral.

Relativamente ao crescente consumo de energia a nível mundial tornam-se cada vez mais valiosas as reservas de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural), O carvão mineral, cujo consumo remonta desde a primeira fase da Revolução Industrial até II Guerra Mundial, deixou de ser o combustível mais utilizado em favor do petróleo. Apesar disso, os fluxos de carvão continuam a ser importantes pois registam uma semelhança com os fluxos de ferro.

Em contrapartida, o petróleo representa a mercadoria mais transacionada a nível global. Os maiores produtores deste recurso energético localizam-se no Médio Oriente, onde se encontram as maiores reservas, seguindo-se o Norte de Africa, México, Venezuela e a Nigéria. Os Estados membros da OPEP (Organização de Países Produtores e Exportadores de Petróleo) são: Arábia Saudita, Irão, Iraque, Líbia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Venezuela, Argélia, Qatar, Angola e Equador. Esta organização foi criada em 1960, englobando a maior parte dos países acima descritos.

Os fluxos de produtos manufacturados
Os fluxos de produtos manufacturados são dominado por países industrializados, quer no que respeita produção, quer em relação ao consumo. Os países em vias de desenvolvimento estão numa posição bastante fragilizada face aos fluxos destes produtos.
Os principais blocos económicos que mais contribuem na exportação de produtos manufacturados são: os EUA, o Japão e a UE. Assiste-se a um galopante passo de exportação destes produtos pela China, o que nos leva a crer que é um dos principais países com mais exportação a seguir aos EUA.

Os produtos manufacturados mais comercializados por estes países são: máquinas-ferramentas, automóveis, material informático, têxteis e eletrodomésticos variados.


Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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