Os Equinodermes
3.4. Os equinodermes
O filo Echinodermata marca o início da linha evolutiva Deuterostomia. Como se afirmou, a boca surge como nova formação e não a partir da boca primitiva. Nesta linha, estão os equinodermes, hemicordados e cordados.
Os equinodermes caracterizam-se pela presença de espinhos à superfície do corpo (do grego echinos, espinho, ouriço). Assim, o nome está relacionado em primeiro lugar com o ouriço-do-mar. Além do ouriço-do-mar, existem as estrelas-do-mar, os ofiúros, as bolachas-do-mar, os crinoides e as holotúrias.
Fig. 56: Diversidade de formas dos equinodermes. |
Os equinodermes são organismos apenas marinhos, livres, solitários ou coloniais. Nenhuma forma é pelágica, movendo-se todas em ambiente aquático, como ilustra a figura acima. São ainda peculiares pela ausência de cabeça bem delimitada.
Constituição e revestimento do corpo
A simetria radial secundária dos adultos é outra característica particular. E, por assim dizer, simetria radial falsa, já que a fase embrionária apresenta simetria bilateral. A simetria no adulto é pentâmera – cinco raios – a partir dos quais se organizam todas as estruturas do corpo.
Não tem lados dorsal e ventral evidentes, mas sim um lado oral (relativo à boca) e um lado aboral (fora da boca ou oposto a ela).
O corpo dos equinodermes encontra-se revestido por uma simples epiderme e, em certos cases, por espinhos protectores. Os espinhos podem estar providos de veneno.
Sistema vascular e sanguíneo
Os equinodermes não possuem coração e vasos sanguíneos característicos. Possuem os chamados canais hemais radiais, nos quais circula um líquido incolor contendo amebócitos.
O sistema ambulacrário é responsável pela respiração, que ocorre por difusão. O ouriço-do-mar possui uma espécie de pequenas brânquias. As holotúrias (pepino-do-mar, ou magadjodjo, em Moçambique), por sua vez, possuem um sistema de túbulos ramificados – são as arvores respiratórias. A água circula nestes túbulos propulsionada a partir da cloaca.
Os equinodermes possuem um esqueleto interno mesodérmico e um sistema hidrovascular interessante.
Fig. 57: Secções esquemáticas de Cinco classes de equinodermes, evidenciando as relações entre a boca (B), o ânus (A), os pés ambulacrários (P) e o espinho (E). |
Locomoção
A locomoção é feita pelos pés ambulacrários e pelos espinhos. É lenta e rastejante.
Hábitos alimentares
Os equinodermes vivem na superfície do solo aquático, onde encontram o seu alimento: algas, molusco: e outros invertebrados. As estrelas-do-mar são predadoras e carnívoras (preferem ostras). Abrem-nas e introduzem o seu estômago provido de enzimas para realizarem a digestivo extra-intestinal. O ouriço-do-mar, que se alimenta de algas, possui dentes calcários (lanterna de Aristóteles).
Excreção
Os equinodermes não possuem um órgão excretor propriamente dito. Os amebócitos transportam as excreções até aos pés ambulacrários ou a qualquer órgão que esteja em contacto com a água, para os eliminar.
Sistema nervoso e órgãos sensoriais
Na região oral, existe um anel nervoso, a partir do qual se ramificam os nervos radiais. Existem células que respondem pelo tacto e fotorreceptores.
Reprodução e desenvolvimento
Os equinodermes são dioicos e a fecundação dá-se externamente. O desenvolvimento é indirecto e passa por larvas que são características para cada classe:
- Larva bipinária: estrelas-do-mar;
- Larva pluteus: ofiúros e ouriços;
- Larva dolidária: crinoides;
- Larva auriculária: pepino-do-mar.
Evolução e sistemática dos equinodermes
A divisão básica dos equinodermes compreende os Pelmatazoa e os Eleutherozoa.
Pelmatozoa | Eleutherozoa |
Classes: Crinoidea (Crinóides) Paracrinoidea (Paracrinóides, que estão extintos) | Classes: Asteroidea (Asteroides) Ophiuroidea (Ofiuroides) Echinoidea (Equinóides) Holothuroidea (Holotúrias) |
Os Echinoidea compreendem um grupo de equinodermes em forma de disco, ovoide ou semi-esfera. O ouriço-do-mar é ovoide; a bolacha marinha é discoide. Os braços são curtos com espinhos.
As vísceras do ouriço-do-mar encontram-se envoltas numa carapaça (testa). Observando o corpo a partir do centro, nota-se que dele se projectam cinco áreas homólogas aos braços da estrela-do-mar, perfuradas para os pés ambulacrários. Boca e ânus são centrais e encontram-se localizados em polos diferentes (oral e aboral).
O ouriço-do-mar come plantas marinhas, matéria orgânica animal morta e outros pequenos organismos. A bolacha marinha vive de partículas orgânicas.
Os asteróides são talvez os mais populares para a identificação dos equinodermes. O corpo tem a forma de estrela e apresenta cinco braços (pentaradial). Muitas formas apresentam mais do que cinco braços (raios). Os crinóides são organismos parecidos com estrelas-do-mar. Geralmente fixam-se ao substrato por meio de um pedúnculo. Os Paracrinoidea são organismos extintos.
Fig. 58: Crinóide séssil pedunculado. |
Ofiuróides
Os ofiúros, ou serpentes-do-mar, possuem um disco central, do qual partem cinco longos tentáculos, delgados, articulados. Em cada braço localiza-se o sistema ambulacrário típico de todo o grupo dos equinodermes. Os pés ambulacrários auxiliam na respiração e levam o alimento boca. Ao contrário do grupo anterior, não possuem brânquias dérmicas. A boca está no disco central e não existe uma abertura anal.
Fig. 59 Ofiuróides. |
Holotúrias
Em Moçambique, as holotúrias são chamadas de magadjodjos. São animais de corpo delgado, alongado num eixo oral-aboral. A parede do corpo é de natureza coriácea, cheia de ossículos calcários microscópicos. Possuem inúmeros tentáculos a circundarem a boca.
As holotúrias correm o risco de extinção devido elevada predação pelo Homem, que as usa para diferentes fins, incluindo alimentação e fabrico de artigos artesanais, como calçado.
Tal como todos os membros do filo, apresentam zonas longitudinais de pés ambulacrários na região dorsal, que funcionam como órgãos tácteis e respiratórios.
As holotúrias têm uma locomoção semelhante à das lesmas. Vivem no solo aquático, escavam o Iodo ou areia da superfície, deixando apenas as extremidades do corpo expostas. Quando sentem uma pequena perturbação contraem-se.
Alimentam-se de material orgânico, dos detritos do fundo do mar e de plâncton.
Fig. 60: Holotúria Cuaonaria frondosa. |
Classe | Em Português | Caracteristicas | Exemplos |
Crinoidea | Crinoides | Alguns fixos no fundo do mar, outros flutuantes livres | Lírios-do-mar |
Ophiuroidea | Ofiuróides | Livres; corpo em forma de estrela aberrante devido aos braços exageradamente longos | Serpentes-do-mar |
Asteroidea | Asteroides | Livres; corpo em forma de estrela; número de braços variável | Estrelas-do-mar |
Echinoidea | Equinoides | Livres; semi-esféricos; cobertos de espinhos obtusos | Ouriços-do-mar, bolachas marinhas |
Holothuroidea | Holotúrias | Corpo alongado; região oral circundada por braços; muito presos ao fundo do mar e as rochas. | Pepino-do-mar (magadjodjo) |
Bibliografia
PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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