Paisagens industriais
3.4. Paisagens industriais
Cada paisagem industrial tem a sua fisionomia própria que resulta do tipo de actividade industrial predominante, do aspecto e idade das suas fábricas, das relações com a população e das diferentes fases de desenvolvimento por que passou. Assim, as paisagens industriais dizem respeito à forma como as indústrias se circunscrevem geograficamente no espaço. Portanto, apesar de cada paisagem industrial possuir a sua característica típica, ou seja, a sua originalidade, elas classificam-se em várias categorias, baseando-se nos seguintes critérios: a localização, a idade dos estabelecimentos industriais, o tipo de actividades, o nível de desenvolvimento e a dimensão espacial.
Deste modo temos: regiões negras, paisagens industriais urbanas, indústrias portuárias, regiões industriais, complexos industriais e indústrias dispersas.
Regiões negras
As regiões negras são também conhecidas por regiões clássicas. Estas são as paisagens típicas do início da Revolução Industrial que surgiram junto as minas de carvão (Escócia, bacia de Ruhr, Nordeste dos EUA, entre outras), enegrecidas pelos fumos das chaminés das fábricas de aço, altos fornos, centrais térmicas, fábricas de produtos químicos que poluem o ambiente, juntamente com o ruido fabril.
A designação das paisagens negras foi atribuída pela primeira vez as paisagens inglesas junto às bacias hulhíferas, em oposição Inglaterra verde. Estas regiões clássicas caracterizam-se igualmente pelas paisagens de fábricas e bairros habitacionais de operários, cortados por vias-férreas, estradas e canais por onde circula intenso transito de pessoas e produtos.
A Substituição do carvão pelo petróleo veio introduzir profundas alterações nesta paisagem, e as antigas fábricas entraram em declínio ou foram abandonadas, cedendo lugar a novos bairros de residências, zonas verdes e indústrias novas. Portanto, é o início de uma nova organização e Ordenação do espaço, uma vez que o desenvolvimento dos transportes possibilitou a deslocalização da indústria para novas áreas.
Paisagens industriais urbanas
As grandes cidades atraíram sempre a indústria, e até mesmo grandes cidades e ou civilizações floresceram através de actividades industriais. É nas cidades que o empresário industrial pode encontrar capital, mão-de-obra e consumidores. Nestas áreas, as indústrias tendem a agrupar-se por afinidade ou complementaridade (solidariedade técnica), nos mesmos espaços, como por exemplo em parques industriais ou espaços próximos, o que é por vezes também determinado pelas principais vias de transportes e comunicação.
As indústrias localizadas no centro da cidade estão cada vez mais a serem desalojadas em direcção periferia, por um conjunto de factores, tais como: o elevado custo do solo urbano, a poluição, segurança, congestionamento de tráfego c impossibilidade de expansão e de circulação de veículos pesados. Contudo, no interior da cidade ainda se mantém algumas indústrias dispersas, dado que exigem mão-de-obra altamente especializada, como por exemplo, as tipografias, as oficinas de móveis, ourivesaria, mercenárias, etc. Ademais, na maior parte das grandes cidades, encontram-se bairros operários antigos rodeando as velhas áreas industriais que, asfixiados pelo crescimento da cidade, entraram em declínio e mudaram-se para outros locais.
Nas cidades dos países em vias de desenvolvimentos não é tão nítida esta distinção entre as áreas industriais e os bairros operários. Nos arredores misturam-se as fábricas de produção de base, com as de produtos acabados e os bairros de habitação miserável onde vive a mão-de-obra.
De uma maneira geral, existe uma harmonia entre as actividades industriais e a estrutura urbana, verificando-se uma selecção nos estabelecimentos por áreas industriais especificas, no quadro de um urbanismo funcional e cada vez mais rigoroso.
Indústrias portuárias
Estas existem sempre que se trate de indústrias cujas matérias-primas ou produtos são respectivamente importados ou exportados por via marítima ou fluvial. Neste caso localizam-se junto aos portos. As indústrias pesadas (indústrias siderúrgicas, refinarias de petróleo, construções navais, fábricas de cimento, de alumínio, etc.) de pesca e seus derivados (conservas, congelação de pescado, farinhas de peixe e adubos), etc., localizam-se habitualmente na proximidade dos portos.
Nos países subdesenvolvidos há implantação de indústrias transformadoras junto aos portos, para onde algumas matérias-primas do interior convergem (ex.: amendoim, copra, café, açúcar), com a finalidade de exportarem produtos, geralmente numa primeira fase de elaboração.
Regiões industriais
A concentração espacial da indústria acontece sempre que várias unidades industriais se associam num limitado. As unidades industriais repartem-se então por áreas especificas denominadas regiões industriais. Os motivos desta Concentração são o reagrupamento em função da localização ou da solidariedade técnica, apesar das unidades serem independentes.
Nas regiões industriais suburbanas dois factores contribuem para a associação das indústrias.
O primeiro é a questão dos presos dos terrenos que diminuem com o afastamento do centro da Cidade e o segundo é o desenvolvimento da rede viária e dos transportes, que leva à localização preferencial nestas áreas, sobre os eixos suburbanos.
As navegações fluviais e marítimas podem igualmente, pelas infra-estruturas que oferecem, engendrar regiões industriais, mas segundo modalidades um pouco diferentes. As regiões industriais podem igualmente aparecer junto de jazigos mineiros, de centrais de produção energética ou em vales. O seu tamanho possui grande variedade, dependendo da dimensão das unidades, da quantidade de indústrias, do tipo de equipamento e do nível de desenvolvimento atingido.
No que toca a características visuais, a paisagem da região industrial é completamente variada porque nela se associam indústrias muito diversas de região para região.
Complexos industriais
Por complexos industriais entende-se as áreas destinadas produção industrial, dotadas de infra-estruturas (redes de água, esgotos, energia, transportes e meios de comunicação) de grande dimensão, com instalações adequadas e com organização previamente estabelecida, mas que excluam as residências de trabalhadores.
Os complexos industriais são formados por agrupamentos de indústrias que funcionam em complementaridade na medida em que reúnem actividades que se completam e que aproveitam em comum disponibilidades técnicas, económicas e financeiras. são essencialmente áreas vocacionadas para a produção, como é o caso da bacia de Ruhr, a região nordeste de Franca (Lille, Roubaix e Tourcoing) e o complexo industrial da Pensilvânia, nos WA.
Existem complexos industriais em países altamente industrializados e em países em vias de desenvolvimentos. Nos países desenvolvidos, os complexos industriais surgem em função da solidariedade técnica, sobre um espaço organizado pelas autoridades ou por associação de grandes empresas. O exemplo disso é a empresa Boeing, que organizou um espaço integrado de indústrias de alumínio e variadas indústrias de bens de equipamentos, estabelecendo um complexo de indústrias subsidiárias da indústria aeronáutica, ou ainda o caso da indústria de automóveis Ford, que produz no grande complexo industrial à volta de Detroit.
Indústrias dispersas
Algumas indústrias difundem-se tanto no espaço rural como em pequenas cidades, pois são indústrias que possuem um ambiente próprio. Os tipos mais comuns das indústrias dispersas são: a indústria metalúrgica e extractiva, localizadas preferencialmente junto fonte de matéria-prima e energia, neste caso jazigos mineiros, as agro-indústrias, distribuídas preferencialmente junto aos terrenos e espaços agrícolas, isto pelo carácter perecível dos produtos agrícolas, como também pela existência de ligações estreitas entre os produtores e temos ainda a indústria de celulose ou de pasta de papel que também têm tendência de se implantar junto às florestas devido natureza bastante volumosa da matéria-prima, que é pesada e de maior desperdício, as indústrias de explosivos e a nuclear, que se localizam em regiões muito distantes dos centros populacionais devido a questões de segurança e ambiente. A dispersão destas indústrias pelo meio rural contribui eficazmente para o abrandamento do êxodo rural, ao mesmo tempo que evita a explosão demográfica dos centros urbanos e propicia melhores condições de Vida da população rural, procurando-se assim acabar com as migrações pendulares.
por vezes, os governos, através de planos a curto, médio e longo prazo, contribuem para a dispersão da indústria como forma de evitar o desequilíbrio regional em termos de desenvolvimento socioeconómico.
Principais regiões industriais do globo
A actividade industrial está distribuída geograficamente de forma heterogénea no globo, predominando no hemisfério norte. No hemisfério sul existem manchas esparsas descontinuas.
Assim, podemos dizer que o mundo se divide entre os países industrializados, situados no hemisfério norte, e os países menos industrializados no hemisfério sul. Porém, nem todos os países industrializados se localizam no hemisfério norte e nem todos os países menos industrializados se situam no hemisfério sul. As principais regiões industriais são as que se descrevem a seguir:
- 1. Nordeste e Centro dos EUA
É a mais importante região industrial do mundo, pela sua abundante riqueza em minérios diversos (carvão, ferro, gás natural e petróleo), a facilidade de meios e vias de transportes e comunicação, os bons portos da costa atlântica e a abundância em mão-de-obra. Destacam-se os grandes centros urbanos e industriais de Boston, Filadélfia e Baltimore. Destacam-se ainda, no centro do pais, Chicago e Detroit (o maior centro automobilístico do mundo) e, no litoral Oeste, são Francisco, São Diego e Los Angeles. As indústrias são muito diversificadas, desde siderurgia, automóveis, aeronáutica, construção naval, material electrónico e elétrico, papel, têxteis, alimentares, telecomunicações, químicas, etc. No Sul do pais destaque para a Florida (onde se localiza a base de lançamento de foguetões e naves espaciais de Cabo Kennedy), Nova Orleães, Houston e Dallas, com refinarias de petróleo, petroquímica, metalurgia, de alumínio, têxteis, electrodomésticos e electrónica.
- 2. Canadá
O Canadá constitui igualmente um dos centros de forte concentração industrial, com urna diversificação de indústrias, desde as de celulose, petroquímica e de extracção mineira. Os mais importantes centros industriais são Toronto, Otava, Quebeque, Montreal, Windson e Vancouver (esta última no litoral oeste).
- 3. América Central e do Sul
Na América Central e do Sul, os grandes centros industriais são o Golfo do México, Brasil, Argentina, Venezuela e Chile. O Brasil tornou-se a primeira potência industrial da América. A indústria brasileira encontra-se localizada, na sua maioria, na fachada oriental, desde o Cabo de S. Roque até quase à fronteira com o Uruguai. É aí que se concentram as maiores riquezas agrícolas e do subsolo e também a maior parte da população brasileira. A existência de bons Portos facilita as trocas comerciais com o exterior. O Sudeste é a região vital do Brasil, com indústrias de siderurgia, construções mecânicas, petroquímica, refinarias de petróleo, construção naval, indústrias alimentares, electrónica, etc. são Paulo é o maior colosso industrial do Brasil e de toda a América Latina. No Sudeste brasileiro destacam-se ainda o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santos, Curitiba, Porto Alegre e Volta Redonda. No Noroeste, todavia, há uma fraca industrialização, estando esta circunscrita as indústrias alimentares, têxteis, refinação de petróleo e montagem de automóveis.
- 4. Europa Ocidental, Mediterrânica e Oriental
Na Europa, a maior expressão industrial fica situada nas regiões sul-sudeste e nordeste (Londres-Bristol, Birmingham, Manchester, etc.). Na França, notabilizam-se as regiões do leste e norte (Lorena) e parisiense e lionesa (Lyon).
Na Alemanha, destacam-se as regiões do Vale do Rhur (Dortmund, Essen, Dusseldorf, com grande diversidade industrial: indústria têxtil, siderurgia, metalurgia, electrónica, aeronáutica e petroquímica) e da Vestefália e Hanôver (Colónia, Frankfurt, Nuremberga, Hamburgo, Bremen, etc., com indústrias automóvel e química, entre outras). Na Itália destaca-se a região Norte (Milão, Génova, Turim etc.), com indústrias automóvel, de electrodomésticos, aeronáutica, alimentar, mecânica, têxtil e de máquinas agrícolas. Os países do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) e a Suécia são alguns dos países com tendência de crescimento da industrialização. Nos países da ex-URSS há regiões de forte concentração industrial, nomeadamente na Ucrânia (Kharkov, Odessa, Kiev, Krivoy-Rog) e na Rússia (Moscovo, são Petersburgo e Kuzbass). No caso desta Vítima, as áreas de maior industrialização localizam-se quase na totalidade na Rússia Europeia, ou seja, a oeste dos montes Urais.
- 5. Asia Oriental
Na Ásia, destaque para o Japão, pais que se tornou numa das maiores potências industriais do mundo. Entre as principais regiões industriais, estão Tóquio-Yokohama e Osaka, Kobe, Nagoya e Yokohama. O Japão apresenta uma grande variedade industrial: produção de aparelhos elétricos e electrónicos, aparelhos de Óptica (máquinas fotográficas, de filmar e de projectar, etc.), aparelhos de precisão (relógios, cronómetros e outros), refinarias de petróleo, petroquímica, química ligeira e pesada, têxteis, conservas de peixe, máquinas agrícolas e material ferroviário, aeronáutico e produção de automóveis.
A China é um centro industrial emergente, estando a tornar-se actualmente numa verdadeira potência industrial mundial, superando o Japão e competindo com a indústria norte-americana.
Entre os principais centros industriais, estão a região norte e nordeste (Manchúria, Pequim, Tien-Tshin) e o vale do Yang-Tsé (de Wou Han até Xangai). Existem grandes centros siderúrgicos e de construções mecânicas pesadas em Anshan e Shenyang e um grande centro metalúrgico e automóvel em Changchun.
- 6. Africa Ocidental, Setentrional e Meridional
Em África destaca-se a Africa do Sul como sendo uma das potências industriais da região da Africa Austral. Segue-se a fachada mediterrânica (Argélia, Líbia e Egipto), a fachada Centro-Ocidental Atlântica, que engloba a Guiné, Serra Leoa, Nigéria, Mauritânia, Senegal e Costa do Marfim. Nestas últimas regiões, predominam as indústrias de refinação de petróleo (principalmente na Nigéria), de extracção mineira (ferro, bauxite), a indústria de alumínio, siderurgia, química, alimentar e de madeiras.
Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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