Texto dramático: estrutura e características
1. Texto dramático
O texto dramático é constituído por um texto
principal (isto é, pelas falas a proferir pelos actores no palco) e por um
texto secundário (as indicações cénicas ou didascálias).
No texto dramático, como no texto narrativo, existe a
narração de eventos e são indispensáveis o espaço e o tempo. No entanto, no
texto dramático, é da maior importância a concentração do conflito, ao qual se
subordinam os outros aspectos.
A representarão cénica no palco constitui a realização do
texto dramático, vivido num momento presente, o que não acontece no texto
narrativo, nem no texto lírico.
O texto dramático é criado pelo dramaturgo e tem como
finalidade ser representado num palco, passando então a ser considerado como
texto teatral.
Estrutura do texto dramático
O texto dramático caracteriza-se por ser
estruturalmente constituído por um texto principal e por outro secundário,
sendo que o primeiro apresenta actos linguísticos realizados pelas personagens
que comunicam entre si através de diálogos.
No texto dramático podem ainda ocorrer monólogos
(não existem réplicas nem interlocutores, embora nele se possam manifestar
elementos dialógicos e se possam identificar interlocutores implícitos ou
latentes). O texto secundário é formado pelas didascálicas ou indicações
cénicas. Estes dois textos funcionam interligados e são cooperantes.
O texto dramático apresenta uma sequência de
eventos provocados ou sofridos por agentes, que se desenvolvem num determinado
tempo e espaço, real ou fingido.
Segundo o Programa Intermédio do Primeiro Ciclo, Oitava
Classe, 2006/7 (2005, pág. 47), a estrutura interna deste tipo de texto
organiza as acções em: apresentação, conflito e desfecho,
enquanto a estrutura externa o divide em cenas e actos. O texto dramático
vive centrado nas relações entre personagens principais e secundárias, das
quais é feito um retrato físico (por caracterização directa) e um retrato psicológico
(por caracterização directa e indirecta).
Aguiar e Silva (Teoria da Literatura, 6ª Edição,
Coimbra, Almedina, pág. 1 14) afirma que «o texto dramático realiza-se como
texto teatral através de um complexo processo (...) o texto
"principal" do texto dramático deixa de ser comunicado como um texto
escrito submetido às regras, as convenções e ao condicionalismo da comunicação literária
para se transformar num texto oralmente realizado por instâncias de enunciação,
ficticiamente encadeada por actores e comunicada a espectadores por canal
vocal-auditivo».
A realização oral do texto dramático levada a cabo num espaço
cénico, implicando a presença de actores e de espectadores, envolve normas e convenções
de códigos actuantes na comunicação linguística canónica, mas que no texto
teatral adquirem maior relevância e explicitude:
- Código proxémico — regula as relações espaciais entre as personagens dramáticas, entre o corpo de actores, entre estes e os objectos do espaço cénico.
- Código cinésico — regula os movimentos corporais dos actores, os seus gestos, as atitudes, em particular a sua mimica facial.
- Código paralinguístico — regula os factores vocais convencionados e sistematizáveis que acompanham a emissão dos signos verbais, mas que não fazem parte do sistema linguístico.
Como o texto teatral é uma transformação do texto
«principal» do texto dramático, apresenta uma estrutura constituída pela
presença física dos actores, a acção e os actos linguísticos das personagens,
os elementos paralinguísticos proxémicos e cinésicos, os jogos de luz, os
elementos musicais e os efeitos do som, que se correlacionam com as personagens
dramáticas, com a sua acção e com os seus actos linguísticos. Todos esses
signos se revelam em sistemas de significação e de códigos muito heterogéneos.
Características do texto dramático
Sistematizando, o texto dramático é constituído por:
- Texto principal — composto pelas falas dos actores;
- Texto secundário/didascália — destina-se ao leitor, ao encenador da peça e aos actores.
Este texto secundário é composto:
- Pela listagem inicial das personagens;
- Pela indicação dos nomes das personagens no início de cada fala;
- Pelas informações sobre a estrutura externa da pega (divisão em actos, cenas ou quadros);
- Pelas indicações sobre o cenário e guarda-roupa das personagens;
- Pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras.
A acção é marcada pela actuação das personagens, que nos
apresentam a vivência (simulada, reproduzida) de acontecimentos.
O texto dramático caracteriza-se por possuir um
autor oculto (o dramaturgo), fingido ou dissimulado, quer em relação às
personagens, quer em relação aos receptores, cabendo às personagens, os agentes
da história representada que comunicam entre si e com os receptores do texto, a
assunção da responsabilidade imediata e explicita das acções e das interacções,
sem mediadores intratextuais dos actos de enunciação.
Este género apresenta ainda outras características.
- O autor do texto dramático está geralmente omisso no texto, embora possa marcar a sua presença explicitamente no prólogo (início de uma pega teatral) e no epilogo (final da peça) e em certos textos dramáticos, manifestando-se nas formas pronominais e verbais de primeira pessoa.
- Ausência de narrador.
- Pode realizar-se no espaço real (palco ou estúdio),ou, então, no espaço fingido.
- Presença de personagens principais (protagonistas) e secundárias.
- Divide-se em acções organizadas: apresentação, conflito e desfecho.
- Geralmente, está dividido em cenas e/ou actos.
- É constituído por um texto «principal» e pelo texto secundário.
- Caracteriza-se pelo diálogo (conversação estabelecida envolvendo dois ou mais actores) e pelo monólogo (produção de enunciados de e para um único actor, isto é, de e para si mesmo).
Aguiar e Silva (Op. cit., 1984, pág. 111) apontam como
características do texto dramático: «índice elevado de actos ilocutivos e de
actos perlocutivos nas réplicas do texto dramático, originando relevantes
projecções extratextuais» e ainda que, «quando o texto dramático é concretizado
como texto teatral, comporta parâmetros perlocutivos muito acentuados, desde
sempre explorados e reconhecidos pela teoria e pela prática do drama na cultura
ocidental». Acrescenta ainda o facto de «o texto dramático estar saturado de
elementos deícticos (contextualizadores espácio-temporais)».
Este autor defende, além do mais, que neste tipo de texto
se nota o uso de um Eu em forma de discurso directo, que dialoga
com um Tu, agindo num espaço que perspectiva e se organiza
conceptualmente em função de si mesmo, e o tempo linguístico presente, ao qual
se subordinam os tempos linguísticos do passado e do futuro.
Aguiar e Silva (Op. cit., 1 984, pág. 612) afirma que «as
personagens dramáticas muitas vezes são responsáveis ou marcadas psicológica e
moralmente por eventos pretéritos, cujas consequências desempenham uma função
nuclear no desenvolvimento da acção — e dai a frequência e a importância dos tempos
verbais no passado em textos dramáticos. O presente é o tempo necessário do
texto dramático.
Bibliografia
FERNÃO, Isabel Arnaldo; MANJATE, Nélio José. Português 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
Encontrei o que eu procurava!
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