Circulação da seiva bruta
2.6. Circulação da seiva bruta
Após a realização da absorção radicular, a solução
mineral é transportada até ao xilema no cilindro central.
Até que atinja a endoderme, a solução com iões minerais
pode seguir dois caminhos diferentes: a via extracelular ou apoplasto
e a via intracelular ou simplasto.
- Via extracelular ou apoplasto: ocorre através dos espaços intercelulares (meatos). É um trajecto muito rápido.
- Via intracelular ou simplasto: neste trajecto, ocorre a passagem da solução de célula a célula.
A solução deve atravessar as membranas celulares e o
citoplasma das células até atingir o xilema. A via intracelular é a mais
demorada, pois depende de osmose e de transporte activo.
A via extracelular é interrompida ao nível da endoderme,
devido presença das estrias de Caspary. Estas, devido sua impermeabilidade,
impedem a passagem da solução pelos espaços intercelulares, obrigando-a a
passar pelas células da endoderme. Assim, a endoderme funciona como uma
barreira selectiva das substâncias que devem prosseguir até ao xilema.
Observa a figura seguinte em que se representa a via
apoplasto e simplasto, na passagem da água e dos solutos até ao xilema.
Figura 18: Trajecto da água e dos solutos até ao xilema. |
2.6.1. Causas do movimento da seiva
Apos atingir o xilema, a solução constituída por água e iões
minerais constitui a seiva bruta que inicia a sua ascensão, ou seja, é
transportada em sentido vertical, em direcção ascendente.
A circulação da seiva bruta foi interpretada pelos
cientistas de várias formas, surgindo assim diversas hipóteses. Todas as hipóteses
que procuram explicar o mecanismo para a subida da seiva bruta da raiz até às
folhas admitem que a ascensão da seiva bruta se deve à acção de forças físicas
tais como a coesão, a adesão, a pressão radicular, a capilaridade dos vasos e a
transpiração.
Coesão
A coesão é a força que mantém unidas as moléculas de água
no xilema, fazendo com que ela forme uma coluna ininterrupta.
Adesão
É a força que atrai as moléculas de água às paredes do
xilema.
Pressão radicular
Experiências e observações permitiram concluir que a raiz
exerce uma forca que empurra a seiva bruta para cima. Essa força designa-se por
pressão da raiz ou pressão radicular. A pressão radicular é causada pela
acumulação de iões minerais pelas raízes da planta. O transporte activo desses
iões para as células da raiz aumenta o potencial do soluto, causando movimento
da água.
A pressão radicular pode elevar a água contida no xilema
apenas até alguns metros de altura.
Isso sugere que outros mecanismos existem para que a água
suba, uma vez que existem árvores com dezenas de metros de altura; além disso,
há raízes em que não existe pressão radicular ou a que desenvolvem não é
suficiente para elevar a água até ao topo das grandes árvores.
Quando a pressão radicular é muito elevada, a água que
sobe em excesso até às folhas é libertada em forma líquida por estruturas
chamadas hidatódios. A este fenómeno dá-se o nome de gutação. Observa a
figura seguinte que ilustra o fenómeno da pressão radicular.
Capilaridade dos vasos
A capilaridade é um fenómeno físico resultante das forcas
de adesão e coesão. As forças de capilaridade consistem na subida espontânea de
água no xilema das plantas. O xilema é constituído por tubos muito finos. A
subida de água através deles deve-se à adesão das moléculas de água às suas
paredes (dos tubos do xilema). As moléculas de água mantêm-se coesas por pontos
de hidrogénio; as que aderem as paredes do capilar arrastam consigo as outras
moléculas.
A água sobe. O diâmetro do tubo determina a altura
atingida pela coluna líquida.
Quanto maior for o diâmetro do tubo, menor é a quantidade
de moléculas de água que aderem ä parede em relação ao número de moléculas que
são arrastadas para cima. Quanto menor for o diâmetro do tubo, mais alto será o
nível atingido pela coluna líquida no tubo.
Transpiração
Grande parte da água absorvida pela planta perde-se por
transpiração. A transpiração é a perda de água sob a forma de vapor. A perda de
água pela transpiração é compensada pela absorção de novas quantidades de água
pela raiz.
A transpiração é um mecanismo muito intenso nas folhas.
Estas são os órgãos da planta que estão mais expostos de forma a que tenham uma
grande superfície em contacto com o ar.
Uma parte da água transpirada é perdida através da
cutícula que reveste as células da epiderme.
A maior parte da água é perdida através de estomas,
estruturas que podem controlar o volume de água a ser perdida.
A transpiração é influenciada por factores ambientais
tais como: a luz, a temperatura, a humidade, o vento e a água do solo.
a) Luz
A transpiração nas plantas é mais intensa ä luz do que as escuras, pois a abertura e o fecho dos estomas é controlado pela luz.
b) Temperatura
A taxa da transpiração é maior quando a temperatura é mais elevada. Isso acontece porque a água evapora mais rapidamente quando a temperatura sobe.
c) Humidade
Quando o ar está seco, a difusão da água da transpiração ocorre mais rapidamente. Se o ar estiver húmido, a taxa de transpiração decresce.
d) Vento
O ar em contacto com uma folha que se encontra a transpirar vai-se tornando cada vez mais húmido. Consequentemente, diminui a taxa de transpiração. Havendo vento, o ar húmido volta da folha é substituído pelo ar seco, o que aumenta a transpiração.
e) Água do solo
Quando existe pouca água no solo, para substituir a que se perde pela transpiração, ocorre um mecanismo que interrompe o processo da transpiração, desencadeado pelos estomas.
Teoria da tensão-coesão
A quantidade de água que a planta absorve pelas raízes é
praticamente a mesma que a água que perde pela transpiração, como se pode
observar no seguinte gráfico.
Figura 21: Relação entre a transpiração e a absorção. |
O cientista Henry Dixon, no início do século XX, comprovou a existência de uma força de sucção que puxaria a coluna de água no xilema, como se tratasse de um no continuo, da raiz as folhas.
O facto de não haver interrupção dessa coluna líquida
durante a transpiração explicava-se pelo facto de ela ficar sob tensão, pelos
seguintes motivos:
- As moléculas de água estavam ligadas umas às outras por pontes de hidrogénio (coesão);
- As moléculas de água aderiam às paredes dos vasos condutores do xilema (adesão).
Enquanto a água era perdida pela transpiração através das
folhas, ela era removida do caule, que a obtinha da raiz que, por sua vez,
absorvia novas quantidades de água do solo, sem interrupção. Estas constatações
levaram «teoria de Dixon» ou «teoria de tensão-coesão-adesão» ou ainda «teoria
tensa-coesa-transpiratória», defendendo que as moléculas de água são
transportadas nos organismos vegetais através do xilema, mantendo-se unidas por
forças de coesão, formando uma coluna líquida continua das raízes até às
folhas.
Outro aspecto importante no transporte vertical de água são
as características do xilema:
- A ausência de conteúdo celular não cria resistência ao fluxo;
- As membranas espessadas com lenhina impedem o seu colapso;
- O diâmetro reduzido das células do xilema facilita a adesão entre as moléculas de água e as dos vasos.
Segundo a teoria da tensão-coesão-adesão, a força de sucção
transpiratória é o facto mais importante da subida da seiva bruta nas plantas.
As propriedades de coesão e adesão da água permitem a formação
de uma coluna continua que se desloca para cima devido tensão existente a nível
foliar.
Estrutura, função e propriedades dos estomas
Na epiderme dos caules jovens e nas folhas existem
estruturas especiais, que formam o aparelho estomático, constituídas pelos
estomas e células de companhia.
Os estomas são constituídos por duas células estomáticas
ou células-guarda, com cloroplastos.
Cada célula estomática tem a forma de um rim. O lado
côncavo das células delimita uma abertura, o ostíolo, que dá acesso câmara
estomática e que permite a circulação do ar entre os meios externo e interno.
Junto das células estomáticas, existem as células de
companhia. As diferentes concentrações em que se encontram as células
estomáticas e as de companhia permitem que o estoma abra ou feche, mediante
diferentes condições de luz e temperatura.
Na figura seguinte está representada a estrutura do
estoma.
Figura 22: Estrutura do estoma (A — Estoma visto de cima; B — Estoma em corte transversal). |
A função dos estomas é permitir as trocas gasosas entre a planta e a atmosfera e a libertação de vapor de água (transpiração).
Os estomas, geralmente, abrem durante o dia e fecham
durante a noite conforme o que convém planta. Abrem quando as células-guarda,
devido ä entrada de água, ficam túrgidas e fecham quando estas perdem água e
ficam flácidas.
Essas propriedades são conferidas as células estomáticas
pelo seguinte facto: como as fibras de celulose que circundam as células-guarda
não são elásticas, quando ocorre a entrada de água nas células-guarda, estas
aumentam de volume, alongando-se, em vez de aumentarem em diâmetro.
As células-guarda de cada estoma estão unidas nas
extremidades e as membranas na face côncava (interna) são mais espessas: o
aumento das células em comprimento obriga-as a curvar para fora e,
consequentemente, o diâmetro do ostíolo aumenta.
Figura 23: O funcionamento dos estomas (A aspecto do estoma aberto; B - aspecto do estoma fechado).
A água entra nas células se o citoplasma apresentar maior concentração de substâncias dissolvidas do que as células vizinhas e sai quando estas apresentam maior concentração do que as células-guarda.
Provavelmente, é a concentração de iões de potássio (K+)
nas células-guarda a causa da osmose entre as células-guarda e as células da
epiderme, provocando a abertura ou o fecho dos estomas.
Quando o potássio entra nas células-guarda, a água entra
também nessas células por osmose.
As células ficam túrgidas e o estoma abre. O estoma fecha
quando os iões de potássio e a água saem das células-guarda por osmose e estas
ficam flácidas.
Os factores que regulam a quantidade de potássio nas
células-guarda são a luz, o dióxido de carbono e a água nas folhas.
Luz
A luz incide sobre os pigmentos na célula estomática,
desencadeando-se reacções que activam o transporte do potássio e da água para
dentro das células-guarda.
Quando os pigmentos não estão activados pela luz, por
exemplo, noite, a água e o potássio difundem-se para o exterior das
células-guarda.
Dióxido de carbono
A baixa concentração de dióxido de carbono estimula o
transporte de iões de potássio e da água para as células-guarda. De dia, devido
à fotossíntese, há gasto de dióxido de carbono.
A concentração de dióxido de carbono nas células-guarda
diminui, estimulando o transporte de potássio para as células-guarda. O estoma
abre. Durante a noite, a fotossíntese para, e a respiração continua provocando
o aumento da concentração de dióxido de carbono. As células aumentam, o estoma
fecha devido à saída dos iões de potássio e da água.
Água
Quando a folha perde água mais rapidamente de que a
recebe, produz uma substância chamada acido abscísico. O acido
abscísico inibe o transporte de potássio e, consequentemente, da água.
O estoma fecha. Deste modo, evita-se o excesso de
transpiração. Quando existe água suficiente, não se produz acido abscísico e o
estorna permanece aberto.
Hipótese clássica sobre o mecanismo de abertura e fecho dos estomas
A hipótese clássica admitia que era a quantidade de
hidratos de carbono nas células-guarda que provocava a abertura ou o fecho dos
estomas.
Sendo assim, durante o dia, devido à realização da fotossíntese
nas células-guarda, haveria gasto de dióxido de carbono, o que tornaria o meio
mais alcalino devido diminuição do acido carbónico.
Em meio alcalino, uma enzima (fosforilase) convertia o
amido em glicose. As células-guarda acumulavam açúcar. A elevada quantidade de açúcar
provocaria o aumento de pressão osmótica e, consequentemente, a água entraria
nas células por osmose. As células ficavam túrgidas e os estomas abriam.
Durante a noite, na ausência de luz, a não realização da fotossíntese e a intensificação
de respiração causariam o efeito oposto, como se representa no diagrama
seguinte.
Figura 24: Hipótese clássica sobre o mecanismo de abertura e fecho dos estomas. |
Transporte da seiva elaborada no floema
A matéria orgânica produzida nas folhas durante o
processo da fotossíntese é distribuída pelas restantes partes da planta,
raízes, flores e frutos, através do floema.
A hipótese que explica a deslocação da seiva elaborada
foi formulada em 1926 por Münch, um fisiologista alemão. De acordo com essa
hipótese, a seiva elaborada desloca-se sob pressão, devido à diferença de
concentrações entre os órgãos de intensa actividade fotossintética e os órgãos
não fotossintéticos. Nos órgãos consumidores são utilizadas substâncias
orgânicas ou acumuladas, o que provoca a diminuição da pressão osmótica.
A água e as substâncias orgânicas deslocam-se em massa,
através do floema, de tal modo que não há mistura com o conteúdo das células,
como se existissem canais nas células por onde se move o fluxo de massa.
Figura 25: Transporte da seiva elaborada. |
Bibliografia
MANJATE, Maria Amália; ROMBE, Maria Clara. Biologia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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