Métodos da Filosofia
Métodos da Filosofia
O método de estudo de Filosofia marca a primeira grande diferença entre a Filosofia e as ciências. O método da Filosofia não é o da simples verificação, nem o da descrição pacifica dos factos, muito menos o da experimentação.
A Filosofia usa, como um dos seus métodos, a justificação lógico-racional. Assim, procura oferecer uma explicação conclusiva de tudo o que estuda, e para tal serve-se da razão, ou seja, do logos, de acordo com os gregos.
A Filosofia procura, conhecer o real e agir sobre ele, facto que a liga estreitamente ciência, partilhando assim os métodos critico e racional.
A análise critica é, ao mesmo tempo, um método e uma atitude filosófica. Consiste na superação constante do vivido através de um questionamento permanente, ou seja, do uso sistemático da razão. O estilo próprio da Filosofia é a reflexão do reflectir, isto é, voltar a pensar o que já se pensou.
A insatisfação perante qualquer explicação de fenómenos e factos ou perante os exemplos dados constitui a característica fundamental da Filosofia como atitude critica.
A reflexão critica é uma atitude filosófica que tem em vista a explicação da realidade tendo em conta que o filosofar seja uma procura sem trégua, a evidência e o sentido mais fundamental do eu, do outro e da Natureza, isto é, a atitude filosófica não espera encontrar soluções já construídas.
Podemos afirmar que a filosofia é uma atitude radical de olhar critico em busca da verdade sobre os factos.
As características fundamentais da atitude filosófica compreendem, entre várias outras a Historicidade dos factos.
O campo de Filosofia tem a sua história, que se enraíza em grandes filósofos de épocas diferentes como Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Kant, Hegel, Heidegger entre outros. A História da Filosofia não pode ocorrer sem observar a sua matriz grega, passando pela idade medieval, idade moderna e pós-modernidade.
O texto seguinte é um exemplo concreto da historicidade da filosofia.
René Descartes |
Fig. 10 René Descartes (1596-1650) foi o fundador da Filosofia moderna sob o ponto de vista da proposição método-Iógica.
A Filosofia surge na Grécia, aproximadamente nos começos do século VI a.C. Como nas restantes culturas antigas, a cultura grega fundava-se no Mito, transmitido e ensinado pelos poetas, educadores do povo, especialmente Homero e Hesíodo.
Através das complexas narrações e doutrinas sobre os deuses e os homens, sobre as forças que intervém activamente nos acontecimentos cósmicos e humanos, o mito oferecia respostas orientadoras acerca da Natureza e do destino do ser humano, acerca da origem e das normas da sociedade em que o individuo humano se encontrava inserido e acerca do surgimento e estrutura do cosmos.
No dealbar do século VI a.C. e em consonância com profundas transformações de carácter cultural e social, as inteligências mais despertas sentiram a necessidade de substituir as explicações míticas por outro tipo de explicação justificada de um modo racional. Surgiu, assim, a Filosofia como tentativa de racionalizar a interpretação do Homem e do universo, das relações dos homens entre si e destes com a Natureza. Se o mito se caracterizava por oferecer respostas a todos os enigmas fundamentais capazes de inquietar o Homem, a Filosofia caracteriza-se também pela radicalidade dos seus questionamentos. A atitude filosófica é radical no duplo sentido: enquanto as suas questões alcançam a totalidade do real e enquanto pretende chegar aos princípios explicativos últimos do real. Desde o seu surgimento, a Filosofia, como atitude critica, é racionalizadora e constituiu-se como um elemento essencial - se não o elemento essencial - ser dinamizador da nossa cultura.
J. M, Navarro Cordon e T.; Caivo Martinez; História da Filosofia; 1º Vol. Lisboa, Edições 70; 1990, p. 9.
A natureza das questões filosóficas: a insatisfação com todas as respostas
Os seres humanos primitivos limitavam-se a aceitar o mundo e a Vida tal como eram. Emprestavam-lhes uma origem, um processo, uma finalidade, um significado. Por isso, inventaram histórias explicativas, descrições cheias de beleza e de fantasia em que intervinham, quase sempre, forças sobrenaturais.
Estas histórias — mitos - representavam o primeiro esforço para uma leitura sistemática e organizada do Universo. Consistiam, sobretudo, em encontrar as origens e evocar o acto primordial da criação, fundamentalmente de todo o real.
O mito reporta-se, portanto, a um tempo fabuloso onde se desenrolaram acções exemplares.
No estudo das origens do conhecimento filosófico não se pode pensar em encontrar logo ideias claras, precisas, distintas e bem definidas. Todas as imagens primitivas do mundo aparecem-nos envolvidas numa atmosfera mística e mágica; o pensamento em que se esboça a explicação do Universo parece mais próxima do plano dos nossos sonhos do que do plano da realidade.
Esta atitude, que atribui a ordem do Universo a entidades sobrenaturais, fundamenta-se em práticas mágicas e em ritos de cultos ancestrais, ligando-se religião. Mergulha no espanto perante o mistério, no terror do desconhecido, na incerteza do destino, na procura do inteligível.
Partindo do comportamento religioso, o mito apresenta-se como uma elaboração anônima e colectiva forjada pela imaginação mas contendo já germes de racionalidade. Não se preocupa com a totalidade do real. Repara nas forças naturais mais poderosas, na sucessão cíclica dos fenómenos, nas relações mais vulgares e constantes.
Os mitos revelam tudo o que se passou, desde a cosmografia até à fundação das instituições socioculturais. Estas revelações não constituem um conhecimento no sentido restrito do termo; não esgotam o mistério das realidades cósmicas e humanas.
Esse carácter que nos parece irreal esconde, todavia, uma profunda e enérgica actividade da imaginação humana; dá-nos a impressão de que ao longo desses séculos de sonho procurou-se laboriosamente uma passagem do confuso para o definido.
Ou seja, isolam-se certos elementos da original confusão, e volta-se a associá-los, para se obter, assim, uma imagem ligeiramente mais perfeita, mais consciente e mais voluntária.
Assim nasceram durante milénios, até ao século VI a.C., os mitos que traduzem seres humanos por imagens fabulosas todos os acontecimentos e experiências que impressionaram a alma dos Homens primitivos. A criação do Homem, por exemplo, servia para descrever a sucessão dos deuses ou dos mundos em conformidade com as tradições religiosas.
Foram essas as primeiras tentativas de formulação da Ciência e da Filosofia.
Disciplinas da Filosofia
Na história da Filosofia, muitas das suas disciplinas foram-se tornando autónomas. Entre elas destacam-se a Antropologia Filosófica, a Ética, a Filosofia da História, a Teoria do Conhecimento, a Lógica, a Estética, a Metafisica, a Ontologia, a Filosofia Política, a Epistemologia, a Filosofia da Linguagem, a Filosofia da Religião, a Filosofia da Natureza, etc.
Em seguida, iremos apresentar, duma forma resumida, as questões principais que estas disciplinas da Filosofia tratam.
Filosofia da Natureza
A Filosofia da Natureza preocupa-se com a interpretação e explicação da Natureza. O termo «natureza», ou physis, possuía, para os antigos gregos, dois grandes significados: em primeiro lugar, a Natureza era entendida como um conjunto dos seres que povoam o universo, exceptuando-se deste conjunto as coisas produzidas pelo Homem. Sob este ponto de vista a Natureza tem a significação de totalidade do universo. Em segundo lugar, natureza refere-se à origem das coisas. Utiliza-se para indicar o conjunto ou as classes das coisas. Assim, nós interrogamo-nos sobre a «natureza do Homem» ou sobre a «natureza de uma determinada acção». Neste caso, «natureza» de domínio sobre as coisas, ou seja, a essência das coisas. Já desde os primeiros filósofos havia esta distinção, esta dualidade.
O contraste entre «aquilo que é por natureza» e «aquilo que é por convenção» foi discutido pelos sofistas para distinguir o que tem um modo de ser que lhe é próprio, e aquilo cuja existência e ser foi determinado pelo Homem. Por outro lado, também se discutiu se as leis, particularmente as da sociedade, derivam de um modo de ser humano ou se são o resultado de um pacto social entre os seres humanos.
Nestas discussões, o termo «natureza» tem o significado de «ter algo de si e para si»; ou melhor, aqui se destaca a essência que os seres possuem.
A Filosofia da Natureza interroga-se acerca da natureza das coisas, ou seja, o que são as coisas (essência) e de onde vêm (origem) e, a partir dai, explica os seus movimentos (causa).
Antropologia Filosófica
O problema que a Antropologia Filosófica coloca é o do próprio Homem. O que é o Homem, qual é a sua origem, a sua essência, o seu destino, questões que sempre constituíram preocupação do próprio Homem.
Os clássicos analisaram a essência do Homem a partir do universo e da Natureza, ou seja, do cosmos. Por isso, a sua concepção sobre o Homem é denominada cosmocêntrica.
Na Idade Média, o Homem é visto como uma criatura de Deus. Dai o ordenamento da concepção do Homem segundo a divindade. A visão do Homem neste período caracteriza-se como predominantemente teocêntrica. Tanto para os gregos como para os filósofos da Idade Média, o Homem é composto por duas partes: o corpo que representa a parte material, natural e mundana e a alma que representa a parte espiritual, imaterial e supra-sensível.
Na Idade Moderna, aparece o individuo pela primeira vez como sujeito da ordem, de princípios e de normas. O sujeito é autónomo. O Homem é analisado a partir de si mesmo. Esta forma de analisar o Homem denomina-se antropocêntrica.
A Antropologia, como uma disciplina filosófica, aparece entre os séculos XVII e XVIII. Aqui tenta-se analisar o Homem, não a partir de um ponto de vista metafisico, mas da sua natureza. Assim, o Homem é visto na sua singularidade.
A Antropologia Filosófica procura sempre investigar a natureza do Homem, sendo é entendida simultaneamente como uma visão comum dos conhecimentos científicos ou então como fornecedora de uma visão determinativa independente sobre o Homem. A Filosofia Moderna parte do princípio da formação não mutável do Ser humano. Por isso, caracteriza o Homem no seu valor duplo. Por um lado, é analisado de igual modo como os outros seres vivos, a partir da sua racionalidade. Por outro lado, o Homem diferencia-se dos animais através da linguagem, da consciência (da sua morte, do tempo e da História, do bem e do mal), da sua possibilidade de sorrir e de dizer «não».
Metafisica: Ontologia e Teodiceia
Desde a sua existência, o Homem procurou sempre saber o princípio e o fim de todas as coisas.
Depois do pensamento mítico que constituiu a primeira tentativa de resposta, surge a Filosofia. A Metafisica é precisamente a disciplina da Filosofia que investiga os primeiros princípios e as últimas causas. A Metafisica pode designar-se Metafisica Geral ou Ontologia quando investiga as formalidades, ou seja, a essência das coisas. Chama-se Metafisica Especial ou Teodiceia quando estuda a substância separada e imóvel, isto é, Deus. A Metafisica não procura investigar coisas particulares, mas o Ser enquanto ser, isto é, aquilo que faz com que as coisas sejam aquilo que são.
O desenvolvimento das ciências positivas ou particulares agudizou as questões fundamentais que se tinham levantado acerca da Metafisica e, em particular, as duas questões seguintes: (1) se a Metafisica é possível como ciência; (2) do que ela se ocupa.
Immanuel Kant foi o filósofo que mais se notabilizou na análise deste problema. A Filosofia Positivista, por ele constituída, defende que as proposições metafisicas não são nem verdadeiras nem falsas. A Metafisica seria abuso de linguagem. A negação da Metafisica, por vezes, implicava a negação do próprio saber filosófico. Porém, as tendências actuais antipositivistas, embora em certos casos hostis, acabaram por aceitar a Metafisica reconhecendo que a Filosofia é um pensar de certo modo metafísico; isto demonstra sobremaneira a importância da Metafísica na actualidade.
Ética
De acordo com o filósofo Immanuel Kant, são próprias da Filosofia as seguintes perguntas: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é permitido esperar? O que é o Homem?
Estas perguntas filosóficas constituem as inquietações fundamentais do Homem. Entretanto, o Homem tem um lugar de destaque em todos os temas filosóficos: O que é ele? Como viver? Como determinar o seu Ser e o sentido da sua Vida? Como ganhar e viver a sua liberdade? É disto que surge a pergunta: Que devo fazer? que é uma pergunta central para a Ética. Com efeito, o Homem vive hoje numa época caracterizada pela desorientação em relação às normas de convivência social, pela confusão em relação aos valores, pela incapacidade de tomar decisões claras sobre os problemas e desespero em torno das questões essenciais da Vida.
Fig. 11: Immanuel Kant - (1724-1804) |
É neste contexto que surge a Ética, isto é, quando a situação tomada por habitual perde a sua naturalidade, quando as normas e as instituições transmitidas de geração para geração perdem a sua validade e possibilidade de esclarecimento. A Ética aparece para submeter as normas sobre a acção do Homem, as concepções sobre valores e as instituições sociopolíticas a uma revisão da qual pode resultar a legitimação da sua manutenção, uma argumentação sobre a necessidade da sua adaptação as novas circunstâncias, ou ainda a sua rejeição.
A Ética é, portanto, a reflexão sobre a Moral, isto é, sobre o conjunto dos costumes e dos comportamentos que caracterizam a conduta humana. Ela têm, assim, a moral como seu objecto de estudo. A Moral é, pelo contrário, o conjunto de princípios, de regras, de juízos e de valores que, por serem aceites pelos membros de uma determinada sociedade, vigoram nessa mesma sociedade mesmo antes da reflexão sobre o seu significado, a sua importância e a sua necessidade. Enquanto a Moral pertencer aos factos, ela faz parte da prática humana; a Ética é da ordem teórica, pois investiga os fundamentos dessa acção humana sob o ponto de vista da bondade ou maldade, da justiça ou injustiça, do correcto ou incorreto, do obrigatório ou não e do proibido ou não.
Teoria do Conhecimento
A Filosofia tratou sempre de questões ligadas ao conhecimento, nomeadamente, o que é o conhecimento, como é que ele é produzido e como é que ele é fixado na nossa mente. A Teoria do Conhecimento, em particular, trata da relação entre o sujeito, o objecto e o conteúdo do conhecimento. Quanto a esta relação colocaram-se até agora três possibilidades.
A primeira parte do princípio de que o sujeito cognoscente pode chegar ao conhecimento sem precisar de ter experiência própria. Quer dizer, o conhecimento sobre a realidade está no próprio sujeito cognoscente.
A segunda possibilidade diz que o sujeito só pode conhecer a realidade através da experiência, o que significa que a realidade existe independentemente da actividade cognoscente do sujeito.
Finalmente, uma terceira possibilidade defende que o conhecimento sobre a realidade é dependente da capacidade do sujeito cognoscente.
No entanto, todas as possibilidades estão, num aspecto, de acordo: o processo de conhecimento constitui um processo de ascensão que vai do «senso comum» ao «saber», diferenciando-se qualitativamente um do outro. A Teoria do Conhecimento encontra-se intimamente ligada às questões da Teoria da Verdade. Esta ocupa-se de dois aspectos: por um lado, procura determinar os critérios da verdade e, por outro, procura definir o conceito da própria verdade. Neste processo procura-se clarificar a relação entre os critérios e a definição da verdade. Na história da Filosofia, as questões sobre Teoria do Conhecimento foram primeiramente tratadas pela Metafisica. Depois, a Teoria do Conhecimento tornou-se autónoma, constituindo-se, portanto, como uma disciplina singular dentro da Filosofia. Nos últimos tempos, há uma dissolução da Teoria de Conhecimento como disciplina. As questões até então por ela tratadas são abordadas na Filosofia da Linguagem, na Epistemologia e na Logística. Um destaque particular nesta dissolução da Teoria de Conhecimento é a Epistemologia. Esta é uma Teoria das Ciências, ou seja, debruça-se sobre as condições de produção e os métodos que se aplicam num tipo de conhecimento particular: o conhecimento científico.
Lógica
A palavra «Lógica» significa, do grego e em sentido restrito, «arte de pensar». Já em sentido mais lato, a Lógica é a ciência do pensamento ou do discurso racional, ou ainda, a ciência que estuda a dimensão racional do discurso. Por outras palavras, podemos falar da Lógica como uma ciência que se dedica às condições do pensamento válido, regulando o perfeito discurso da razão e oferecendo o caminho para o correcto exercício da linguagem. A Lógica Formal ocupa-se das conclusões que resultam exclusivamente das proposições e somente a partir delas podem resultar correctas. A Lógica Formal (também designada Lógica Pura ou Teórica) preocupa-se em distinguir os raciocínios verdadeiros dos falsos, independentemente do seu conteúdo. A Lógica Formal não se preocupa com o conteúdo das proposições, mas com a forma.
Na história da Filosofia, Aristóteles é considerado o pai da Lógica. Ele desenvolveu um tipo de Lógica que é conhecido por Silogística, que significa, aproximadamente, «a arte de deduzir ou de concluir». Para ele, a Lógica subdivide-se em três partes: Teoria dos Conceitos, Teoria dos Juízos e Teoria das Conclusões. Esta subdivisão permaneceu válida até ao século XIX quando começou a ficar ultrapassada devido ao desenvolvimento do método matemático no seio da Lógica.
Schuelerduden; Die. Philosophie; Editora Bibliographischen Institut Manheim; Viena; Zurique; 1985
Filosofia Política
A Filosofia Política tematiza a problemática do ser humano como ser social, isto é, que não pode viver independente dos outros. A Filosofia Política estabelece, por isso, regras e normas de conduta para a Vida em comunidade. Estas regras ou normas integram-se na evolução histórica das várias formas de organização social: os gregos tiveram como forma de organização da sociedade a Cidade-Estado (polis); os romanos, o Império Romano; o Estado-Nação vigorou na Idade Média e na Europa contemporânea.
Na actualidade, a substância da Filosofia Política é a essência e o sentido do Estado, as tarefas e as finalidades do Estado, assim como a relação entre o individuo e a sociedade. A Filosofia Política investiga também a relação triádica conflitual: individuo, Estado e sociedade.
Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.
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