Ontogénese

 3.10. Ontogénese

Os animais passam por uma série de transformações desde o ovo até ao estado adulto. Dá-se o nome de ontogénese ao conjunto de transformações que ocorrem durante esse desenvolvimento.

Fases de desenvolvimento embrionário do Homem

Os seres vivos pluricelulares, incluindo o Homem, provém da célula-ovo ou zigoto.

O ovo é uma célula diploide resultante da união de gametas haploides (fecundação), com citoplasma abundante, designado por vitelo, com duas porções: o vitelo germinativo ou protolécito, que rodeia o núcleo, e o vitelo de nutrição ou deutolécito, substância de reserva.

Figura 80: Representação da constituição do ovo.

Os ovos apresentam dois pólos: o pólo animal, onde está presente o núcleo, e o pólo vegetativo.

De acordo coma distribuição e quantidade do vitelo de nutrição (deutolécito), os ovos podem ser classificados em isoleciticos (dos equinodermes, mamífero e celenterados), heterolecititos (dos anfíbios e peixes) e telolecíticos (das aves e répteis) e centrolecítico (dos artrópodes).

O aspecto dos diferentes tipos de ovos está representado na figura seguinte.

Figura 81: Tipos de ovo.

A transformação do ovo até originar um novo individuo inclui divisões sucessivas que originam um embrião que, por sua vez, origina um novo individuo.

No processo consideram-se duas fases, o período embrionário, que se inicia com a ocorrência da fecundação e termina com o nascimento, e o período pós-embrionário, que começa com o crescimento do animal até å fase do organismo adulto.

No período embrionário, ocorrem os seguintes processos:

  • Crescimento – em que o número de células conduz ao crescimento de cada uma delas;
  • Morfogénese – fase em que ocorrem movimentos celulares em diversos locais do embrião e que levam ao aparecimento de partes fundamentais do organismo;
  • Diferenciação celular momento em que as células se especializam para originar diferentes tecidos.

No desenvolvimento embrionário humano, consideram-se as seguintes fases: segmentação, gastrulação, organogénese e cujo início é a neurulação.

Segmentação ou clivagem

A segmentação ou clivagem consiste em divisões mitóticas do ovo, que originam células chamadas blastómeros. As segmentações podem ser totais (holoblásticas) ou parciais (meroblásticas). As células resultantes das segmentações holoblásticas podem ser iguais, ou diferentes, formando células menores ou micrómeros e maiores, os macrómeros. Neste caso, a segmentação é holoblástica desigual, localizando-se os micrómeros na zona superior e os macrómeros na zona inferior.

Após as primeiras segmentações, o embrião tem o aspecto de uma bola maciça chamada mórula. Seguidamente, os blastómeros ordenam-se e começa a acumular-se líquido que produz urna cavidade, chamada blastocélio. Nesta fase, o embrião é monomérico e é designado por blástula. Na figura está representada a segmentação em diferentes ovos.

Figura 82: Tipo de segmentação (na figura, a fase da mórula).

Gastrulação

À segmentação segue-se a gastrulação. Esta fase é caracterizada pelo movimento activo de células, que levam ao desaparecimento do blastocélio e à formação de uma nova cavidade chamada arquêntero ou intestino primitivo. Surgem três camadas germinativas: ectoderme, mesoderme e endoderme nos seres tribásicos. Forma-se a cavidade do corpo ou celoma nos seres celomados. No final desta fase, o embrião designa-se por gástrula. As diferentes formas de gastrulação estão representadas na figura seguinte.

Figura 83: Tipos de gastrulação.

Organogénese

Formados os três folhetos germinativos, começam a formar-se os tecidos e os 6rgäos do embrião num processo designado por organogénese. Nos cordados, a primeira fase da organogénese designa-se por neurulação.

A neurulação caracteriza-se pelo surgimento da placa neural, uma zona achatada constituída por células epidérmicas mais espessas na região dorsal da gástrula. A placa neural estende-se ao longo da superfície dorsal do embrião. A placa neural invagina-se, originando o tubo neural.

Posteriormente o tubo neural origina o sistema nervoso. Debaixo da placa neural, forma-se a corda dorsal, a partir da diferenciação de algumas células da mesoderme. De cada lado da corda dorsal, a mesoderme organiza-se em segmentos, chamados somitos, que posteriormente formam os músculos e o esqueleto axial.

A figura seguinte representa o processo da neurulação.

Figura 84: Neurulação.

No Homem, o desenvolvimento embrionário começa ainda na trompa após a fecundação: 24 horas depois da fecundação, o ovo começa a segmentar-se progressivamente, ainda nas trompas, durante a deslocação para o útero, onde chega cerca de três dias após a fecundação.

Aqui o embrião permanece livre durante cerca de quatro dias. O embrião chega então fase de blastocisto e implanta-se na mucosa do útero, processo denominado nidação. A figura que se segue mostra as etapas do desenvolvimento embrionário no Homem.

Figura 85: Primeiras fases do desenvolvimento embrionário humano.

Os eventos mais importantes do desenvolvimento do embrião humano ao longo dos nove meses que dura a gestação são os seguintes:

  • 24 horas – primeira divisão do ovo e formação de duas células;
  • 3 dias – chegada do embrião ao útero, na fase de mérula,
  • 7 dias – nidação, o embrião está na fase de blastocisto;
  • 18 dias – ocorre a organogénese, começa a formar-se a notocórdio, o músculo cardíaco e as primeiras células sanguíneas;
  • 25 dias – forma-se o tubo neural, notam-se os primeiros esboços dos olhos e ouvidos, ocorre a diferenciação do tubo digestivo, formam-se as fendas branquiais e começa o desenvolvimento do fígado e o aparelho respirat6rio. Iniciam os batimentos cardíacos;
  • 4 semanas — aparecem as saliências dos membros e formam-se no encéfalo as partes básicas;
  • 2 meses – ocorrem os primeiros movimentos; identifica-se as gónadas. Inicia a ossificação. Os vasos principais, os vasos sanguíneos, tomam as posições definitivas;
  • 3 meses – o sexo é reconhecível externamente, o notocórdio regride;
  • 4 meses – o embrião adquire forma humana;
  • 5 meses – maturação nervosa; a mãe sente o filho a mexer;
  • 6 meses – ocorrem os primeiros reflexos, o feto chupa o polegar;
  • 7 meses – o feto abre os olhos, percebe os sons e executa movimentos mais amplos;
  • 8 meses – descida dos testículos para bolsa escrotal;
  • 9 meses – ocorre um grande crescimento do corpo e os nervos estão mielinizados. Dá-se o nascimento.

A figura seguinte mostra o aspecto do embrião/feto ao longo do seu desenvolvimento, desde a 3.a semana aos 4 meses. O período fetal começa no dia 57 (primeiro dia da nona semana) e continua até ao nascimento.

 Figura 86: Representação de embriões humanos com diferentes idades.

Anexos embrionários

Os ovos dos vertebrados terrestres, sejam eles ovíparos ou vivíparos, encontram-se envolvidos por estruturas designadas por anexos embrionários. A sua é conceder ao embrião um ambiente propicio para o seu desenvolvimento, num meio terrestre com inúmeras adversidades.

Os primeiros animais a apresentar adaptações em relação reprodução, para suportar a sobrevivência no meio terrestre, foram os répteis e as aves. A fecundação é interna e o embrião, no ovo, desenvolve-se em meio terrestre.

Os ovos dos répteis e das aves são constituídos pela casca, vitelo de nutrição (gema), Clara e embrião. A casca, de natureza calcária, apresenta poros que permitem efectuar as trocas gasosas

entre o interior e o exterior. A gema (deutolécito), fornece nutrientes ao embrião durante o desenvolvimento embrionário e a clara contém água, proteínas e agentes antibacterianos.

O embrião é protegido pelos anexos embrionários, nomeadamente, âmnio, vesicula vitelina e alantocórion (alantoide + córion). Na figura estão representados os anexos embrionários do ovo dos répteis e das aves.

Figura 87: Anexos embrionários das aves e dos répteis.

A vesicula vitelina ou saco vitelino encontra-se preso ao intestino. superfície, apresenta vasos sanguíneos que transportam substâncias alimentares da gema para o embrião. Com o desenvolvimento do embrião, o vitelo diminui.

Âmnio é a membrana que rodeia a cavidade amniótica onde se encontra o embrião envolvido pelo líquido amniótico. Este oferece ao embrião um ambiente adequado, que evita a sua desidratação e serve como amortecedor de choques.

Alantóide é uma bolsa que funciona como superfície respiratória, pois permite a realização das trocas gasosas. É nela que se acumulam os produtos de do embrião. Na fase final do desenvolvimento embrionário, a alantoide reveste internamente a casca do ovo. É responsável pela transferência dos sais de cálcio da albumina para o embrião e absorção da mesma.

Córion é a membrana que envolve todo o conjunto embrionário. A sua função é protectora. É responsável pela descalcificação da casca.

Nos mamíferos, o embrião apresenta os mesmos anexos embrionários encontrados nos embriões das aves e répteis, contudo o saco vitelinico é pouco importante em relação nutrição visto que possui poucas substâncias alimentares. A sua função é substituída pela placenta.

A alantoide é pouco desenvolvida.

O córion é a membrana que envolve o embrião, o âmnio e o saco vitelino. Participa na formação da placenta.

A placenta é uma estrutura que resulta da fusão das vilosidades coriónicas e o endométrio.

A comunicação entre a mãe e feto é feita pelo cordão umbilical.

A placenta permite a comunicação entre a mãe e o feto através do cordão umbilical. Por ele passam vasos sanguíneos, a artéria fetal, que conduz sangue arterial para o embrião, e duas veias fetais que transportam sangue venoso para a placenta.

Figura 88: Anexos embrionários do ovo de um mamífero.

A placenta tem uma função significativa para os mamíferos por realizar as seguintes funções:

  • Permite a realização das trocas gasosas entre a mãe e o embrião/feto, recebendo este o oxigénio e eliminando o dióxido de carbono;
  • Fornece substâncias nutritivas;
  • Elimina excreções do feto;
  • Regula a temperatura, pH, pressão osmótica, pressão de oxigénio e a concentração hidrossalina do meio;
  • Produz hormonas que regulam a gravidez;
  • Filtra algumas substâncias, impedindo a passagem de algumas até ao embrião.

Destino dos folhetos embrionários

Um folheto embrionário é uma camada de células que aparece no embrião humano, nos animais triblásticos formam-se três camadas de células, nomeadamente a ectoderme, a mesoderme e a endoderme que contribuem para a diferenciação dos órgãos.

Ectoderme origina a epiderme e as estruturas que nela se encontram (seus derivados), como as unhas, pêlos, escamas e glândulas. O sistema nervoso e os órgãos dos sentidos também são originados pela ectoderme.

Mesoderme origina o tecido conjuntivo, a derme, os ossos, os dentes, os músculos, o sangue, os aparelhos circulatório, excretor e reprodutor e as serosas, pleura, pericárdio e peritoneu.

Endoderme origina a parede interna do tubo digestivo, os tecidos epiteliais do fígado e o pâncreas, o revestimento interno das vias respiratórias, o epitélio dos pulmões, o ouvido médio, as trompas de Eustáquio e a bexiga.

 

Bibliografia

MANJATE, Maria Amália; ROMBE, Maria Clara. Biologia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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