Órgãos dos sentidos
3.8. Órgãos dos sentidos
Os seres vivos tom a capacidade de reagir às alterações
que ocorrem no seu meio. Essa capacidade é a irritabilidade. Os animais possuem
estruturas que lhes permitem obter informações sobre as condições internas do
seu corpo e do meio externo. Essa capacidade deve-se aos seguintes factores:
- Existência de receptores (receptores sensoriais), que captam modificações do meio e conseguem originar um fluxo nervoso na célula nervosa a que estão ligados. Os receptores sensoriais localizam-se nos órgãos dos sentidos, ou seja, órgãos sensoriais que captam estímulos como a luz, o som, variações térmicas e substâncias químicas;
- Existência de nervos condutores do fluxo nervoso, nomeadamente os nervos sensitivos, que transmitem o fluxo nervoso desde o receptor do estímulo até ao sistema nervoso central e os nervos motores, que transmitem o fluxo nervoso desde o sistema nervoso central até região do corpo que responde ao estímulo.
Os receptores sensoriais podem ser classificados de
acordo com a natureza do estímulo que podem captar em:
- Fotorreceptores especializados na captação de estímulos luminosos. Os olhos são os órgãos especializados nessa função;
- Termorreceptores especializados na captação de estímulos de natureza térmica. Esses receptores estão distribuídos pela pele de todo o corpo, na espécie humana;
- Quimiorreceptores especializados na detecção de substâncias químicas. Estão localizados na língua e no nariz;
- Mecanorreceptores especializadas na captação de estímulos mecânicos, nomeadamente, compressão e estiramento da pele e dos órgãos internos. Os mecanorreceptores que detectam as variações na pressão do ar (captação de ondas sonoras) são os fonorreceptores; os que são responsáveis pela detecção da posição do corpo, relativamente á forca da gravidade (equilíbrio) são designados por estatorreceptores. Estão localizados nos ouvidos.
3.8.1. Estrutura e função dos órgãos dos sentidos
Os sentidos principais são a visão, a audição e o equilíbrio,
o olfacto, o gosto ou paladar e o tacto.
O olho – estrutura e função
Os olhos são os órgãos responsáveis pela visão. Têm
forma esférica e estão localizados nas órbitas, cavidades profundas existentes
no crânio, presos por músculos que, além de prendê-los, permitem a sua
mobilidade. Os olhos estão protegidos pelas pestanas e pelas pálpebras,
revestidas na superfície interior por um epitélio delgado chamado conjuntiva,
que participa na sua lubrificação, espalhando fluido sobre a superfície do olho
e impedindo que ele seque. As glândulas lacrimais produzem lágrimas que
conservam a superfície do olho húmida. As lágrimas arrastam partículas
estranhas existentes no olho para fora e nelas existe uma enzima capaz de
destruir bactérias.
Os constituintes do olho podem ser observados na figura que se segue:
Figura 57: Estruturas constituintes do olho
Do exterior para o interior estão dispostas três camadas: esclerótica, coroide e retina.
A esclerótica consiste numa camada fibrosa e
resistente sem elasticidade que recobre o globo ocular.
A coroide é um tecido localizado debaixo da esclerótica,
ao longo da sua superfície interna. Possui vasos sanguíneos, formando uma rede,
que abastecem o olho em alimento e oxigénio.
Devido ao pigmento negro que possui, reduz a reflexão da
luz no interior do olho. A sua superfície anterior é revestida pela conjuntiva.
A retina é a camada de células sensíveis à luz. Devido å
forma que as células possuem, são designadas por cones e bastonetes. Os cones são
sensíveis luz colorida e os bastonetes são mais sensíveis ao preto e ao branco,
ou seja, mais sensíveis à luz de baixa intensidade.
Humor aquoso e
humor vítreo são soluções de sais, glícidos e proteínas em água.
O humor vítreo é gelatinoso e o humor aquoso, mais fluido. A função
de ambos é a de auxiliar a refracção da luz a produzir a imagem na retina. A
forma do olho mantém-se graças à pressão que os referidos líquidos exercem na
esclerótica. É no humor aquoso que as células vivas não irrigadas absorvem alimentos
e oxigénio.
O cristalino é uma lente, cuja função é dar continuidade refracção
da Luz iniciada na córnea. O objectivo é formar a imagem na retina. O
cristalino mantém-se em posição por filamentos que o prendem ao corpo ciliar,
bordo espessado da coroide, à volta do cristalino. As contracções e o
relaxamento dos músculos do corpo celular podem alterar a forma do cristalino.
A capacidade de variação da convergência do cristalino designa-se por acomodação
visual.
A iris é um disco opaco de tecido que, no centro, possui
um orifício chamado pupila, através do qual passa luz responsável pela de uma
imagem na retina. As fibras musculares circulares e radiais da iris fazem
variar o tamanho da pupila, regulando deste modo a intensidade de luz que entra
no olho. A cor dos olhos, resulta dos vasos sanguíneos e de uma camada de
pigmentos. Quando não há pigmentos, os olhos apresentam-se de cor azul, que se
deve combinação do fundo preto, dos capilares e das camadas externas de iris,
de cor branca.
Ponto cego é
uma região sem células sensíveis luz. Se urna imagem ocorre nesta região, não é
detectada pelo encéfalo. Neste ponto, as fibras nervosas deixam o olho e entram
no nervo óptico.
Fóvea é
a região da retina que só contém cones. Dá melhor interpretação de uma imagem
(forma e cor) pois nela existe a maior concentração de células sensíveis.
Consiste numa depressão no centro da retina.
O processo da formação da imagem na retina é explicado na
figura em baixo.
Figura 58: Formação da imagem na retina. |
Na visão podem ocorrer anomalias como, por exemplo, a hipermetropia e a miopia.
Na hipermetropia, a imagem dos objectos próximos do olho
é formada atrás da retina. Esta anomalia pode ser corrigida pelo uso de lentes
convergentes. Na figura seguinte, representa-se a hipermetropia (A) e a
respectiva correcção (B).
Figura 59: Hipermetropia (A) e correcção (B). |
A hipermetropia é causada por globos oculares pequenos ou cristalinos «fracos». A luz de um objecto distante é focada na retina mas a de um objecto próximo é focado atrás da retina.
- A hipermetropia pode ser corrigida pelo uso de lentes convergentes.
Na miopia, a luz do objecto distante é focada
frente da retina. Pode ser corrigida pelo uso de lentes divergentes. A formação
de imagem num míope está representada na figura seguinte:
Figura 60: Miopia (A) e correcção (B). |
A miopia é causada geralmente por globos oculares grandes. A luz de um objecto distante é focada frente da retina.
- A miopia pode ser corrigida pelo uso de lentes
divergentes.
O ouvido
É o órgão sensorial responsável pelo sentido da audição e do equilíbrio.
Figura 61: Constituição do ouvido humano.
No ouvido, distinguem-se as três seguintes regiões.
- Ouvido externo: um canal que abre do lado da cabeça e conduz até a uma membrana denominada tímpano. Na abertura externa, existe a orelha, uma projecção de pele e cartilagem com a função de ajudar a concentrar e a dirigir as vibrações para o interior do ouvido. Ajuda a determinar a direcção da proveniência dos sons.
- Ouvido médio: uma cavidade do crânio que se encontra cheia de ar e comunica com a cavidade local através de um canal chamado trompa de Eustáquio, que se abre na faringe. Permite que o ouvido médio esteja em ontacto com o ar do meio externo. Graças à trompa de Eustáquio, a pressão do ar é igual dos dois lados da membrana do tímpano. Isso facilita ambientar os ouvidos às variações das pressões. No ouvido médio, existem os ossículos, nomeadamente, martelo, bigorna e estribo, que ligam as membranas do tímpano a uma abertura no crânio chamada janela oval, que comunica com o ouvido interno.
- Ouvido interno: o local em que as vibrações sonoras são transformadas em impulsos nervosos. O ouvido interno encontra-se cheio de linfa. Consiste num tubo enrolado em forma de caracol, designado por cóclea. Esta é responsável pela audição.
Dentro da cóclea, existe o órgão de Corti, que
capta os estímulos causados pelas ondas sonoras. O órgão de Corti
encontra-se na membrana basilar da cóclea. Por cima do órgão de Corti, existe a
membrana tectónica, sobre os pêlos das células sensoriais.
O sentido da audição ocorre do seguinte modo: os sons são
captados pela orelha que os encaminha ao canal auditivo. As ondas sonoras fazem
vibrar o ar no canal do ouvido e essa vibração é transmitida ao tímpano que, por
sua vez, vibra. Essa vibração movimenta o martelo, que causa a vibração da
bigorna e esta faz vibrar o estribo. Portanto, os ossículos ampliam as vibrações.
A base do estribo liga-se à janela oval (na membrana
coclear), fazendo-a vibrar. Essa vibração chega ao líquido existente na cóclea,
que se movimenta. O movimento do líquido faz vibrar a membrana basilar e as
células sensoriais, cujos pêlos, encostando-se membrana tectórica, geram
impulsos nervosos. Esses são transmitidos pelo nervo auditivo ao centro de audição
no cérebro.
O sentido do equilíbrio
No ouvido interno, existem os órgãos responsáveis pelo equilíbrio
e pela postura. Trata-se do utrículo, do sáculo e dos canais semicirculares,
representados detalhadamente na figura seguinte.
Figura 62: Órgãos do equilíbrio. |
O sáculo e o utrículo são bolsas cheias de líquido, assim como os três canais curvos que se designam por canais semicirculares. No sáculo e no utrículo, existem grânulos calcários chamados otólitos, contidos em placas gelatinosas, sobre porções sensitivas do epitélio de revestimento.
Fibras sensoriais localizadas entre os otólitos, detectam
quando a cabeça é inclinada devido ao movimento dos otólitos. Devido a esta
estimulação, gera-se um impulso nervoso que, chegando do encéfalo, origina um
reflexo que faz o corpo regressar à posição normal.
Na base dos canais semicirculares, existem dilatações
designadas por ampolas, que contém aglomerados de células sensoriais envolvidas
por uma massa gelatinosa. Nas ampolas existem 6rgäos sensoriais que respondem
aos movimentos do fluido. Os canais semicirculares são estimulados por
acelerações circulares nos respectivos planos, pois os três canais estão em
planos perpendiculares e são estimulados por rotação nos seus respectivos
planos.
O nariz
O Homem tem conhecimento do cheiro das substâncias
através dos receptores sensoriais localizados no epitélio olfactivo, no tecto
das cavidades nasais. As substâncias transportadas solúveis no muco estimulam
as células sensoriais. Provavelmente, existem alguns tipos básicos de células
de olfacto, sendo cada tipo responsável pela captação de um tipo de cheiro. A
distinção dos odores são consequência de integração de impulsos gerados no
centro olfactivo no cérebro.
Na figura seguinte, está representado o epitélio
olfactivo.
Figura 63: Epitélio olfactivo. |
A língua
Os receptores para o sentido do paladar ou gosto estão localizados na periferia das paredes de pequenas saliências chamadas papilas gustativas, à superfície da língua. Consideram-se quatro tipos de receptores sensoriais para o gosto, distribuídos em diferentes zonas, como se representa na figura seguinte.
FIGURA 64: Localização dos receptores sensoriais para o gosto.
Os diferentes sabores que encontramos nos alimentos são resultado do nível de estímulo produzido em cada um dos quatro tipos de receptores sensoriais para o gosto. Os quatro sabores básicos são doce, ácido, salgado e amargo.
Na superfície livre das células sensoriais, há saliências
agrupadas próximo do poro da papila.
Por esse poro, as substâncias dissolvidas na saliva podem
penetrar e estimular as células sensoriais. Das papilas gustativas partem
fibras nervosas, condutoras do impulso nervoso até ao cérebro.
Como resposta, tem-se a noção do sabor das substâncias.
A pele
Na pele estão localizados receptores sensoriais de estímulos
mecânicos. Cada um dos receptores origina um impulso nervoso, sempre que é
deformado. Os receptores são terminações nervosas livres, algumas das quais
detectam a dor, outras o frio e outras ainda o calor.
As terminações de alguns neurónios associam-se aos folículos
pilosos. São estimulados quando esses vergam. Outros associam-se
a tecido conjuntivo, formando mecanorreceptores, como os corpúsculos de
Meissner, superficiais e sensíveis a deformações ligeiras. Fornecem-nos
a sensação de contacto.
Os corpúsculos de Vater-Pacini são responsáveis
pela sensação de pressão, são mais profundos e são sensíveis a compressões
demoradas.
Os corpúsculos de Merkel, tal como os corpúsculos
de Meissner, são receptores de pressão e localizam-se na ponta dos dedos,
nas palmas das mãos, nos lábios e nos mamilos, ou seja, nas regiões mais sensíveis
da pele.
Um estímulo mecânico intenso na pele produz a sensação de
dor. O calor, o frio e algumas substâncias químicas causam essa mesma sensação.
Os corpúsculos de Ruffini são responsáveis pela sensação do calor e os corpúsculos de Kraus pela sensação do frio.
Figura 65: Representação da pele Humana e dos receptores sensoriais.
Bibliografia
MANJATE, Maria Amália; ROMBE, Maria Clara. Biologia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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