Sistema excretor
3.5. Sistema excretor
Os seres vivos têm a capacidade de manter o seu meio
interno constante independentemente das variações do meio externo, do pH, da
temperatura, etc.
As principais funções do sistema excretor são:
- Osmorregulação — mecanismos de controlo de concentrações de água, sais (pressão osmótica de fluidos corporais);
- Excreção de substâncias tóxicas de origem celular;
- Eliminação de resíduos nitrogenados.
Osmorregulação
Os seres vivos possuem células capazes de perder ou
ganhar água por osmose. Ao longo da evolução dos animais, também houve evolução
da capacidade de manter o equilíbrio osmótico (osmorregulação).
Os animais da água doce apresentam maior
concentração de sais no organismo do que no ecossistema em que vivem. Por isso,
absorvem muita água por osmose. Eliminam urina bastante diluída, o que poderia
causar diluição dos líquidos corporais, mas isto não acontece porque têm
capacidade de absorver o sal da água em que vivem através do epitélio que
reveste as brânquias.
Os animais marinhos têm líquidos corporais
menos concentrados que o ecossistema em que vivem, por isso, perdem água por
osmose e, em compensação, bebem água do mar e eliminam o excesso de sais
através das brânquias.
Os répteis e aves marinhas bebem água do
mar e possuem um rim sem capacidade de concentrar a urina, mas apresentam a glândula
excretora de sal na cabeça, que elimina o excesso de sais. Os mamíferos
marinhos bebem água do mar e eliminam urina bastante concentrada.
Figura 34: Regulação osmótica nos peixes de água doce e nos peixes de água salgada. |
Os animais terrestres consomem água directamente ou através do consumo de alimentos onde ela se encontra sob a forma de solução aquosa. Estes animais devem evitar a perda da água para não ficarem desidratados. Por isso, alguns animais desenvolvem adaptações para evitar a perda excessiva da água. Por exemplo, os moluscos desenvolvem conchas e os insectos desenvolvem esqueletos com quitina.
Para manter o equilíbrio osmótico, os animais terrestres
bebem água suficiente para compensar a perda da água.
Excreção de substâncias tóxicas
O consumo de alimentos ricos em proteínas leva a que
todos os animais eliminem compostos nitrogenados, especialmente sob a forma de amónia,
ácido úrico e ureia.
A amónia é uma substância bastante tóxica e deve
ser imediatamente eliminada, mas, devido à sua solubilidade em água, difunde-se
facilmente para o meio e deve ser convertida em substância menos toxica (a
ureia).
Os animais terrestres eliminam ácido úrico como
forma de economizar água, pois é menos tóxico e pode ser eliminado sob a forma
de cristais.
Os animais, em função da substância de excreção,
classificam-se em:
- Amoniotélicos (eliminam amónia);
- Ureotélicos (eliminam ureia);
- Uricotélicos (eliminam ácido úrico).
Os mamíferos eliminam ureia, as aves eliminam o ácido
úrico, os répteis anfíbios e os peixes eliminam amónia e ureia.
Principais substâncias de excreção
|
Animais |
Resíduos Azotados |
Animais Aquáticos |
Peixes |
Amónia |
Animais terrestres |
Aves |
Ácido úrico |
Insectos |
||
Répteis |
||
Mamíferos |
Ureia |
|
Alguns anfíbios |
Evolução dos sistemas excretores
As esponjas e os cnidários não apresentam (órgãos de excreção.
Eliminam os seus produtos de excreção por difusão através da superfície da pele
em contacto com a água.
Pouco a pouco, foram surgindo, nos invertebrados, órgãos
especializados para a excreção: nefrídios (maioria dos invertebrados), protonefrídios
com células-flama (platelmintes), metanefrídios (anelídeos e
moluscos), tubos de Malpighi (insectos e artrópodes terrestres) e o rim
nos vertebrados.
Os metanefrídios encontram-se nos anelídeos e nos
moluscos. São tubos abertos que se encontram nas extremidades dos segmentos e
apresentam duas aberturas, uma interna, o nefróstomo, com aspecto de um funil,
e o poro exterior, que se localiza na superfície do corpo.
Os tubos de Malpighi são órgãos de dos artrópodes.
São tubos que removem os produtos de excreção das lacunas corporais e
precipitam os cristais de ácido úrico, que poderão ser arrastados com água até
aos intestinos e eliminados com as fezes.
Figura 36: Excreção nos insectos: o exemplo do gafanhoto. |
O Rim é o órgão de excreção dos vertebrados. Apresenta três variedades, o prónefro, o mesonefro e o metânefro, que ocorrem ao longo do desenvolvimento embrionário dos vertebrados.
O prónefro localiza-se na região anterior,
cervical, e é constituído por nefrídios abertos. Ocorre em todos os embriões de
vertebrados e em alguns ciclóstomos adultos. Elimina excreções retiradas do
celoma.
O mesonefro localiza-se na região média ou torácica,
é constituído por nefrídios abertos associados a glomérulos que removem
excreções do celoma através da cápsula de Bowman directamente do sangue. Ocorre
em alguns peixes, anfíbios adultos, embriões de répteis, de aves e de
mamíferos.
O metânefro localiza-se na região abdominal, é
constituído por glomérulos e pela cápsula de Bowman que retiram do sangue
produtos de excreção para serem eliminados. Ocorrem nos répteis, nas aves e nos
mamíferos adultos.
Figura 37: Evolução do rim dos vertebrados. |
Estrutura e função do rim do Homem
O rim é um órgão par localizado na região dorsal,
na linha da cintura pélvica de cada lado da coluna vertebral. Tem a forma de um
feijão. Apresenta duas regiões, córtex e medula. Faz parte do aparelho urinário
do Homem. Este é constituído por dois ureteres, bexiga e uretra.
Na zona medular, encontra-se a cápsula renal e na zona
cortical encontram-se nefrónios que formam a unidade estrutural e funcional do
rim. Os nefrónios são responsáveis pela formação da urina.
Figura 38: Rim humano. |
O nefrónio é constituído por glomérulos de Malpighi, pela cápsula de Bowman, pelos tubos proximal e distal, ansa de Henle e tubo colector.
Figura 39: Estrutura do nefrónio. |
Processo de formação da urina
O processo de formação da urina compreende três fases: filtração,
reabsorção e secreção.
A filtração ocorre no glomérulo de Malpighi. A arteríola
aferente com pressão anteral de 70-80 mmHg transporta sangue arterial para o
glomérulo onde ocorre a filtração do plasma sanguíneo. As substâncias de baixo
peso molecular como água, glicose, ureia, vitaminas, aminoácidos, etc.,
atravessam o endotélio capilar para a cápsula e constituem o filtrado
glomerular.
As proteínas e lípidos, devido ao seu elevado peso
molecular, não atravessam o endotélio capilar.
Ao longo dos tubos distal e proximal, ocorre a reabsorção
das substâncias que constituem o filtrado glomerular. Algumas substâncias como
glicose, vitaminas, aminoácidos, são absorvidas por transporte activo e outras,
água por exemplo, são reabsorvidas por osmose. As substâncias reabsorvidas
entram novamente para o sistema circulatório.
Secreção é a
capacidade de segregar substâncias directamente do sangue para serem expelidas,
tais como as penicilinas, caso estejam presentes, e grandes quantidades de K+
e H+.
A ureia não é reabsorvida qualquer que seja a sua
quantidade, pois é o principal constituinte da urina.
Figura 40: Formação da urina. |
Regulação e reabsorção da água
Existem dois mecanismos de regulação dos líquidos corporais.
- a) Hormona antidiurética (ADH) – é sintetizada pelo hipotálamo e libertada pela hipófise. Actua sobre os tubos renais (distal e proximal), permitindo uma melhor reabsorção da água que constitui o filtrado glomerular. Quando há menor consumo da água e o sangue fica mais concentrado, os osmorreguladores detectam esta anomalia e estimulam a produção da ADH, que actua sobre os tubos renais, reabsorvendo mais a água. A urina fica concentrada e a quantidade da água eliminada na urina diminui.
O consumo regular da água provoca o efeito contrário —
ocorre inibição da produção da ADH.
Os tubos ficam menos permeáveis água e a urina fica diluída.
- b) Aldosterona – aumenta a reabsorção de sódio nos tubos renais, causando uma grande retenção da água no organismo.
Algumas doenças do sistema excretor
Gota — é uma doença relacionada com elevados níveis de ácido
úrico no sangue; decorre da deposição de cristais do ácido nos tecidos e nas
articulações. E uma afeção comum, com maior incidência entre os 30-50 anos de
idade, com predomínio no sexo masculino (95%). No sexo feminino, ocorre
geralmente após a menopausa.
Infecção urinária —
é uma infecção que afecta o trato urinário. Embora a urina contenha uma
variedade de fluidos, sais e produtos que o metabolismo excreta, não possui
bactérias. Quando as bactérias entram na bexiga ou nos rins, e se multiplicam
na urina, causam uma infecção. O tipo mais comum é infecção da bexiga urinária,
também conhecida como cistite. Outro tipo é a infecção renal, conhecida como
pielonefrite, que é muito mais grave. Embora causem desconforto, as infecções
do trato urinário são tratadas facilmente com medicamentos adequados. Os
sintomas mais comuns são dor ao urinar, vontade anormal de urinar e comichão.
Cálculos renais —
são mais conhecidos como pedra no rim. São formações sólidas de sais minerais e
de uma série de outras substâncias. Essas cristalizações podem descer pelas
vias urinárias, causando dor. Estas «pedras» podem atingir os mais variados
tamanhos, desde pequenos grãos até o tamanho do próprio rim.
Bibliografia
MANJATE, Maria Amália; ROMBE, Maria Clara. Biologia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
Comentários