As correntes do pensamento antropológico: o funcionalismo
As correntes do pensamento antropológico: o funcionalismo
Objectivos:
- Distinguir as duas escolas do pensamento funcionalista;
- Identificar os principais expoentes desta corrente antropológica.
- Descrever o funcionalismo mencionando as suas principais características.
O funcionalismo
opõe-se ao evolucionismo e ao difusionismo privilegiando, já não uma abordagem
diacrónica (ao longo do tempo), mas sim uma abordagem sincrónica da sociedade.
Trata-se de compreender como funciona uma sociedade. Para isso, o conhecimento
da sua história pode ser útil, mas não necessário. Para se compreender como
funciona uma língua, estuda-se a gramática, a fonética, a fonologia, etc.; mas
não é necessário estudar a história das palavras. Dois são os pólos mais salientes
do funcionalismo: o funcionalismo de Bronislaw Malinowski e o funcionalismo de
Radcliffe-Brown.
A. O Funcionalsimo de Bronislaw Malinowski
Bronislaw Malinowski
foi um dos expoentes da antropologia funcionalista britânica da primeira metade
do século XX. Para ele, devido à influência de Wilhelm Wundt, cada sociedade
deveria ser estudada como um “todo”, como um organismo possuidor de uma lógica
interna e singular, subdividido através de de uma complexa rede de relações
entre os indivíduos. Ele também acreditava que a análise antropológica deveria
se realizar de forma sincrônica, imediata e levando em conta os factores
sociais, psicológicos e biológicos dos nativos.
Para compreender a
complexidade social das diferentes sociedades o funcionalismo de Malinowski,
conhecido como biopsicológico, defende que as instituições sociais têm como
função satisfazer as necessidades biológicas dos indivíduos. Ou seja, segundo a
definição de Laplantine (2003), cada pessoa possui um conjunto de precisões,
cabendo a cultura desenvolver diferentes maneiras de resolver essas
necessidades, de forma colectiva, através das instituições.
No livro Uma
Teoria Científica da Cultura, Malinowski (1970) afirma que a cultura
representa a totalidade social, o conjunto de todas as instituições, um
“ambiente artificial”, uma forma de resolver as necessidades humanas. O mesmo
define função como uma acção colectiva responsável por satisfazer uma
necessidade (fome, procriação, protecção, etc.). Mas, para que isso ocorra, é
preciso que haja cooperação, organização entre os indíviduos. A organização,
por sua vez, precisa de um arranjo, de uma estrutura bem definida, a
qual se chama instituição.
Para que uma instituição
possa existir, um conjunto de valores tradicionais que dizem respeito a
essa instituição necessita ser aceite pela colectividade, bem como é
necessário que haja uma relação entre as pessoas e com o ambiente físico e com
a cultura. Para o autor há um conjunto de elementos que caracterizam a
instituição, a saber:
O Pessoal: pois toda a instituição funciona
graças aos indivíduos que a compõem cada um dos quais realizando uma função
determinada.
O Estatuto: é para o autor a posição que
cada indivíduo ocupará na instituição e em função da qual espera um certo
reconhecimento por parte dos outros integrantes da instituição.
A Função: é justamente o papel que cada
indivíduo irá desempenhar na instituição, isto é, o conjunto de expectativas
que os membros da instituição têm para com cada um dos seus membros.
As normas e
sanções: Malinowski
observa que qualquer instituição só cumpre os propósitos para os quais foi
criada se cada membro do grupo cumprir as suas funções, isto é, se obedecer as
normas da instituição. Observa ainda que fazer cumprir essas funções, o grupo
institui um conjunto de sanções ou de recompensas que orientam as actuações dos
seus membros.
A satisfação de
necessidades: Malinowski
observa que qualquer instituição só cumpre os propósitos para os quais foi
criada se cada membro do grupo cumprir as suas funções, isto é, se obedecer as
normas da instituição. Observa ainda que para fazer cumprir essas funções, o
grupo institui um conjunto de sanções ou de recompensas que orientam as
actuações dos seus membros.
O pesquisador da
área de antropologia, na visão de Malinowski, dentro da perspectiva
funcionalista, deve observar cada detalhe da cultura estudada, por mais simples
que possa parecer, a fim de reconstruir de forma precisa a lógica daquela
cultura. Por isso, é importante a observação participante, uma
metodologia desenvolvida por Malinowski, resultante do aperfeiçoamento do
trabalho de campo, onde o observador convive durante um longo período com a
colecctividade por ele estudada, participando de todas as actividades, do
dia-a-dia, no intuito de apreender toda a complexidade da cultura.
B. O Funcionalismo de Radcliffe-Brown
Alfred Reginald
Radcliffe-Brown (1881-1995) foi discípulo de Malinowski, os seus estudos
centram-se nos conceitos de estrutura e função em que apela para a
analogia com os organismos vivos.
A estrutura deve ser
entendida como uma série de relações entre entidades. Assim, como a estrutura
da célula realiza um sem-número de relações entre moléculas complexas, a
estrutura da sociedade também o faz em relação às várias partes que a compõem,
cada uma das quais cumprindo uma função específica.
Radcliffe-Brown
fundou uma abordagem teórico-antropológica conhecida como
estruturo-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada como uma
“totalidade”, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de
um modo mecânico para manter a estabilidade social. Como
estruturo-funcionalista, as preocupações de Radcliffe-Brown estavam ligadas à
descoberta de princípios comuns entre as diversas estruturas sociais, o
significado dos rituais, dos tabus e mitos e suas funções exercidas na
manutenção da sociedade.
Radcliffe-Brown
introduziu dois conceitos básicos na literatura antropológica: significado e
função social. Segundo o autor, para compreender um determinado ritual é
necessário, inicialmente, encontrar seu significado, isto é, os sentimentos que
ele expressa e as razões que os nativos apontam, para em seguida identificar
sua função social naquilo que é importante para assegurar a coesão social
necessária para a subsistência do grupo.
O sistema de parentesco
foi um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-o, mesmo, como
elemento fundamental para a compreensão da organização social em sociedades de
pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que
impõem direitos e deveres.
Bibliografia
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