Características da Cultura
Características da Cultura
Na lição anterior
destacamos os elementos que corporizam a cultura. Nesta lição vamos falar de
algumas características da cultura. Para MARTINEZ (2009) a cultura possui as
seguintes características fundamentais.
i. A
cultura é simbólica
– porque é um
conjunto de significados e valores transmitidos necessariamente através dos
símbolos e sinais. A cultura enquanto produção humana compõe um universo
simbólico cuja rede de relações e significações lançam o homem num mundo
codificado e repleto de referentes não-arbitrários (porque estabelecidos
convencionalmente) mas cuja ambivalência (ou mesmo plurivalência) de objectos e
significados são constantemente interpretados. Os factos sociais são
simbólicos. Desta forma, a cultura é simbólica pois pode ser considerada como
um conjunto de sistemas simbólicos, como por exemplo a linguagem, as regras
matrimoniais, as relações económicas, a arte, a ciência, a religião, entre
outros.
ii. A
cultura é social –
visto que não
existem manifestações culturais isoladas. Um indivíduo pode produzir
individualmente, mas essa produção passa a ter significado pelo e para o grupo
quando passa a ser uma produção significativa para esse grupo. Por causa do seu
carácter simbólico, ela é transmitida e comunicada. Os hábitos, os costumes, a padronização
do comportamento são processos sociais pertencentes ao grupo e não ao
indivíduo.
iii. A
cultura é selectiva –
ela é um
contínuo processo que implica sempre reformulações. Este processo se acentua na
sucessão das gerações, onde alguns
valores são
relegados ao esquecimento, e outros novos são integrados, ditando, deste modo,
novos padrões de vida diferentes. Entre duas ou mais culturas pode se dar um
processo que se inicia com a avaliação de novos elementos, terminando com a
aceitação ou rejeição destes na cultura em causa, como por exemplo, a adopção
de técnicas avançadas que implica necessariamente um problema económico,
fazendo com que as técnicas obsoletas sobrevivam ao lado das técnicas
avançadas.
iv. A
cultura é dinâmica e estável – Seu
dinamismo se manifesta no processo de recriação e reinvenção cultural encarando
novas mudanças. Trata-se de mudanças que consideramos estruturais, pois é
próprio da cultura o movimento interno de funcionamento e crescimento,
reformulando-se constantemente. Neste sentido podemos afirmar que a cultura
nunca é a mesma. Ela cresce e se desenvolve como um ser vivo, que se deixar de
respirar morre. O funcionamento, o crescimento e as mudanças acontecem em
primeiro lugar por forças endógenas. MARTINEZ (2007:51) afirma que “uma
cultura abstracta, estática, repetitiva, sempre igual a si mesma está chamada a
desaparecer”. Para além de causas exógenas, existem forças exógenas na
cultura que a fazem a mudar e transformar. A cultura é também dinâmica através
da acção directa dos próprios membros da sociedade que provocam mudanças
conscientes: a cultura experimenta a mudança desejada e consciente. Perante
certas situações, os próprios membros da cultura acometem conscientemente as
mudanças.
Por sua vez, a estabilidade
refere-se à “tradição e a institucionalização de padrões de comportamento”
tendo em conta que tradição não é sinónimo de repetição. A estabilidade
cultural leva-nos a reflectir sobre a autenticidade cultural, da originalidade
da cultura. Na cultura há sempre algo de estável, que de alguma maneira a
protege dos inevitáveis processos de mudança.
v. A
cultura é universal e regional. É universal na medida em que é um fenómeno universal e
nunca ter sido constatada a existência de seres desprovidos de cultura. Tendo
essa universalidade podemo-nos referir aos aspectos que são comuns a todas as
culturas e que denominamos “universais culturais”. Um exemplo elucidativo dos
“universais culturais” é que todos os povos sentem as mesmas necessidades de
subsistência, de alimentação, de defesa dos perigos da natureza e dos animais,
da comunicação com outros seres humanos, da satisfação das apetências sexuais,
do respeito, da amizade, da ordem social e outros. É regional não porque seja diferente
do fenómeno geral ou da cultura universal mas pelo facto de cada grupo social
alimentar seus interesses e tarefas dentro do conjunto cultural próprio,
conforme as situações próprias e as suas necessidades particulares.
vi. A
cultura é determinante e determinada. É determinante quando se impõe aos
indivíduos e estes pouco podem fazer no sentido de fugir dos padrões da
cultura; ela determina o comportamento humano, é responsável pela padronização
do comportamento humano. A cultura é determinada pelo homem, pois ele é o
agente activo da própria cultura. As mudanças culturais surgem do esforço
adaptativo do homem frente à realidade que o cerca: o domínio do meio ambiente,
da sua própria sobrevivência, conforto e satisfação, seja no domínio da
estética e da inteligência.
Bibliografia
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos.
MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para estudo. Paulinas Editorial, 5ª edição, Maputo, 2007.
SANTOS, Armindo dos. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Social. Universidade Aberta, 2002.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo, Brasiliense, 2003.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed., Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.
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