Movimento Rectilíneo Uniformemente Variado
Movimento Rectilíneo Uniformemente Variado
Revisão
de alguns conceitos cinemáticos
Na 8ª
Classe, iniciou o estudo da Cibernética que é o ramo da Mecânica que estuda o
movimento dos corpos sem se preocupar com as suas causas. Agora, ao terminar a
10ª Classe, vai novamente retomar o tema «Cinemática», para estudar, mais
detalhadamente, um dos mais importantes movimentos da Natureza, o Movimento Rectilíneo
Uniformemente Variado (MRUV), mas para isso, recorde-se de alguns conceitos
importantes:
a) Ponto material ou partícula: é um
corpo cujas dimensões podem ser desprezadas quando comparadas com as demais dimensões
envolvidas. É como se toda a massa do corpo estivesse concentrada num único
ponto, por isso, embora o ponto material não tenha dimensões físicas, ele
possui massa. Considere um automóvel em duas situações:
- Fazendo
manobras dentro de uma garagem, ele não pode ser encarado como um ponto
material, porque devemos levar em conta o seu comprimento, largura e a altura
para que não haja colisão.
- Fazendo
o percurso de 20 km entre duas cidades, D e E, (Fig. 4.1 B), ele pode ser
considerado um ponto material, porque os seus 4 m de comprimento tornam-se desprezíveis
se comparados aos 20 000 m de percurso. Ao ponto material também é costume
chamar-se «partícula» ou «móvel».
Figura 4.1: A – Automóvel como corpo extensor; B – Automóvel como ponto material. |
Ponto material é
uma idealização física que despreza as dimensões do corpo, por serem muito
pequenas em relação as distâncias que ele percorre. O ponto material não possui
dimensões, mas possui massa.
b) Movimento e repouso: dizemos
que um corpo se encontra em repouso, sempre que a sua posição não se modifica
no decorrer do tempo, em relação a um certo referencial.
Dizemos
que um corpo se encontra em movimento, sempre que a sua posição se alterar no
decorrer do tempo, em relação a um certo referencial.
O passageiro
A está em repouso em relação ao passageiro B e ao motorista (M) e vice-versa,
porque a distância entre eles não se altera, contudo, os passageiros, A e B, e
o motorista M, estão em movimento em relação pessoa P, porque a distância entre
eles varia com o tempo.
Figura 4.2: Repouso e movimento. |
Um
corpo está em movimento, se a distância entre ele e um outro corpo que
se toma como referência, variar com o tempo.
Um
corpo está em repouso, se a distância entre ele e um outro que se toma
como referência, não varia com o tempo.
Os
conceitos de repouso e de movimento são relativos, pois dependem do referencial
adoptado para se fazer a observação.
c) Trajectória: considere um móvel que esteja
em movimento para um dado referencial.
Portanto,
a posição desse móvel, em relação ao referencial, altera-se no decorrer do
tempo.
Se
unirmos as sucessivas posições do móvel por uma linha continua, obteremos a trajectória
descrita pelo móvel.
Figura 4.3: A união das sucessivas posições de um corpo em movimento, dá-nos a sua trajectória. A trajectória da bola é parabólica. |
Trajectória é a linha imaginária descrita por um móvel durante o seu movimento. Ela pode ser retilínea ou curvilínea. As trajectória curvilíneas podem ser, por exemplo, circulares, parabólicas, elípticas, dependendo da sua forma.
d) Posição, espaço percorrido e tempo: considere um carro deslocando-se em linha recta
numa estrada. No estudo do movimento do automóvel devemos ter em conta os seguintes
elementos:
- Origem da estrada (0): é o
ponto (zero) onde tem início a estrada por onde o carro se vai deslocar.
Figura 4.5: Posição e distância percorrida por um corpo.
- Tempo inicial (to): é o instante em que começa a contagem do tempo,
isto é, o momento em que inicia o estudo do movimento.
- Posição inicial (So): é o ponto que nos indica onde o automóvel
estava, em relação à origem, no instante em que começou o estudo do movimento.
A posição inicial indica-nos a distância entre a origem da estrada e o ponto de
partida.
- Tempo (t): é
o instante em que termina o estudo do movimento.
- Posição final (S): é a posição em que o carro se encontrava, em relação
origem da estrada, quando o estudo do movimento terminou.
- Tempo de percurso (intervalo de tempo, Δt): indica-nos
durante quanto tempo o automóvel se deslocou enquanto era observado.
Δt = t – to
- Espaço percorrido (ΔS): indica-nos
a distância que o carro efectivamente percorreu entre os instantes inicial (to)
e final (t).
ΔS = S – So
Movimento Rectilíneo Uniforme (MRU)
Considere
um corpo que, deslocando-se em linha recta, percorre sempre a mesma distância
no mesmo intervalo de tempo, por exemplo, 10 metros a cada 2 segundos,
como mostra a figura 4.6. Nestas condições dizemos que o corpo está animado de Movimento Rectilíneo Uniforme.
Um móvel
está animado de Movimento Rectilíneo Uniforme (MRU), quando:
- Deslocando-se em linha recta, percorre distâncias iguais em intervalos de tempos iguais.
- A sua velocidade é constante, em módulo, direcção e sentido (lei da velocidade), isto é, o móvel mantém sempre a mesma velocidade;
Figura 4.6: Movimento rectilíneo uniforme.
Como
no MRU a velocidade não varia, em módulo, direcção e sentido, o seu gráfico, em
função do tempo, é uma linha recta paralela ao eixo do tempo.
- Os espaços percorridos são directamente proporcionais aos tempos gastos (lei dos espaços).
Sendo
o espaço percorrido directamente proporcional ao tempo, o seu gráfico é uma
recta inclinada que mostra a proporcionalidade directa entre o espaço e o
tempo.
Por
outro lado, o espaço percorrido pelo móvel é igual à área da figura
subentendida pelo gráfico da velocidade.
No
caso do MRU o gráfico da velocidade em função do tempo é uma linha recta paralela
ao eixo do tempo, por isso, a figura que este gráfico delimita é um retângulo,
cujo comprimento é a velocidade (v) e cuja largura é o intervalo de tempo
considerado (t). Assim:
ΔS = Área do rectângulo ↔ ΔS
= v.tt
Figura 4.7: O espaço percorrido é igual à área da figura limitada pelo gráfico da velocidade.
Movimento Rectilíneo Uniformemente Variado (MRUV)
Quando
viajamos de automóvel percebemos que nas curvas e nas subidas o carro vai mais
devagar do que nas partes rectas e horizontais da estrada. Isto significa que o
carro não percorre distâncias iguais em intervalos de tempos iguais, ou
seja, a sua velocidade não é constante. De igual modo, quando uma pedra
cai de uma certa altura, a sua velocidade também não se mantém inalterada.
Dizemos que estes corpos estão animados de movimento variados.
Um
caso especial de movimentos em que a velocidade varia com o tempo, é o movimento
rectilíneo uniformemente variado, que passaremos a abordar.
- Um automóvel está parado num semáforo (v = 0 quando t = 0). Quando o Sinal luminoso muda para verde, o automobilista Pisa no acelerador de modo a colocar o carro em movimento. Pouco a pouco a velocidade do carro vai aumentando quantidades iguais em intervalos de tempos iguais, por exemplo, 5 m/s em cada segundo, como mostra a figura 4.8. Neste caso, dizemos que o carro está animado de Movimento Uniformemente Acelerado (MUA).
Figura 4.8: Movimento uniformemente acelerado.
- Entretanto, no próximo cruzamento, o semáforo fecha, isto é, muda de verde para vermelho. O motorista do automóvel para não ultrapassar o Sinal vermelho, Pisa no travão, fazendo o automóvel reduzir gradualmente a sua velocidade de modo a parar no sinal. Por exemplo, o automóvel, durante a travagem, diminui a sua velocidade 5 m/s em cada segundo. Neste caso, dizemos que o carro está animado de Movimento Uniformemente Retardado (MUR), como ilustra a figura 4.9.
Figura 4.9: Movimento uniformemente retardado.
Movimento Uniformemente Retardado (MUR) é aquele em que o móvel,
deslocando-se em linha recta, varia a sua velocidade em quantidades iguais e em
intervalos de tempos iguais. Se a velocidade aumentar gradualmente com o tempo o
movimento é uniformemente acelerado (MUA), mas se a velocidade diminuir
gradualmente com o tempo, o movimento é uniformemente retardado (MUR).
Conceito de aceleração (a)
Sempre
que a velocidade de um móvel variar com o tempo, dizemos que este possui
aceleração.
A aceleração
é uma grandeza física que mede a rapidez com que a velocidade varia ao longo do
tempo. Assim, se um corpo sofrer grandes variações da velocidade, a sua
aceleração também será grande, mas se as variações da velocidade ao longo do
tempo forem pequenas, a aceleração também será pequena.
Aceleração é a variação da velocidade em função do
tempo.
No
Sistema Internacional de Unidades, a aceleração é medida em m/s2.
Dizer
que a aceleração de um corpo é de 1 m/s2, significa dizer que, em
cada segundo, a velocidade do corpo varia 1 m/s (se o movimento for
uniformemente acelerado a velocidade aumenta 1 m/s em cada segundo e, se for
uniformemente retardado, a velocidade diminui 1 m/s em cada segundo. Por isso
se diz que a aceleração mede a rapidez com que a velocidade varia ao
longo do tempo.
Lei e gráfico da aceleração do MRUV
Se
calcularmos a aceleração do automóvel, nas duas situações analisadas,
chegaremos à conclusão que ela não varia, isto é, tem sempre o mesmo valor.
- Cálculo da aceleração do automóvel em MUA:
A velocidade aumenta 5 m/s em cada segundo.
- No caso do MUR, teremos:
A velocidade diminui 5 m/s em cada segundo.
O seu gráfico
em função do tempo, é uma recta paralela ao eixo do tempo.
Figura 4.10: Gráficos da aceleração do MRUV. |
Lei e gráfico da velocidade do MRUV
Vamos retornar ao exemplo do automóvel animado de movimento uniformemente acelerado, para estabelecermos a regra que regula a variação da velocidade ao longo do tempo.
A
velocidade inicial do automóvel é vo = 0 e, a sua aceleração a = 5
m/s2.
Vamos
calcular a velocidade do automóvel em cada instante t = 1s, t = 2s; … t = 4s, como
mostra a tabela seguinte:
Tempo
(s) |
1 |
2 |
3 |
4 |
Velocidade
(m/s) |
v1 = 0 + 5 • 1 = 5 |
v2 = 0 + 5 • 2 = 10 |
v3 = 0 + 5 • 3 = 15 |
v4 = 0 + 5 • 4 = 20 |
Regra
matemática |
v1 = v0 + a • t1 |
v2 = v0 + a • t2 |
v3 = v0 + a • t3 |
v4 = v0 + a • t4 |
No
MRUV a velocidade é directamente proporcional ao tempo.
O gráfico
da velocidade do MRUV é uma recta inclinada:
- Crescente, no caso do MUA.
- Decrescente, no caso do MUR.
v(t) = v0 + a • t
Figura 4.11: Gráficos da velocidade do MRUV.
Lei e gráfico do espaço do MRUV
A análise
de qualquer movimento permite-nos afirmar que o espaço percorrido pelo móvel
pode ser determinado, calculando-se a área da figura limitada pelo gráfico da
velocidade, dentro do intervalo de tempo considerado.
Vamos tomar como exemplo o gráfico da velocidade do MUA. A figura que este gráfico delimita é um trapézio, ou melhor, um retângulo de largura v0 e comprimento t e, um triângulo de base t e altura (v = v0). Como sabemos que v = v0 + at.
Figura 4.12: O espaço percorrido é igual à área limitada pelo gráfico da velocidade.
Podemos escrever:
Equação
que permite calcular a distância ΔS percorrida pelo corpo num determinado
intervalo de tempo. Como ΔS = S – S0, obtemos a equação da posição
em função do tempo.
Analisando
esta última equação da posição de um corpo animado de MRUV, podemos verificar
que ela é uma equação do 2º grau, que já teve a possibilidade de estudar
durante as aulas de matemática. Como sabe, o gráfico da função quadrática é uma
parábola.
Assim,
o gráfico da posição em função do tempo para um corpo em MRUV é o ramo de uma parábola.
Figura 4.13: Gráfico do espaço de um MRUV. |
Bibliografia
MENESES, João Paulo. F10 - Física 10ª Classe. Texto Editores, Maputo, 2017.
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