O dinamismo cultural e os processos de enculturação, aculturação, desculturação e inculturação
O dinamismo cultural e os processos de enculturação, aculturação, desculturação e inculturação
Como fizemos questão
de sublinhar anteriormente, o dinamismo cultural reside na ausência de
estaticidade, o que pressupõe que a cultura está em constante mudança, daí que
se conclui, com MARTINEZ (2007:59) que a cultura “não é algo acabado ou
definitivo mas sim algo em contínuo aperfeiçoamento”. Nas linhas que
seguem, discutiremos os processos de enculturação, aculturação, desculturação e
inculturação que espelham as diversas facetas do dinamismo cultural.
Enculturação – a enculturação que também é conhecida
como endoculturação – de acordo com MARTINEZ (2003:51), citando BERNARDI, é um
processo educativo pelo qual os membros de uma cultura se tornam conscientes e comparticipantes
da própria cultura. HERSKOVITS, citado por MARTINEZ (2003: 51), diz que
enculturação são os aspectos da experiência de aprendizagem que distinguem o
homem das outras criaturas e por meio dos quais, inicialmente, e mais tarde na
vida consegue ser competente em sua cultura. É através deste processo que um
neonato aprende os caminhos culturais que a sua sociedade espera que ele seja,
ou seja, a partir deste processo que se consegue a adaptação à vida social, que
o indivíduo se habitua aos modos de vida do seu grupo aprendendo as suas formas
de comportamento.
Aculturação – a aculturação também conhecida como
transculturação é mais um processo do dinamismo cultural. MARTINEZ (2007:79)
afirma que em Psicologia,
o termo aculturação é usado no sentido
que na Antropologia se dá ao processo de enculturação. Em Sociologia é usado no
sentido de socialização e na Pedagogia no sentido de educação ou
condicionamento. A aculturação teve várias designações provenientes de autores
diversos, podendo-se destacar as seguintes: empréstimo de culturas,
disseminação cultural, transmissão cultural em marcha e processo de mistura de
culturas. Para Ítalo Slignorelli, a aculturação é um processo que conduz um
indivíduo a assumir, em tudo ou em parte, modos de cultura de um outro grupo.
Desta definição deve se pressupor o contacto entre duas culturas, resultando
influências e transformações mútuas. Este processo constitui um dos factores da
dinâmica cultural, pois do contacto entre duas culturas, haverão elementos duma
cultura que se irão integrar na outra através de processo de mistura e fusão,
surgindo como resultado uma nova síntese cultural e um novo padrão cultural do
comportamento.
Desculturação – o termo desculturação deriva de
“descultura”, o que por outras palavras significa “falta de cultura”, porém,
não se subentenda que existam indivíduos sem cultura. Trata-se aqui de um nível
sintáctico. Com o termo desculturação, referimo-nos aos aspectos negativos da dinâmica
cultural, isto é, a subtração e/ou destruição em diverso grau do património
cultural. A desculturação pode ser originada por causas internas ou externas.
No que concerne às
causas internas, podemos dizer que a desculturação é provocada pela perda da
energia de uma determinada cultura, que se caracteriza pela redução das forças
dos indivíduos e da comunidade, que, consequentemente, vai eliminando a
vitalidade dos traços culturais e, a caída em desuso dos mesmos.
No que diz respeito
às causas externas podemos notar que a desculturação é provocada pelas crises
originadas por contactos culturais, pois, cada novidade que surge em qualquer
sector da vida: económico, político, religioso, técnico, traz consigo
inevitavelmente uma queda de identidade cultural original.
Este fenómeno
acontece de maneira Imperceptível e lenta, afectando separadamente os traços culturais
e assim, vai mudando o estilo de vida de uma comunidade.
Inculturação – é uma palavra composta por:
in-cultura-ção; in – significa, dentro de, entrar dentro de alguma coisa,
introduzir, interior; mas também pode significar ausência de alguma coisa,
negação, incultura.
O termo inculturação teve a sua origem no
mundo religioso quando os padres da África e da Ásia mostraram que a mensagem
evangélica não atingia a essência dos povos. Nestes termos, verificou-se a
necessidade de se buscar um conceito que exprimisse um processo que criasse uma
ligação entre a mensagem cristã e a cultura, tendo surgido primeiramente o
termo encarnação, o qual podia ser usado, por exemplo nos seguintes termos: “O
Evangelho precisa de ser encarnado nas culturas” Simbine Jr (2009:13).
Apenas entre 1974 e 1975 é que o vocábulo inculturação passou a fazer parte do
mundo religioso, senso considerado como a “encarnação da vida e da mensagem
cristã em uma área cultural concreta”, não num sentido de mera adaptação de
aspectos religiosos na cultura mas sim que essa mensagem cristã seja um
elemento activo e dinâmico, proporcionando a transformação e recriação da
cultura. Pode-se entender a inculturação como um processo recíproco no qual há
introdução de elementos exteriores na cultura e vice-versa como se pode notar
na concepção de João Paulo II, segundo a qual a inculturação é o processo pelo
qual ocorre a “encarnação do evangelho nas culturas e simultaneamente a
introdução dos povos com as suas culturas na comunidade eclesial,
transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que há de bom nas
culturas e renovando-as a partir de dentro”.
Bibliografia
MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para estudo. Paulinas Editorial, 5ª edição, Maputo, 2007.
SANTOS, Armindo dos. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Social. Universidade Aberta, 2002.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo, Brasiliense, 2003.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed., Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.
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