Ritos, rituais e ritos de passagem

Ritos, rituais e ritos de passagem

As primeiras elaborações conceptuais sobre os ritos e os rituais datam da época de Arnold von Gennep e de Emile Durkheim quando escreviam suas obras respectivamente “Os ritos de passagem (1909)”e “As formas elementares da vida religiosa (1912)”. Desde então, o estudo dos ritos e dos mitos esteve ligado aos estudos das práticas religiosas, isto é, os ritos e os rituais foram/são associados ao sagrado e, por isso, se tornaram parte importantíssima entre os temas da Antropologia.

Para Durkheim citado por Segalem (2000:14), a religião é um sistema de crenças que envolve ritos e rituais. Deste modo, as crenças religiosas são representações que exprimem a natureza das coisas sagradas e as relações que elas mantêm umas com as outras ou, mesmo, com as coisas profanas. Os ritos são regras de comportamento que prescrevem como o Homem deve comportar-se com as coisas sagradas.

Radcliffe-Brown (1989:244) parafraseia Durkheim nos seguintes termos, os ritos religiosos são expressão de unidade da sociedade cuja função e recriar a sociedade ou a ordem social, reafirmando e reforçando os sentimentos dos quais dependem a solidariedade e a coesa social.

Portanto, é através dos ritos, dos rituais e das cerimónias religiosas que os sentimentos sociais e morais são fortalecidos e renovados. Disto segue-se que, a função dos ritos é reafirmar permanentemente os grupos sociais.

Outros autores consideram que os ritos, rituais, tabus e interdições são derivados da atitude de respeito pelo sagrado, o qual tem como função primordial manter a solidariedade, a coesão, a ordem e o controlo social (Hamilton, 1999). O rito ou ritual é um conjunto de actos formalizados, expressivos, detentores de uma dimensão simbólica (Segalen: 2003:23). Os ritos têm a finalidade de ligar o presente ao passado, o indivíduo à comunidade (Gennep, 1960:16).

Por conseguinte, para Gennep, o rito tem uma dimensão colectiva, marca rupturas, descontinuidades e momentos críticos, individuais e sociais que dão sentido ao incompreensível, fornecem meios para dominar o mal, o tempo e as relações sociais.

Os ritos de passagem

Os ritos de passagem, segundo Arnold Bon Gennep apresentam uma estrutura universal, e por conseguinte, presentes em todas as sociedades humanas. Dizem respeito aos rituais dos ciclos da vida onde ocorrem mudanças de estatuto que marcam a vida de uma pessoa ou de um grupo. Os ritos de passagem estão ligados principalmente ao nascimento, à puberdade (ritos de iniciação), ao casamento e à morte. No entanto, existem outros ritos de passagem que variam de um grupo social para o outro, por exemplo, entre os cristãos o baptismo, o crisma/a confirmação, a ordenação de um sacerdote, etc., são exemplos de ritos de passagem. Nas organizações sociais de carácter secular, a cerimónia de graduação, a comemoração da data do aniversário, etc., são outros exemplos de ritos de passagem. Segundo Gennep existem três tipos de ritos de passagem:

  • Ritos de separação: aqueles valorizados durante as cerimónias fúnebres e têm a ver com todos rituais daí resultantes, por exemplo, o velório, o uso de trajes pretos por um certo tempo, a purificação (Kutchinga), etc.
  • Ritos de liminaridade ou de transição: aqueles por meio dos quais uma pessoa passa de um estatuto social para o outro. Por exemplo, os ritos de iniciação que como tal permitem passar da vida infantil à uma vida viril ou adulta.
  • Ritos de integração ou de agregação: aqui são valorizadas cerimónias relativas ao nascimento, ao baptismo ou ao casamento, permitem que a pessoa seja incorporada num dado grupo social, com a celebração de rituais próprios.

Bibliografia

JUNOD, Henri Alexandre. Usos e costumes bantu. Editor Arquivo Hist. de Moçambique, Tomo I, Maputo, 1996.

TOMÁS, Adelino Esteves. Manual de Antropologia Sócio-Cultural. Universidade Pedagógica Sagrada Família, s/d. p. 47-57.

VILANCULO, Gregório Zacarias. Manual de Antropologia Cultural de Moçambique. Universidade Pedagógica: Maxixe, s/d.

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