Desenvolvimento Humano: Uma área da Psicologia
2. Desenvolvimento Humano: Uma área da Psicologia
Esta
área de conhecimento da Psicologia estuda o desenvolvimento do ser humano em
todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afectivo-emocional e
social — desde o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade em que
todos estes aspectos atingem o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade.
Existem
várias teorias do desenvolvimento humano em Psicologia. Elas foram construídas
a partir de observações, pesquisas com grupos de indivíduos em diferentes
faixas etárias ou em diferentes culturas, estudos de casos clínicos,
acompanhamento de indivíduos desde o nascimento até a idade adulta.
Dentre
essas teorias, destaca-se a do psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget
(1896-1980), pela sua produção contínua de pesquisas, pelo rigor científico de
sua produção teórica e pelas implicações práticas de sua teoria, principalmente
no campo da Educação. Para além das outras teorais, a teoria deste cientista
será referenciada neste capítulo como tipo de desenvolvimento, para
compreendermos o desenvolvimento humano, para respondermos às perguntas como
e por que o indivíduo se comporta de determinada forma, em
determinada situação, neste momento de sua vida.
2.1.
O Desenvolvimento Humano
O
desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento
orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se
caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas
de organização da actividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando
até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão
um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afectiva
e relações sociais.
Algumas
dessas estruturas mentais permanecem ao longo de toda a vida. Por exemplo, a
motivação está sempre presente como desencadeadora da acção, seja por necessidades
fisiológicas, seja por necessidades afectivas ou intelectuais. Essas estruturas
mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. Outras estruturas
são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Por exemplo, a moral da
obediência da criança pequena é substituída pela autonomia moral do adolescente
ou, outro exemplo, a noção de que o objecto existe só quando a criança o vê (antes
dos 2 anos) é substituído, posteriormente, pela capacidade de atribuir ao objecto
sua conservação, mesmo quando ele não está presente no seu campo visual.
2.2. A Importância do Estudo do Desenvolvimento
Humano
A
criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características
próprias de sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo
do desenvolvimento humano. Estudos e pesquisas de Piaget demonstraram que
existem formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo,
próprias de cada faixa etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do
meio ambiente, que implica uma acomodação das estruturas mentais a este novo
dado do mundo exterior.
Estudar
o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma
faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna
mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos.
Todos
esses aspectos levantados têm importância para a Educação. Planejar o que e
como ensinar implica saber quem é o educando. Por exemplo, a linguagem que
usamos com a criança de 4 anos não é a mesma que usamos com um jovem de 14
anos.
E,
finalmente, estudar o desenvolvimento humano significa descobrir que ele é
determinado pela interacção de vários factores.
2.3. Os Factores que Influenciam o Desenvolvimento
Humano
Vários factores indissociáveis e em
permanente interacção afectam todos os aspectos do desenvolvimento. São eles:
- Hereditariedade
— a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou
não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos
da inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou
além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra;
- Crescimento
orgânico — refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e
a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um
domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de
descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar,
em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida;
- Maturação neurofisiológica — é o
que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização
das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e
manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a
criança de 2, 3 anos não tem. Observe como ela segura o lápis;
- Meio — o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida.
2.4. Aspectos do
Desenvolvimento Humano
O desenvolvimento humano deve ser entendido
como uma globalidade, mas, para efeito de estudo, tem sido abordado a partir de
quatro aspectos básicos:
- Aspecto
físico-motor — refere-se ao crescimento orgânico, à maturação
neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objectos e de exercício
do próprio corpo. Exemplo: a criança leva a Chupeta à boca ou consegue
tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os
movimentos das mãos;
- Aspecto
intelectual — é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo,
a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo
que está em baixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir
de sua mesada ou salário;
- Aspecto
afetivo-emocional — é o modo particular de o indivíduo integrar as
suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto.
Exemplos: a vergonha que sinto em algumas situações, o medo em outras, a
alegria de rever um amigo querido;
- Aspecto social — é a maneira
como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.
Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é possível observar
algumas que espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas que permanecem
sozinhas.
Se
analisarmos melhor cada um desses exemplos, vamos descobrir que todos os outros
aspectos estão presentes em cada um dos casos. E é sempre assim. Não é possível
encontrar um exemplo “puro”, porque todos estes aspectos relacionam-se
permanentemente. Por exemplo, uma criança tem dificuldades de aprendizagem,
repete o ano, vai-se tornando cada vez mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos
amigos e, um dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em uma
deficiência auditiva. Quando isso é corrigido, todo o quadro revertesse.
A
história pode, também, não ter um final feliz, se os danos forem graves. Todas
as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses quatro
aspectos são indissociáveis, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes, isto
é, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A
Psicanálise, por exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto
afectivo-emocional, isto é, do desenvolvimento da sexualidade. Jean Piaget
enfatiza o desenvolvimento intelectual.
Bibliografia
BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo, Editora Saraiva, 1993, Cap. 7.
SANTOS, R.P. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. São Paulo.
RODRIGUES, Armando; BILA, Luís Ventura. Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Universidade Pedagógica, Maputo, s/d.
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