Necessidades educativas especiais como dificuldade evolutiva, de funcionamento educativo e de aprendizagem
3. Necessidades educativas especiais como dificuldade evolutiva, de funcionamento educativo e de aprendizagem
3.1. Obstáculo, o dano e o estigma social.
Três “sinais de alerta” sobre possíveis casos de NEE
De acordo com a
Unesco, o conceito de NEE alarga-se para além das que são parte da categoria da
deficiência, cobrindo alunos que têm mau desempenho escolar (failing)
por uma série de outras razões que impendem um desenvolvimento optimizado.
Se bem se lembra, ao
definirmos NEE, dissemos que a forma mais correcta de pensar neste conceito é
concebe-lo em termos de dificuldades de funcionamento educativo. O
funcionamento educativo ou modo como o sujeito opera no processo educativo é um
encontro entre a biologia, experiências ambientais e relações, actividade e
iniciativas deste (entenda-se aluno). É, por assim dizer, a resultante global
das reciprocas influências entre a dotação biológica e o ambiente no qual a
acriança cresce, onde a par de factores externos como as relações, a cultura,
os espaços físicos, etc. encontra factores contextuais pessoais, como são os
casos da auto-estima, identidade, motivação, etc.
Quando os vários
factores interagem positivamente, a criança crescerá sã e funcionará bem do
ponto de vista educativo e de aprendizagem. Em alternativa, o seu funcionamento
será dificultoso, bloqueado, debilitado, doentio, marginalizado, com
necessidades educativas especiais. (Ianes; 2005: 35).
Qual é a vantagem do
uso da expressão “funcionamento educativo e de aprendizagem”? Usando a ideia de
funcionamento educativo e de aprendizagem vencemos o estereótipo de pensar que
NEE dizem respeito apenas aos portados de deficiência. Assim, por exemplo, uma
participação social fraca (que nada tem a ver com a deficiência física) pode
ser fonte de mau funcionamento educativo e de aprendizagem. De facto, segundo a
OMS, uma pessoa funciona bem se participa socialmente e se possui papéis de
vida social em modo integrado e activo.
Da interacção de
factores contextuais, ambientais e pessoais, podem-se originar combinações de
NEE. Mas como você, caro estudante, pensa que se pode perceber/aferir que
estamos perante um funcionamento problemático? Com certeza esta pergunta
trouxe-lhe à mente muitas sugestões. E, se associarmos às sugestões de toda a
turma, teremos inúmeros critérios para definir um funcionamento problemático.
Embora com grande probabilidade todos os critérios propostos pela turma sejam
úteis, ocupar-nos-emos aqui de apenas três, segundo a proposta do pedagogo
italiano Dário Ianes (2005), nomeadamente: o dano, o obstáculo e
o estigma social.
O primeiro critério
para captar o mal-estar gerado por um funcionamento problemático é o dano,
evidentemente vivido pelo aluno ou produzido sobre os outros, alunos ou
adultos, quanto à sua integridade física actual, psicológica ou relacional. Uma
situação de funcionamento é realmente problemática para o aluno se o danifica
directamente ou danifica aos demais: pense-se, a propósito, nos distúrbios de
comportamento graves como o auto-lesionismo, distúrbios emotivos graves,
comportamentos violentos, etc.
Em ausência de dano
evidente assume-se o critério do obstáculo. Um funcionamento
problemático é realmente tal para a criança em questão se bloqueia o seu
desenvolvimento futuro, ou seja, se o condicionará nas futuras aprendizagens
cognitivas, sociais, relacionais e emotivas.
Para elucidar melhor
este princípio, tomemos como exemplo o preceito de progressão semiautomática
presente nos currícula das classes iniciais. Uma progressão
semiautomática significa que os professores assumem que embora o aluno não
tenha maturado todos os requisitos impostos aos alunos da sua classe,
desenvolveu o mínimo de conhecimentos e competências que o permitirão enfrentar
com êxito a classe seguinte. Se ao longo dos anos, estas competências não forem
suficientemente aprofundadas, o aluno poderá, em alguma classe, encontrar um
obstáculo. Neste caso, o aluno sentirá enormes dificuldades em adquirir novas
aprendizagens porque lhe faltarão aprendizagens básicas que deveria ter
desenvolvido nas classes anteriores (por exemplo, um aluno não pode compreender
o conceito de números primos se não conhece antes os números naturais). Quando
assim acontece, o aluno fica bloqueado, isto é, impossibilitado de passar para
as classes seguintes, repetindo sistematicamente a mesma classe.
O terceiro critério
é o estigma social. No contexto das NEE, o estigma social significa o
facto de aluno ser alvo de descriminação social pelo facto de apresentar baixas
performances escolares. Por exemplo, um aluno com dificuldades sérias de
leitura e escrita em classes que não devia apresentar tais dificuldades, pode
ser objecto de piadas por parte do resto da turma e, eventualmente, ter algumas
dificuldades em fazer novas amizades.
O que acha dos três
critérios apresentados acima? Para que um aluno seja considerado com NEE deve
apresentar todos estes critérios? A resposta para a última questão é não. Basta
a presença de um destes critérios. Entretanto, é bom que se diga que estes não
são critérios para diagnosticar NEE. São simplesmente sinais que nos alertam
para a necessidade de uma investigação aprofundada, com o apoio de outros
profissionais de modo a aferir a existência ou não de um caso de NEE.
Bibliografia
IANES, Dario (2005), Bisogni educativi speciali e inclusione. Valutare le reali necessità e attivare tutte le risorse, Erickson: Trento.
PESCI, Guido, PESCI, Simone (2005). Le radici della pedagogia speciale, Armando Editore: Roma.
FAIFE, Jofredino. Módulo de Necessidades Educativas Especiais. Centro de Educação Aberta e à Distância – Universidade Pedagógica, Maputo: 2016.
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