O papel do professor no levantamento de necessidades educativas especiais
O papel do professor no levantamento de necessidades educativas especiais
1.1. Levantamento de NEE na sala de aula
É comum pensar-se
que grande parte do processo de avaliação do aluno com NEE deve ser da responsabilidade
do professor. De facto, convivendo diariamente com os seus alunos, o professor
pode apoiar-se em alguns procedimentos informais para levantar uma série de
questões problemáticas no funcionamento educativo dos seus alunos.
Supera-se assim a
concepção segundo a qual a avaliação dos alunos com NEE caberia ao psicólogo, o
qual elaboraria um relatório e/ou programa educativo a ser posto em prática
pelo professor.
No contexto
moçambicano, onde a figura do psicólogo escolar é (quase) inexistente, ao
professor caberia o papel de avaliar as aptidões e capacidades da criança, bem
como aspectos comportamentais, interpretar os dados recolhidos por si e por
outros, convertendo-os em actividades diárias que vão ao encontro das
necessidades de cada aluno.
Com efeito, o
professor deverá recolher constantemente informação sobre determinada criança
que venha a permitir-lhe não só elaborar programas educacionais consonantes com
as suas capacidades (áreas fortes) e necessidades (áreas fracas), mas que lhe
possam proporcionar indicadores sobre o atingir dos objectivos propostos e
mudanças comportamentais pretendidas. Isso consegue-se com uma atitude de
pesquisa, que não se circunscreve apenas à realização académica do aluno, mas
abarca também toda a dimensão comportamental, em termos académicos e sociais,
necessário ao seu sucesso escolar.
Note-se, porém, que
antes de iniciar qualquer processo de avaliação é importante que nos
certifiquemos da acuidade visual e auditiva do aluno, dado que, por vezes ele
apresenta-se desajustado na aprendizagem porque não vê ou não ouve bem
(Correia, 2008:58).
Entre os principais
métodos de avaliação do aluno que o professor pode adoptar contam-se a análise
da informação existente (processo do aluno, por exemplo), entrevistas (com
o aluno, com a família e com eventuais professores que tenham trabalhado com o
aluno), testes psicométricos, análise de trabalhos, avaliação centrada
no currículo (de modo a ver se o aluno está a cumprir os objectivos
curriculares propostos para a sua classe ou não), observação situacional.
Ora, se o professor
faz todo este trabalho, não estaria a substituir, por vezes, o papel do médico
ou psicólogo escolar?). Com estes métodos, o professor não faz um diagnóstico
do ponto de vista biomédico ou psicológico. Tudo quanto se disse é que, a par
da família, o professor é um elemento privilegiado porque faz parte do
dia-a-dia da criança e tem a possibilidade hipóteses de assistir à ocorrência
de dificuldades escolares.
É óbvio que esta
opção é válida apenas como ponto de partida. Será sempre necessário que a
escola colabore com as entidades hospitalares locais e com psicólogos escolares
de modo a dar uma eventual explicação, certificação ou acompanhamento médico da
patologia da criança, sempre que tal se justifique ou seja possível.
O disgnóstico psicopedagógico de NEE
Em termos simples, o
diagnóstico psicopedagógico é uma investigação daquilo que não está bem, em
relação aquilo que se espera do indivíduo no campo escolar. Ou então, é a
investigação do processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem
da dificuldade e/ou distúrbio apresentado. Nos termos de Coll, Marchesi e
Palacios (2007, citados por Moraes, 2010, p. 4-5), é um processo compartilhado
de colecta e análise de informações relevantes acerca dos vários elementos que
intervêm no processo de ensino e aprendizagem, visando identificar as
necessidades educativas de determinados alunos ou alunas que apresentem
dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao
currículo escolar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito
da proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no
desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da instituição.
O objectivo do
diagnóstico é obter uma compreensão global da forma de aprender do aluno e dos
desvios que estão ocorrendo neste processo que leve a um prognóstico e
encaminhamento para o problema de aprendizagem.
É, portanto, um
processo de busca dos elementos que intervêm negativamente no processo de
ensino e aprendizagem, o que exige do pedagogo uma visão holística da criança
em questão, vendo-a como um todo, nos aspectos sensório motor, coordenação
motora ampla, dominância lateral, desenvolvimento motor fino, traçado, desenho,
aquisição de articulação de sons, organização mental, atenção e coordenação,
aquisições de conceitos, raciocínio lógico matemático, etc.
Os dados recolhidos
devem fornecer informações úteis sobre a área pedagógica, cognitiva, e afectivo
social. Assim, de modo genérico, a avaliação psicopedagógica envolve (cf.
Moraes, 2010):
- a) a identificação dos principais factores responsáveis pelas dificuldades da criança;
- b) o levantamento do repertório infantil relativo as habilidades académicas e cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada;
- c) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e esquemas de reforço aos quais responde e sua interacção com as exigências escolares propriamente ditas.
Podemos encontrar
diferentes modelos de sequência diagnóstica, sendo que o nosso foco será o
modelo desenvolvido por Weiss na década de 1990. As etapas que compõem o modelo
e o caracterizam são:
1) Entrevista
Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.): realizada com os pais da criança,
para explorar informações que podem ajudar a explicar o problema da criança;
2) Entrevista de
anamnese: reconstituições da história clínica das crianças;
3) Sessões lúdicas
centradas na aprendizagem (para crianças): recursos a jogos lúdicodidácticos –
exemplo, jogos que exigem habilidades de memorização, cálculo, interacção
social, imaginação, etc. – que podem indicar a possibilidade de um caso de NEE.
4) Provas e Testes
(quando necessário);
5) Síntese
diagnóstica – Prognóstico: com base na informação levantada nos passos 1 a 4,
apresenta-se um diagnóstico da situação problemática e uma possível previsão da
evolução num futuro breve.
6) Entrevista de
Devolução e Encaminhamento: comunicação à família acerca do
diagnóstico/prognóstico e sugestão de especialistas que a criança deverá
consultar ou actividades específicas a realizar em casa e/ou na escola. Caso se
justifique, o diagnóstico pode sugerir uma intervenção, isto é, um tratamento
terapêutico, com tempo indeterminado, depende das causas que levaram as
dificuldades diagnosticadas durante a avaliação. Podendo ser feita avaliações
complementares, psicológicas, neurológicas, fono, oftálmicas, otorrino.
Estas etapas podem
ser modificadas quanto a sua sequência e maneira de aplicálas, de acordo com
cada prática psicopedagógica.
Bibliografia
Básica
CORREIA, Luís de Miranda (2008), Inclusão e necessidades educativas especiais. Um guia para educadores e professores, 2ª ed., Porto Editora: Porto.
MORAES, Deisy Nara Machado /2010), Diagnóstico e avaliação psicopedagógica, in Revista de Educação do IDEAU, v.5 - n.10 - Janeiro – Junho.
FAIFE, Jofredino. Módulo de Necessidades Educativas Especiais. Centro de Educação Aberta e à Distância – Universidade Pedagógica, Maputo: 2016.
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