A crónica jornalística
1. A crónica jornalística
Conceito
A crónica é um texto que tem como ponto de partida o
relato de acontecimentos do quotidiano sobre os quais o autor apresenta a interpretação
e exprime emoção.
Contém, pois, marcas do modo de pensar e de ver o mundo do
autor.
A linguagem tende para o literário, com vocabulário cuidado
e frases elaboradas.
Caracteriza-se pela expressividade e subjectividade próprias
do autor, a fim de provocar a empatia do leitor.
Origem
A palavra «crónica» deriva do latim «chronica»,
que, no início da era cristã, significava o relato de acontecimentos por ordem
cronológica. Era, portanto, um breve registo de eventos.
Na história da escrita em língua portuguesa, aponta-se Fernão
Lopes como um marco na evolução da crónica. Fernão Lopes veio contrariar a tendência
dos cronistas da sua época de apresentarem uma visão parcial da Vida em
sociedade, abordando, nos seus textos, os acontecimentos vividos pela classe
que os sustentava: a nobreza. Servindo-se da sua posição de tabelião da corte,
investigou a sociedade e criticou a nobreza, o clero e o povo. Fernão Lopes
detinha uma visão geral e a sua critica era imparcial. As crónicas de Fernão
Lopes são marcadas por um enredo com marcas literárias.
No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crónica
passou a fazer parte dos folhetins e dos jornais, embora num espaço muito
reduzido, em rodapé.
Apareceu pela primeira vez em 1799, num jornal parisiense.
Os textos comentavam, de forma critica, acontecimentos decorridos durante a
semana.
Com o tempo, a crénica foi ganhando novas caracteristicas e
foi-se afirmando como texto jornalístico.
Crónica da actualidade
Como texto jornalístico, a crónica, não deixando de se
assumir como um texto que faz uma critica social, toma como referência o
presente, o quotidiano das populações, e não o passado, como faziam os
primeiros cronistas. Portanto, a cr6nica assenta num facto real que, muitas
vezes, é tomado como pretexto para o desenvolvimento de uma critica. E habitual
que o discurso da cr6nica seja irónico. Outras vezes, as críticas são directas,
desprovidas de ambiguidades.
Do ponto de vista linguístico, o cronista expressa as suas emoções;
portanto, há predominância de marcas da primeira pessoa gramatical e/ou de
outras marcas linguísticas com valor emotivo (exclamações, interrogações e interjeições).
A crónica da actualidade tem em vista a tomada de
uma atitude futura, ou seja, exige a prática de uma acção futura. Na crénica,
predomina, por isso, a função apelativa.
O discurso é elaborado e as frases tem uma elevada carga
poética ao nível sonoro e figurativo, conferindo ao texto um cunho literário.
Tipos de crónica
Quanto à sua natureza discursiva, a crónica pode ser:
- Descritiva, quando explora a caracterização de seres animados e inanimados: é viva como uma cultura, precisa como uma fotografia e dinâmica como um filme. Em suma, usa um discurso descritivo, descrevendo seres, ambientes ou situações com minúcia;
- Narrativa, quando o texto está comprometido com a narração de factos do quotidiano (banais, comuns). Muitas vezes, essa narração usa personagens imaginárias, mas de carácter metafórico. As atitudes das personagens representam comportamentos reais. Frequentemente, essas personagens são personagens-tipo, pois representam grupos sociais. A narrativa pode ser feita na 1ª ou na 3ª pessoa;
- Narrativo-descritiva, quando explora a caracterização de seres, descrevendo-os e, ao mesmo tempo, mostrando factos do quotidiano. Pode ser narrada na 1ª ou na 3ª pessoa gramatical. E a associação da crónica descritiva à narrativa;
- Dissertativa, quando apresenta uma opinião explicita, com argumentos mais sentimentalistas do que racionais. Pode ser exposta tanto na 1ª pessoa do singular como na 1ª pessoa do plural.
- Crónica lírica ou poética, caraterizada pela utilização de uma linguagem poética e figurada, essencialmente metafórica. A sonoridade e os jogos de palavras são acentuados;
- Crónica metalinguística, quando faz uma abordagem relativa ao pr6prio acto de escrever;
- Crónica reflexiva, quando é dominada por temas de índole política, religiosa e cultural, sobre os quais o cronista apresenta uma reflexão filosófica.
2. Evolução da língua portuguesa
no tempo
Do indo-europeu ao latim
O estudo comparado de diversas línguas da Europa e da Ásia
levou os linguistas a pensar que estas terão derivado de uma língua comum: o
indo-europeu. Com excepção do basco, codas as línguas oficiais dos países da
Europa Ocidental pertencem a quatro ramos da família indo-europeia: o helénico
(grego), o românico (português, italiano, francês e castelhano), o germânico
(inglês e alemão) e o céltico (irlandês e gaélico). um quinto ramo, o eslavo,
engloba diversas línguas actuais da Europa Oriental.
Do ramo românico fazem parte as línguas que derivaram do
latim, uma das quais é a língua portuguesa.
Do latim às línguas românicas
O latim era a língua falada no Lácio (região de
Roma), que se propagou além-fronteiras com a romanização — processo de
conquista territorial e dominação cultural efectuado pelos Romanos.
O latim apresentava diferentes variedades e registos linguísticos:
o latim clássico e o latim vulgar. Foi esta última variedade que
se expandiu com a romanização, pois era a língua utilizada pelos legionários,
os soldados que participaram na expansão do Império Romano. Noutros locais,
entrando em contacto com outras línguas e culturas, o latim sofreu modificações
e diferenciações, originando primeiro os romanços e, depois, as línguas
românicas ou novilatinas, constituídas pelas seguintes línguas: português,
espanhol ou castelhano, italiano, francês, romeno, sardo e provençal.
Influência de outros povos
O SUBSTRATO
a) O substrato celta
Os povos que habitavam a região da Península ibérica antes
da romanização falavam outras línguas, sobretudo a celta. Embora os povos
vencidos tenham adoptado a língua dos vencedores (os Romanos), foram também
transportados para o latim termos dessas línguas autóctones. O latim foi,
assim, ganhando novas palavras oriundas da língua celta que se falava na
Península Ibérica.
Exemplos de palavras de origem celta: camisa, carro,
saia, carpinteiro, Lisboa, Coimbra, Évora.
O SUPERSTRATO
a) O superstrato germânico
Por volta do século V d. C., os povos germânicos invadiram
a Península ibérica. Como possuíam uma cultura inferior, adoptaram a língua dos
vencidos (o latim), mas introduziram-lhe palavras da sua língua.
Exemplos de palavras de origem germânica: guerra,
arreio, bradar, galope, marchar, roubar, luva, orgulho, dardo, casa, raça,
Afonso, Fernando, Gomes.
b) O superstrato árabe
No século VIII, a Península sofreu uma nova invasão, desta
vez pelos Árabes. A presença árabe prolongou-se por vários séculos e, assim,
muitas palavras de origem árabe entraram na língua portuguesa (muitas delas
iniciadas por al): álcool, alambique, alecrim, alfaiate, algarismo, armazém,
azul, garrafa, fatia, oxalá, xadrez, xarope e muitas outras.
Do português arcaico ao português
moderno
PORTUGUÉS ARCAICO (DE FINS DO
SÉCULO AO SÉCULO XVI)
Neste período, o português evolui sem influências de outras
línguas. Até meados do século XIV, esteve associado ao galego, originando o
galego-português ou galaico-português.
Considera-se que o português nasceu oficialmente no século
XIII, quando D. Dinis legislou que todos os documentos fossem escritos em
português.
PERIODO CLÅSSICO (DO SÉCULO AO
SÉCULO XVII)
Com a expansão marítima, nos séculos XV e X VI, a língua
portuguesa passou a ser falada em muitas regiões de África, Ásia e América,
tendo sido, nesta altura, enriquecida com vocábulos provenientes dessas
culturas.
A partir do século XII, com a intensificação das relações
comerciais e culturais de Portugal com outros países europeus, vários termos de
outras línguas foram adoptados pela língua portuguesa: são os estrangeirismos.
PERIODO MODERNO (DO SÉCULO
XVIII EM DIANTE)
Além da evolução sofrida pela língua portuguesa resultante
do contacto com outras línguas, também a necessidade de nomear novos objectos e
novas realidades vai dando origem à criação de novas palavras: os neologismos.
Evolução fonética
Multas palavras do português provém do Patim e resultam de transformações
sofridas ao longo de séculos, quase sempre pela tendência de os falantes
reduzirem o esforço ao pronunciar alguns sons.
FENÓMENO |
EXEMPLO |
Queda |
attonitu > tonito > tonto plenum > pleno |
Adição |
stare > estar humile > humilde |
Permuta |
semper > sempre absente > ausente |
Evolução semântica
A evolução semântica consiste na alteração de
significado de certas palavras, ao longo dos tempos.
|
Significado antigo |
Significado actual |
Barba |
Queixo, rosto, mento |
Camada pilosa que cobre partes do rosto |
Calamidade |
Vendaval que destruía colheitas |
Desgraça de grandes proporções |
Cara |
Mais querida |
Rosto (raciocínio: parte mais querida do corpo) |
Desastre |
Perda de um astro |
Acidente, desastre, sinistro, fatalidade, fruto do azar |
Ministro |
Escravo, servidor |
Cargo superior (raciocínio: significado distante do
sentido humilde que tinha) |
O português de África
A partir do contacto que o português teve com as línguas
africanas, através da expansão levada a cabo pelo processo de colonização, a
língua foi ganhando outras variedades que divergem da norma portuguesa de
maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, à gramática e ao
vocabulário. Contudo, tal diferenciação não é suficiente para impedir a
comunicabilidade entre os falantes, nem a superioridade de uma variedade em
detrimento de outra.
Em certos casos, o português, entrando em contacto com
algumas línguas de Africa, deu origem aos crioulos — línguas originadas a
partir da aglutinação de outras; são os casos de crioulos de Cabo Verde e da
Guiné.
O português de Moçambique
Moçambique é um pais que apresenta um panorama linguístico
bastante diversificado.
Falam-se várias línguas derivadas da antiga língua bantu,
algumas das quais são: kimwani, shi-makonde, ci-yao, cinyanja, e-makhua,
e-chuabo, ci-nyungue, ci-seno, ci-balke, ci-shna, gitonga, ci-copi, xi-ronga,
xitswa, xi-xangana e vários outros dialectos destas línguas.
O português é a língua oficial do Pais, eleita após a
Independência Nacional. Naturalmente, este é influenciado pelas línguas nativas
e pelas suas variedades dialectais, distribuídas por diferentes espaços físicos
do Pais; por isso, é legitimo falar-se de falares locais do português em
Moçambique. Assim, os Macuas, por exemplo, irão expressar-se em português
diferentemente dos Senas, dos Nyugues ou dos Ndaus, no que respeita a vários
aspectos da gramática.
Vejamos, seguidamente, as diferentes mudanças da língua
portuguesa falada em algumas regiões de Moçambique.
Especificidades do português de
Moçambique
As diferenças entre o português-padrão e o português falado
em Moçambique são visíveis a vários níveis:
• Classe lexical (pronomes, artigos e preposições)
Exs.: O meu pai agarrou ele (agarrou-o).;
Tinha cortado cabelos (cortado os cabelos).
• Concordância (número, género, pessoa, tempo, modo
e voz)
Exs.: Os donos da mala viu (viram).;
Esta senhora é amigo
(amigo).
• Tipo de estrutura sintáctica (subordinação e
coordenação)
Exs.: Para que as coisas crescer melhor (cresçam
melhor).;
Chegou o dizer que não tens
vergonha (que ele não tinha vergonha).
• Escolha lexical dos verbos, nomes e adjectivos
Ex.: Indivíduos passageiros
(que estão de passagem).
• Semântica (atribuição de novo significado a
palavras do português)
Ex.: Chegaram as estruturas
(responsáveis do Governo).
• Casos como: calamidade = roupa em segunda mão;
pasta = mala (saco) de mão; situação = problema; crise = guerra.
• Ordem sintáctica
Ex.: Eu estou cada vez
mais a Pintar (estou a Pintar coda vez mais).
• Concordância nominal e verbal
Ex.: Os seminaristas tinha... (tinham)
• Regência verbal
Exs.: Despediu os pais à saída
(despediu-se dos).;
Nem ler e escrever não sabem (Nem ler e
escrever sabem).
LÉXICO-SINTAXE
• Casos de verbos que exigem uma determinada preposição
(regência verbal)
Exs.: Eu concordo disso
(com isso).;
Eu tinha de ir participar um
curso na Suécia (num).;
Ensina os pais a respeitar aos
pais (os).;
Não tem amor os filhos
(aos).;
Tem de passar da cidade
(na).;
Fico admirado naquilo
que estou a ver .com aquilo).;
Foi na altura que eu separei com
os amigos (dos).;
Os alunos também abusam a
eles (deles).;
Sai nas forças armadas
(das).;
Era muito mimada com os
pais (pelos).;
Tenta trabalhar fim-de-semana (no
fim-de-semana).
• Casos de construções passivas
Exs.: (Nós) fomos atribuídos
os sítios (Atribuíram-nos).;
Fui nascido em casa (Nasci).
FONÉTICA
• Pronúncia de consoantes líquidas
Ex.: areia (arreia); reembolsar (reemborsar)
• Queda da vogal inicial
Ex.: aguentar (guentar); levantar (alevantar)
• Nasalização de vogais
Ex.: exame (enzame); até (anté)
C. Stroud e P. Goncalves, Panorama do Português
Oral de Maputo, INDE (adaptado)
Bibliografia
MACIE, Filipe Virgílio. Pré-universitário – Português 11ª Classe. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2009.
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