Evolução da língua portuguesa no tempo
2. Evolução da língua portuguesa no tempo
Do indo-europeu ao latim
O estudo comparado de diversas línguas da Europa e da Ásia levou os linguistas a pensar que estas terão derivado de uma língua comum: o indo-europeu. Com excepção do basco, codas as línguas oficiais dos países da Europa Ocidental pertencem a quatro ramos da família indo-europeia: o helénico (grego), o românico (português, italiano, francês e castelhano), o germânico (inglês e alemão) e o céltico (irlandês e gaélico). um quinto ramo, o eslavo, engloba diversas línguas actuais da Europa Oriental.
Do ramo românico fazem parte as línguas que derivaram do latim, uma das quais é a língua portuguesa.
Do latim às línguas românicas
O latim era a língua falada no Lácio (região de Roma), que se propagou além-fronteiras com a romanização — processo de conquista territorial e dominação cultural efectuado pelos Romanos.
O latim apresentava diferentes variedades e registos linguísticos: o latim clássico e o latim vulgar. Foi esta última variedade que se expandiu com a romanização, pois era a língua utilizada pelos legionários, os soldados que participaram na expansão do Império Romano. Noutros locais, entrando em contacto com outras línguas e culturas, o latim sofreu modificações e diferenciações, originando primeiro os romanços e, depois, as línguas românicas ou novilatinas, constituídas pelas seguintes línguas: português, espanhol ou castelhano, italiano, francês, romeno, sardo e provençal.
Influência de outros povos
O SUBSTRATO
a) O substrato celta
Os povos que habitavam a região da Península ibérica antes da romanização falavam outras línguas, sobretudo a celta. Embora os povos vencidos tenham adoptado a língua dos vencedores (os Romanos), foram também transportados para o latim termos dessas línguas autóctones. O latim foi, assim, ganhando novas palavras oriundas da língua celta que se falava na Península Ibérica.
Exemplos de palavras de origem celta: camisa, carro, saia, carpinteiro, Lisboa, Coimbra, Évora.
O SUPERSTRATO
a) O superstrato germânico
Por volta do século V d. C., os povos germânicos invadiram a Península ibérica. Como possuíam uma cultura inferior, adoptaram a língua dos vencidos (o latim), mas introduziram-lhe palavras da sua língua.
Exemplos de palavras de origem germânica: guerra, arreio, bradar, galope, marchar, roubar, luva, orgulho, dardo, casa, raça, Afonso, Fernando, Gomes.
b) O superstrato árabe
No século VIII, a Península sofreu uma nova invasão, desta vez pelos Árabes. A presença árabe prolongou-se por vários séculos e, assim, muitas palavras de origem árabe entraram na língua portuguesa (muitas delas iniciadas por al): álcool, alambique, alecrim, alfaiate, algarismo, armazém, azul, garrafa, fatia, oxalá, xadrez, xarope e muitas outras.
Do português arcaico ao português moderno
PORTUGUÉS ARCAICO (DE FINS DO SÉCULO AO SÉCULO XVI)
Neste período, o português evolui sem influências de outras línguas. Até meados do século XIV, esteve associado ao galego, originando o galego-português ou galaico-português.
Considera-se que o português nasceu oficialmente no século XIII, quando D. Dinis legislou que todos os documentos fossem escritos em português.
PERIODO CLÅSSICO (DO SÉCULO AO SÉCULO XVII)
Com a expansão marítima, nos séculos XV e X VI, a língua portuguesa passou a ser falada em muitas regiões de África, Ásia e América, tendo sido, nesta altura, enriquecida com vocábulos provenientes dessas culturas.
A partir do século XII, com a intensificação das relações comerciais e culturais de Portugal com outros países europeus, vários termos de outras línguas foram adoptados pela língua portuguesa: são os estrangeirismos.
PERIODO MODERNO (DO SÉCULO XVIII EM DIANTE)
Além da evolução sofrida pela língua portuguesa resultante do contacto com outras línguas, também a necessidade de nomear novos objectos e novas realidades vai dando origem à criação de novas palavras: os neologismos.
Evolução fonética
Multas palavras do português provém do Patim e resultam de transformações sofridas ao longo de séculos, quase sempre pela tendência de os falantes reduzirem o esforço ao pronunciar alguns sons.
FENÓMENO | EXEMPLO |
Queda | attonitu > tonito > tonto plenum > pleno |
Adição | stare > estar humile > humilde |
Permuta | semper > sempre absente > ausente |
Evolução semântica
A evolução semântica consiste na alteração de significado de certas palavras, ao longo dos tempos.
| Significado antigo | Significado actual |
Barba | Queixo, rosto, mento | Camada pilosa que cobre partes do rosto |
Calamidade | Vendaval que destruía colheitas | Desgraça de grandes proporções |
Cara | Mais querida | Rosto (raciocínio: parte mais querida do corpo) |
Desastre | Perda de um astro | Acidente, desastre, sinistro, fatalidade, fruto do azar |
Ministro | Escravo, servidor | Cargo superior (raciocínio: significado distante do sentido humilde que tinha) |
O português de África
A partir do contacto que o português teve com as línguas africanas, através da expansão levada a cabo pelo processo de colonização, a língua foi ganhando outras variedades que divergem da norma portuguesa de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, à gramática e ao vocabulário. Contudo, tal diferenciação não é suficiente para impedir a comunicabilidade entre os falantes, nem a superioridade de uma variedade em detrimento de outra.
Em certos casos, o português, entrando em contacto com algumas línguas de Africa, deu origem aos crioulos — línguas originadas a partir da aglutinação de outras; são os casos de crioulos de Cabo Verde e da Guiné.
O português de Moçambique
Moçambique é um pais que apresenta um panorama linguístico bastante diversificado.
Falam-se várias línguas derivadas da antiga língua bantu, algumas das quais são: kimwani, shi-makonde, ci-yao, cinyanja, e-makhua, e-chuabo, ci-nyungue, ci-seno, ci-balke, ci-shna, gitonga, ci-copi, xi-ronga, xitswa, xi-xangana e vários outros dialectos destas línguas.
O português é a língua oficial do Pais, eleita após a Independência Nacional. Naturalmente, este é influenciado pelas línguas nativas e pelas suas variedades dialectais, distribuídas por diferentes espaços físicos do Pais; por isso, é legitimo falar-se de falares locais do português em Moçambique. Assim, os Macuas, por exemplo, irão expressar-se em português diferentemente dos Senas, dos Nyugues ou dos Ndaus, no que respeita a vários aspectos da gramática.
Vejamos, seguidamente, as diferentes mudanças da língua portuguesa falada em algumas regiões de Moçambique.
Especificidades do português de Moçambique
As diferenças entre o português-padrão e o português falado em Moçambique são visíveis a vários níveis:
• Classe lexical (pronomes, artigos e preposições)
Exs.: O meu pai agarrou ele (agarrou-o).;
Tinha cortado cabelos (cortado os cabelos).
• Concordância (número, género, pessoa, tempo, modo e voz)
Exs.: Os donos da mala viu (viram).;
Esta senhora é amigo (amigo).
• Tipo de estrutura sintáctica (subordinação e coordenação)
Exs.: Para que as coisas crescer melhor (cresçam melhor).;
Chegou o dizer que não tens vergonha (que ele não tinha vergonha).
• Escolha lexical dos verbos, nomes e adjectivos
Ex.: Indivíduos passageiros (que estão de passagem).
• Semântica (atribuição de novo significado a palavras do português)
Ex.: Chegaram as estruturas (responsáveis do Governo).
• Casos como: calamidade = roupa em segunda mão; pasta = mala (saco) de mão; situação = problema; crise = guerra.
• Ordem sintáctica
Ex.: Eu estou cada vez mais a Pintar (estou a Pintar coda vez mais).
• Concordância nominal e verbal
Ex.: Os seminaristas tinha... (tinham)
• Regência verbal
Exs.: Despediu os pais à saída (despediu-se dos).;
Nem ler e escrever não sabem (Nem ler e escrever sabem).
LÉXICO-SINTAXE
• Casos de verbos que exigem uma determinada preposição (regência verbal)
Exs.: Eu concordo disso (com isso).;
Eu tinha de ir participar um curso na Suécia (num).;
Ensina os pais a respeitar aos pais (os).;
Não tem amor os filhos (aos).;
Tem de passar da cidade (na).;
Fico admirado naquilo que estou a ver .com aquilo).;
Foi na altura que eu separei com os amigos (dos).;
Os alunos também abusam a eles (deles).;
Sai nas forças armadas (das).;
Era muito mimada com os pais (pelos).;
Tenta trabalhar fim-de-semana (no fim-de-semana).
• Casos de construções passivas
Exs.: (Nós) fomos atribuídos os sítios (Atribuíram-nos).;
Fui nascido em casa (Nasci).
FONÉTICA
• Pronúncia de consoantes líquidas
Ex.: areia (arreia); reembolsar (reemborsar)
• Queda da vogal inicial
Ex.: aguentar (guentar); levantar (alevantar)
• Nasalização de vogais
Ex.: exame (enzame); até (anté)
C. Stroud e P. Goncalves, Panorama do Português Oral de Maputo, INDE (adaptado)
Bibliografia
MACIE, Filipe Virgílio. Pré-universitário – Português 11ª Classe. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2009.
Todo tema que eu preciso ta a qui, bom trabalho a toda equipe da escola virtual.
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