Os Estados em Moçambique e a Penetração Mercantil Estrangeira
Os Estados em Moçambique e a Penetração Mercantil Estrangeira
A
partir do século IX, e durante quase 10 séculos, a História de Moçambique foi
marcada pela penetração e actuação de mercadores estrangeiros vindos da Ásia,
numa primeira fase e, posteriormente, da Europa, em especial de Portugal. Foi
um longo período durante o qual Moçambique esteve ligado ao mundo, mas numa
relação estritamente comercial, portanto sem pretensões de exercer domínio
político.
A Penetração Mercantil Árabe-persa
Os
primeiros mercadores que actuaram em Moçambique foram os árabepersa, provenientes
da Península Arábica e do Golfo-Pérsico.
Razões da Expansão
A
fixação dos mercadores árabes em Moçambique ocorreu na sequência da expansão
árabes motivada sobretudo por razões económicas e ideológicas, entre as quais:
a) A
desertificação das terras no país de origem e o superpovoamento - tornaram
a vida das populações difícil, obrigando-as à migração e exercício de comércio
internacional.
b) Surgimento
do Islão - A necessidade de se alastrar pelo mundo a nova religião surgida,
com vista a sua afirmação global.
c) Procura
de terras férteis - Para a prática da actividade agropecuária pois nas suas
regiões de origem não existiam condições para a prática das mesmas.
d) Prática
do comércio, baseado em tecidos, missangas e outros produtos.
Locais de Fixação
Inicialmente
essas populações estabeleceram-se nas Ilhas de Zanzibar e Pemba. No século XIII
os árabes fixaram-se em entrepostos comerciais por eles fundados ao longo da
costa, tais como Quíloa, Mombaça, Sofala e Mogadíscio. Estabeleceram-se na
costa para poder controlar o comércio com o hinterland e se defenderem das
tribos continentais.
Numa
segunda fase os árabes penetraram no interior de Moçambique, após terem sofrido
um bloqueio económico em Sofala levado à cabo por mercadores portugueses.
Angoche passou a servir de feitoria para trocas comerciais com o rio Zambeze
como rota mercantil pela qual se escoavam os produtos do hinterland para a
costa donde partiam para Arábia Saudita. Assim, surgiu o comércio à longa
distância.
O Comércio
O
comércio entre os árabe-persas e os povos africanos, envolvia sobretudo o ouro
adquirido em terras africanas em troca de bens de prestígios (panos de seda,
objectos de vidro, missangas, cobres, bebidas alcoólicas e outras bugigangas) e
especiarias.
O
ouro era usado para o pagamento das especiarias na Índia com as quais a
burguesia local conseguia entrar no mercado europeu de produtos exóticos.
Moçambique passou a constituir a principal reserva de meios de pagamento de
especiarias (pimenta, canela, etc.).
Os
mercadores de origem asiática envolveram-se também, no tráfico de escravos, em
grande parte dirigidos para a Arábia e Índia, chegando alguns até à China.
Com
o decorrer dos tempos os Árabes chegaram a um estado de prosperidade económica
considerável, erguendo ao longo das regiões costeiras grandes cidades que mais
tarde transformaram-se em grandes centros comerciais tais como: Mogadíscio,
Quíloa, Mombaça, Quelimane e Sofala.
Impacto da Actuação do Capital Mercantil
Árabe-Persa
A
penetração mercantil árabe em Moçambique colocou em contacto as comunidades de
Moçambique e os árabes. Como é natural, desse contacto resultaram influências
mútuas nas formas de vida económica política e sócio-cultural. Como é que a
penetração árabe se reflectiu nas diversas esferas da vida das comunidades de
Moçambique? Veja a seguir!...
No Plano Económico
Uma
das consequências da penetração mercantil árabe em Moçambique foi o
desenvolvimento do comércio. É certo que já aconteciam trocas comerciais antes
da penetração árabe mas o seu volume era bastante reduzido. A partir do
contacto com os árabes, as sociedades do norte de Moçambique incrementaram as
relações comerciais e entraram definitivamente no comércio internacional.
A
penetração árabe levou, igualmente, à introdução de novas plantas e animais que
eles traziam ou simplesmente passaram a domesticar. Sendo grandes navegadores –
lembre-se que os árabes vieram por mar desde os seus locais de origem até
Moçambique – os árabes deixaram também como legado o desenvolvimento das
técnicas de navegação e de construção naval.
No Plano Cultural
Certamente,
caro aluno, já reparou que a região norte de Moçambique, especialmente ao longo
da costa a maioria da população professa a religião islâmica. Pois bem, esse é
que é o testemunho de que uma das implicações da penetração mercantil árabe foi
a Islamização da costa norte de Moçambique, ou seja, a adopção da religião,
hábitos, do vestuário e outras práticas árabes.
A
presença árabe levou, igualmente, através da mistura de línguas ao surgimento
de novos grupos linguísticos – Naharra na Ilha de Moçambique, Koti em Angoche,
Kimwani em Moma, etc.
No Plano Político
No
campo político a presença árabe teve, igualmente repercussões, nomeadamente o
surgimento dos primeiros estados em Moçambique.
Com
a expansão comercial e o advento do Islão, esses núcleos da costa estruturaram-se
em comunidades políticas como os xeicados e os sultanatos, cujas independências
ou subordinações, entre si ou em relação às potências Swahili da costa à norte
de Moçambique ou as ilhas Comores, foram variando ao longo do tempo.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 6
de História: Os estados em Moçambique e a Penetração Mercantil
Estrangeira. Instituto De Educação Aberta e
à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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