A Companhia de Moçambique
A Companhia de Moçambique
Introdução
Um
dos exemplos mais notáveis da aliança do estado colonial português ao capital
internacional é nos dado pela companhia de Moçambique, uma companhia com
direitos majestáticos que liderou a exploração colonial em Manica e Sofala
entre 1892 e 1942.
Vejamos,
então ao longo da presente como é que surgiu esta companhia e que acções levou
a cabo no âmbito da exploração dos territórios que lhe foram concedidos.
Formação da Companhia
A
formação desta Companhia foi o culminar de um longo processo iniciado em 1878
por Joaquim Paiva de Andrade. Naquele ano fundou a societè des fundateurs de la
Compagnie Generale du Zambeze que viria a falir em 1883.
Em
1884 o mesmo J.P. de Andrada fundou a Companhia de Ophir com direitos
exclusivos sobre as minas de Manica e Quiteve mas tal como a primeira viveu
pouco tempo.
Em
1888 Andrade fundou a primeira Companhia de Moçambique que não era majestática.
A
criação da British South Africa Company em 1989 por Cecil Rhodes com direitos
majestáticos sobre a Mashonalândia e Matabelelândia levou Paiva de Andrada a
pretender uma sociedade da dimensão da BSAC. Esta pretensão bem acolhida pelas
autoridades coloniais interessadas em contrabalançar o peso da BSAC teve maior
impulso após o ultimato inglês de 1890 e a subsequente invasão da BASC que
culminou com a prisão de Paiva de Andrada e a ocupação de terras reivindicadas
por
Portugal.
Em 11 Fevereiro de 1891 um decreto atribuía poderes majestáticos a Companhia de
Moçambique.
Direitos
da companhia: monopólio do comércio; exclusivo das concessões mineiras e de
pesca ao longo da costa; cobrança de impostos; construir e explorar vias de
comunicação; concessão a terceiros dos encargos dê derivados privilégios
bancários; direitos de transferência de terras a pessoas singulares ou
colectivas.
Ao
Governo Português cabia: 10% dos dividendos distribuídos e 7.5% dos lucros
líquidos totais; tinha também o direito de recuperar o território uma vez
expirado o prazo e a Companhia obrigava-se a manter-se portuguesa no estatuto e
a instalar a sua sede em Lisboa.
O
capital estrangeiro sujeitava-se ao controlo português através de dois mecanismos
principais: (1) imposição de um corpo administrativo de maioria portuguesa; (2)
obrigatoriedade de ratificação, pelo governo português das leis e regulamentos
implementados no território cedido a Companhia.
A
tomada de posse da Companhia foi em Maio de 1892 com o fim da exploração
marcado para 1942.
A Exploração de Manica e Sofala
Nestes
territórios a exploração económica no período de 1892 a 1942 foi, obviamente,
feita pela Companhia de Moçambique e assentou nos seguintes aspectos fundamentais:
- Cobrança de Impostos;
- Concessão ou sub-arrendamento de terras para agricultura, construção, mineração, etc.
- Controlo do comércio e conrança de taxas pelo trânsito no território.
Os Impostos
A
cobrança constituiu uma das primeiras acções rumo a transformação da economia
camponesa numa economia de mercado. Pelo sistema de impostos as autoridades
coloniais pretendiam, por um lado coagir os camponeses a se empregarem como
assalariados e, por outro adquirir receitas para a Companhia.
No
território da Companhia de Moçambique existiam duas modalidades de impostos:
- O mussoco - uma renda em géneros já tradicional entre as populações locais mas que com a penetração colonial passou a ser recolhida em trabalho e depois em dinheiro;
- O imposto de palhota - introduzido em 1892, foi
inicialmente pago de forma facultativa em dinheiro ou em genéros, só que esta
via de cobrança mostrou-se inviável pois as pessoas preferiam quase sempre
pagar o imposto em géneros não se preocupando em trabalhar para ganhar o
dinheiro. Assm o imposto não funcionava como mecanismo de coersão dos camponesesao
trabalho e como tal era preciso reformulá-lo. Foi nessa base que em 1894 o
imposto de palhota passou a ser cobrado obrigatoriamente em dinheiro.
As
Concessões de Terras
Uma
das fontes de rendimento da Companhia foi o arrendamento de terras a outras
companhias ou aos colonos.
Em
geral as terras eram adquiridas para:
- Construção;
- Prática da agricultura ou;
- Mineração.
A Mineração
Foram
especialmente adquiridas no território da actual província de Manica, na zona
de Macequece (actual distrito de Manica), tendo sido o ouro o principal minério
que se procurava. Paralelamente as concessões de terras a Companhia criou
facilidades para a obtenção de mão-de-obra instalando uma delegação da
secretaria dos negócios indígenas, e providenciou assistência financeira,
através do Fundo de Crédito Mineiro.
Apesar
dos enormes esforços para desenvolvimento mineiro a fraca rentabilidade das
minas e a exiguidade de capitais não permitiram grandes resultados, tendo
muitas empresas caído na bancarrota.
Os Transportes
As
principais concessões nesta área foram feitas a The Beira Railway, que
construiu a linha férrea Beira - Macequece, cujas obras terminaram em Julho de
1900 e a The Port of Beira Development Corporation construiu o porto da Beira
entre 1925 e 1929.
Com
estas infraestruturas a Companhia de Moçambique passou a beneficiar de receitas
provenientes do trânsito de mercadorias de e para a Rodésia (Zimbabwe) assim
como de um incremento da agricultura colonial e das minas de Manica que viram
assim baixar consideravelmente os custos de transporte, para além de ter
facilidades de escoamento dos excedentes da produção camponesa.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 7 de História: O Colonialismo Português em Moçambique de 1890 a 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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