A Política Social: a Crescente Importância da Colonização Mental
A Política Social: a Crescente Importância da Colonização Mental
Introdução
Uma
das questões-chave da dominação colonial é a que tinha a ver com a maneira como
se poderia garantir a submissão e colaboração dos africanos. Tendo em atenção
esta realidade, o estado colonial procurou desde o princípio por em marcha uma
política social, ou seja um sitema de relações sociais entre as autoridades
coloniais e os africanos, que garantisse esse objectivo. Entre as estratégias
adoptadas destaca-se a colonização mental, ou seja o uso da religião e da educação
para “amansar” e subjugar os africanos.
A Crescente Importância da Colonização
Mental
Até
1930 o desenvolvimento educacional em Moçambique havia seguido as linhas de
desenvolvimento económico colonial. A educação dos africanos foi restringida à
formação de trabalhadores manuais por forma a apoiar o desenvolvimento
capitalista colonial mas esta política não seguiu uma base rigorosamente
planifica e uniforme:
- Predominavam missões protestantes não portuguesas na evangelização e educação;
- A expansão das missões católicas foi limitada por falta de recursos devido à política de laicidade do estado republicano desde 1911;
- Próprio estado colonial pouco tinha gasto na construção de escolas.
Nestas
condições e existindo um controlo insuficiente dos programas de ensino e ampla
penetração não portuguesa os resultados eram insatisfatórios para os
portugueses e incompatíveis com a dinâmica colonial. Por isso no quadro da
política nacionalista de Salazar desde 1930 procurou-se corrigir a situação
também neste domínio.
Depois
de mais de uma década de separação do estado da igreja, em 1926, foi renovado o
papel especial da igreja católica na colonização.
Pelo
Acto Colonial de 1930 as missões católicas receberam privilégios na base de o
catolicismo ser a religião nacional e por consequência as missões católicas
deverem ser instrumentos de civilização e influência nacional nas colónias.
A
aliança entre a igreja católica e o estado português foi formalizada ao mais
alto nível entre o governo central de Lisboa e o Vaticano em 1940 com a
assinatura do ACORDO MISSIONÁRIO que estabeleceu subsídios estatais para as
missões; estas podiam fundar e dirigir escolas para indígenas e europeus,
colégios masculinos e femininos, institutos de ensino elementar secundário e
profissional, catecumenatos, ambulâncias e hospitais. Nas escolas indígenas era
obrigatório o ensino da língua portuguesa podendo as línguas indígenas serem
usadas no ensino da religião, conforme os princípios da igreja.
Em
1941 o ESTATUTO MISSIONÁRIO aclarava melhor o preceituado no "acordo"
ao estabelecer que o Estado garantia à igreja católica no Ultramar o livre
exercício da sua autoridade sem impedimentos. Missões católicas portuguesas são
consideradas instituições de utilidade imperial e sentido eminentemente
civilizador. Os Bispos passavam a receber salário estatal equivalente ao de
governadores dos distritos coloniais e os Arcebispos vencimento igual ao dos
Governadores-Gerais.
No
mesmo ano (1941), através de um decreto, foi proibida a atribuição de subsídios
a outras missões que não fossem portuguesas e católicas.
O
papel principal atribuído às missões católicas foi o ensino dos indígenas. A
responsabilidade da educação das massas africanas é atribuída às missões católicas
subsidiadas e apoiadas pelo estado como instrumentos de "civilização"
e influência nacional portuguesa.
Investidas
de autoridade as missões católicas iniciaram uma campanha de expansão com o
objectivo de atacar as missões protestantes não portuguesas e reduzir a massa
populacional sob sua influência o que pode ser ilustrado pelos números que se
indicam no quadro abaixo.
Anos |
1930 |
1950 |
1950 |
Missões católicas |
276 |
851 |
2925 |
Missões protestantes |
41 |
39 |
23 |
Simultaneamente todas as crianças africanas de 7 - 10 anos residindo num raio 3 km de uma missão eram compulsivamente obrigadas a frequentar a escola da missão.
O
objectivo do ensino missionário para os africanos era civilizar e nacionalizar
os indígenas difundindo entre eles a língua e os costumes portugueses. Para o
efeito este ensino incluía a aprendizagem da língua portuguesa, Aritmética,
Geografia e História de Portugal, Desenho, Trabalhos manuais, Educação Física e
Higiene, Moral e Religião e Canto Coral.
Mais
do que aportuguesar, este ensino dirigia-se aos africanos com vista "a aquisição
de hábitos e aptidões de trabalho de harmonia com os sexos, condições e
conveniências das economias regionais (...), o abandono de ociosidades e a
preparação de futuros trabalhadores rurais e artífices que produzam o
suficiente para as suas necessidades e encargos sociais".
Este
mesmo ensino lançava as bases da assimilação entendida como "portugalização"
dos africanos de modo a arrastar uma parte da população de Moçambique a favor
da portugalidade que servisse de ponte entre a população colonizada e o poder
colonial. Mas esta portugalização teve sempre limites de modo a que os
assimilados não reivindicassem direitos iguais aos brancos e impedir um fluxo
enorme de populações africanas para as cidades.
Como
se pode ver o ensino missionário era dirigido exclusivamente as crianças
africanas existindo o ensino oficial para os filhos das comunidades colona,
mulatos e assimilados. Tal separação era justificada como sendo para proveito
de uns e outros argumentando-se que uns ainda estavam por civilizar enquanto
outros já eram civilizados.
Este
ensino oficial seguia os programas da metrópole onde os professores eram
recrutados e concentrava-se nas principais cidades com destaque para Lourenço
Marques.
O
ensino oficial primário era constituído por quatro anos de escolaridade enquanto
o estudante que fosse iniciado pelo ensino missionário tinha sete anos de
escolaridade para concluir a quarta classe (Cartilha maternal D. João de Deus -
I parte; Cartilha maternal D. João de Deus - II parte, 1 classe; 2 classe; 3
classe rudimentar; 3 classe elementar; 4 classe).
Devido
ao desenvolvimento económico dos anos 1940/1950 registou-se um influxo maior de
população colona. Para garantir a produção em escalas maiores de uma elite
branca de supervisão e administração registou-se nesta época a abertura de 3
liceus e cinco escolas técnicas oficiais em L. Marques, Inhambane, Beira,
Quelimane e Nampula; predominando nos liceus os filhos da população colona mais
abastada e nas escolas técnicas os dos mais desfavorecidos.
As
crianças africanas tinham poucas hipóteses de entrar para a escola secundária.
Entravam tarde na escola da missão; reprovavam muitos; a 4ª classe existia só
nas escolas paroquiais; o limite de idade para o ingresso na escola secundária
era 12/13 anos e o custo das propinas era insuportável para os africanos.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 8 de História: O Colonialismo Português a Partir de 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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