O Capital Comercial no Quadro da Agricultura Forçada: O Caso do Algodão, Arroz e Chá
O Capital Comercial no Quadro da Agricultura Forçada: O Caso do Algodão, Arroz e Chá
Introdução
Uma
das mais importantes indústrias portuguesas era a indústria têxtil. Ora, o
desenvolvimento desta indústria pressupunha o aumento progressivo dos níveis de
produção de algodão, a principal matéria-prima. No início do século XX o
crescimento da indústria têxtil portuguesa tinha na escassez de matéria-prima um
dos seus obstáculos. Que soluções foram encontradas? Como foi montado o novo
esquema de produção de algodão?
As Culturas Forçadas
Antes
de 1926 Moçambique e Angola produziam cerca de 800 toneladas de algodão contra
as 17000 toneladas que a indústria têxtil portuguesa necessitava anualmente.
Assim já em Novembro de 1926 Portugal decretou o cultivo de algodão por
camponeses africanos (lei que vigorou até 1961 mas reforçada em 1946 pelo
decreto no 35844).
A
Organização do Processo de Produção
Este
cultivo de algodão por camponeses tornou-se de facto uma obrigação. Segundo a
lei o governo fazia concessões de terras (algodoeiras) a companhias que se
comprometiam em erguer uma fábrica de descarroçamento de algodão e um armazém
bem como a fornecer sementes às populações camponesas e a adquirir desta o
algodão colhido.
O
cultivo do algodão foi responsabilizado aos camponeses africanos num sistema
fortemente controlado por agentes da administração e das companhias
concessionárias. Os camponeses africanos viam-se obrigados a cultivar o algodão
com os seus próprios meios de produção e vender a colheita a preços à companhia
que lhes forneceu as sementes.
Impacto
da cultura forçada do algodão
Este
sistema reduzia o tempo e os meios do campesinato para o cultivo da sua
subsistência.
Os resultados
para a indústria portuguesa foram que já em 1929 as colónias abasteciam o
suficiente para deixar ainda um défice de 13000 (que Portugal tinha que comprar
noutros lugares) para em 1942 Moçambique produzir 23 000 toneladas e Angola 6
000 abastecendo em conjunto 82 000 % das necessidades portuguesas ficando um
défice de 3 000 toneladas.
A
JEAC
Para
controlar todos os aspectos da produção e comercialização do algodão o governo
criou em 1938 a Junta de Exportação de Algodão Colonial (JEAC) com sede em
Lisboa.
A
junta começou por procurar aumentar a cultura de algodão através de reuniões de
propaganda nos regulados promovidos por administradores agentes da JEAC e
missionários onde se dizia que esta cultura traria benefícios para os
camponeses com o dinheiro que poderiam obter e com as roupas mais baratas que
poderiam comprar.
Se
algum ânimo existiu inicialmente cedo começaram a manifestar-se entre os
camponeses os resultados negativos: arbitrariedades na classificação e pesagem
do algodão, baixos preços, fome etc.
Os
camponeses protestavam fugindo para zonas onde não existia o cultivo do
algodão ou para territórios vizinhos, torrando a semente antes de lançá-la à
terra ou mesmo juntando pedras nos sacos de algodão para aumentar o seu peso.
Mas
as autoridades reforçaram a vigilância organizando e controlando de perto o
processo do cultivo muito em particular através da concentração de camponeses
em melhores terras algodoeiras (sistema de picadas) e imposição do
prolongamento do trabalho.
Outra
cultura foi a do arroz. Esta visava abastecer as necessidades alimentares da
população urbana e surgiu no contexto da Segunda Guerra Mundial em que se
tornava difícil a importação do arroz do Sudeste asiático. O governo decidiu
criar círculos orizícolas e entregar o fornecimento de sementes aos camponeses
africanos e a compra do produto a concessionários europeus num modelo
repressivo semelhante ao da cultura do algodão.
Sobre
os efeitos negativos desta cultura um alto membro da hierarquia católica da
época testemunha que o concessionário de zonas orizícolas tem o monopólio da
compra do arroz. O camponês africano recebe com antecipação o quantitativo que
fica obrigado a fornecer após a colheita. Sucede que ou porque o quantitativo
fixado era elevado ou por más colheitas o camponês produziu menor quantidade
que aquela que devia fornecer ao concessionário.
Nestas
condições ele cede tudo o que colheu e fica obrigado a comprar o restante até
completar a referida soma estabelecida para entrega. E esta compra é feita a
outros camponeses ou ao próprio concessionário sempre a preço superior ao da
venda! Por este motivo muitos camponeses africanos emigram para os territórios
vizinhos.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 8 de História: O Colonialismo Português a Partir de 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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