O Estado de Gaza
O Estado de Gaza
O
estado de Gaza surgiu no século XIX na região sul de Moçambique. Até essa
altura não tinha existido na região qualquer forma de organização de tipo
estadual. Existiam apenas chefaturas e pequenos reinos que nunca tinham mais do
20000 habitantes. Esta situação alterouse a partir de 1821 com a criação do
estado de Gaza, culminando um processo iniciado na actual África do Sul que
ficou conhecido por Mfecane e que teve grandes repercussões políticas em toda a
região austral da África.
As Novas Unidades Políticas
O Mfecane e o Estado de Gaza
O
Mfecane
O
estado de Gaza surgiu no século XIX na região sul de Moçambique. Até essa
altura não tinha existido na região qualquer forma de organização de tipo
estadual. Existiam apenas chefaturas e pequenos reinos que nunca tinham mais do
20000 habitantes. Esta situação alterouse a partir de 1821 com a criação do
estado de Gaza, culminando um processo iniciado na actual África do Sul que
ficou conhecido por Mfecane e que teve grandes repercussões políticas em toda a
região austral da África.
Mas
o que foi o Mfecane?
O
termo Mfecane designa um processo de lutas e transformações políticas ocorridas
na Zululândia e que culminou com a centralização política naquela região e a
emigração dos grupos vencidos para outras regiões.
Causas
do Mfecane
Entre
outros factores o Mfecane deveu-se essencialmente a dois factores:
- 1) o crescimento do comércio com a baía de Maputo o que levou a conflitos entre linhagens pelo controlo das rotas comerciais e;
- 2) a crise ecológica seguida de seca e fome nos princípios do século XIX que conduziu a disputas pela posse de recursos naturais mais favoráveis a agricultura.
As
Lutas
Tiveram
início na segunda metade do século XVIII, altura em que existiam na região
cerca de 20 reinos. No rescaldo dos conflitos por volta de 1815 sobressaíram
dois:
- Nduandue chefiado por Zuide e;
- Mtetua por Dinguisuaio.
Os
outros tinham desaparecido por incorporação nos dois referidos como vassalos ou
por fuga dos seus habitantes.
Os
reinos Nduandue e Mtetua estiveram no centro dos conflitos militares ocorridos
entre 1816 e 1821 e que terminaram com a centralização e emigração. A primeira
fase do conflito foi dominada pelos Nduandue que lograram capturar e matar o
rei dos Mtetua, Dinguisuaio, em 1818 sem contudo eliminar a existência do
reino. O lugar deixado vago pelo rei viria a ser ocupado por Tchaka, da
linhagem Zulo.
Em
novo conflito entre as duas linhagens a vitória viria a sorrir para os Mtetua
encabeçados por Tchaka, forçando os Nduandue a submeter-se aos vencedores.
Entretanto parte dos vencidos optou pela emigração para evitar a humilhação da
rendição.
Dos
que decidiram emigrar contam-se Zuangedaba, Nguana Maseko, Nqaba Msane, que por
algum tempo se fixaram em Moçambique, Mzilikazi que se fixou no território do
actual Zimbabwe, Sobhuza na Swazilâdia e Sochangane (Manicusse) que se fixou a
sul de Moçambique fundando o estado de Gaza.
O
alastramento dos conflitos às regiões vizinhas da Zululândia levou à formação
do reino do Lesotho por grupos de resistência aos guerreiros zulu.
O Estado de Gaza
Foi
constituído por Manicusse, também conhecido por Sochangane, entre os rios
Limpopo e Zambeze e teve a maior parte do território localizada no actual
território de Moçambique.
Manicusse, fundador e rei de Gaza entre 1821 e 1858, foi bem sucedido numa conquista em que soube se apoiar numa política de assimilação que lhe permitiu pôr jovens guerreiros incorporados no sul a lutar pela expansão e defesa dos seus domínios. Um exemplo disso foi o que aconteceu em 1834 diante de uma expedição portuguesa e em 1836 frente a uma coluna boer. Foram também os assimilados que serviram como funcionários do exército e da administração territorial.
As populações do vale do Limpopo e os Cossa de Magude
devem a sua designação – Changana = súbditos de Sochangane – a essa
assimilação.
Após
a morte de Sochangane em 1858 subiu ao poder seu filho Maueue, que a partir de
1859 resolveu atacar os seus irmãos mais velhos possuidores de territórios mais
vastos com vista a ampliar o seu escasso património. Mzila foi o único irmão
que conseguiu fugir e fixar-se no Transvaal. Maueue hostilizou ainda os
vizinhos, reinos vassalos e caçadores de elefantes vindos de Lourenço Marques.
Portanto Maueue criou inúmeros inimigos internos e externos e, apenas tinha
como aliado o rei Swazi.
Em
resposta à postura pouco amigável do rei, em 1861 foi constituída uma coligação
incluindo os descontentes da aristocracia Nguni – comerciantes e populações do
vale do Incomati - decidida a apoiar Mzila a tomar o poder. Iniciou-se então um
período de guerras que se prolongaria até 1864 terminado com a vitória da
coligação. Enquanto decorria a guerra, e por causa dela, em 1862, a capital do
Estado foi transferida para Mussorize.
Mzila
assumiu o poder em 1864 até a sua morte em 1884, quando foi substituído por seu
filho Ngungunhane, o último rei de Gaza. Durante o seu mandato (em 1889),
Ngungunhane mudou de novo a capital, desta feita para Mandlakazi.
A
mudança da capital para a actual Manjacaze esteve ligada a três factores
principais: (1) as pressões dos portugueses e ingleses que pretendiam retomar a
mineração; (2) o esgotamento dos recursos agrícolas em Manica, contrastando com
sua relativa abundância no vale do Limpopo e;(3) A revolta dos chopi que
impunha uma acção mais directa do rei para sua supressão.
Em
1895 o estado de Gaza, no reinado de Ngungunhane, caiu diante do avanço
português.
Organização
Social
No
topo da hierarquia estava a alta Aristocracia composta pelo Rei e seus familiares
próximos seguida de uma média Aristocracia que integrava os Nguni não pertencentes
à linhagem do rei aliada aos "assimilados".
No
extracto mais inferior estavam as populações dominadas conhecidas por Tonga.
Havia ainda uma camada de cativos afecta as comunidades domésticas nguni. As mulheres
cativas podiam ser tomadas como esposas dos Nguni sem necessidade de lobolo.
Gradualmente emancipavam-se libertando-se da condição de escravos, mantendo-se
o seu grupo social devido às constantes guerras.
Economia
As
principais actividades económicas das populações eram a agricultura (mapira,
mexoeira, milho, etc), caça e pesca.
Uma
parte dos produtos da agricultura destinavam-se ao pagamento dos tributos.
Mas
o marfim e dinheiro ganho na África do Sul após o início da migração para as
minas também pagavam o tributo.
Outra
fonte de rendimento era o trabalho dos cativos nas propriedades dos chefes.
A
criação de gado e o comércio foram outras actividades praticadas no estado de
Gaza, sendo porém monopolizadas pelos Nguni.
Ideologia
O
poder real dos Nguni, tal como nos Mwenemutapa e nos Marave, esteve ligado ao
exercício das cerimónias mágico-religiosas. Os cultos e rituais eram oficiados
pelo rei. O mais importante dos rituais era o Nkwaya ligado ao início das
colheitas. Existiam também as cerimónias destinadas a dar força aos guerreiros
conhecidas por Mbelengulu.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 6 de História: Os estados em Moçambique e a Penetração Mercantil Estrangeira. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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