Resistência colonial em Moçambique
Resistência em Moçambique
Resistência e conquista de Gaza
O Estado de Gaza constituiu uma das prioridades da
conquista portuguesa em Moçambique pois era a principal ameaça ao plano de
ocupação dos portugueses.
Para a conquista de Gaza, António Enes elaborou um plano
que incluía acções diplomáticas e militares.
A nível diplomático, o plano de Enes previa o envio de
emissários para contactar Ngungunhane com o fim de:
- Convencer o rei de Gaza de que não haveria ataques ao seu território de modo a impedir que se preparasse militarmente.
- Impedir a aliança do rei de Gaza com a Companhia de Moçambique, para a cobrança de impostos no seu território.
- Evitar o estabelecimento de negociações com a British South Africa Company.
Enquanto decorriam os esforços diplomáticos os
portugueses foram também preparando-se militarmente para o ataque.
Quando os preparativos para a guerra ficaram concluídos
os portugueses decidiram atacar.
Justificando o ataque como represália pela recusa de
Ngungunhane em entregar os chefes fugitivos, os portugueses lnçaram o ataque em
três frentes:
- 07 de Setembro de 1895: uma coluna que partiu do sul travou com as tropas de Ngungunhane a batalha de Magul, onde se encontrava Nwamantibjana.
- Outubro de 1895: uma esquadra de embarcações entrou pelo Limpopo e submeteu Bilene e Xai-Xai.
- 07 de Novembro de 1895: uma coluna partiu de Inhambane e travou a batalha de Coolela, com as tropas de Gaza, próximo da capital Mandlakazi que foi incendiada.
Em Dezembro de 1895, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado
governador do distrito militar de Gaza.
No final dos mês de Dezembro, Ngungunhane foi preso e
deportado para os Açores, onde morreu em 1906.
O exército de Gaza continuou a resistir, Liderado por
Maguiguane Cossa, com o objectivo de restaurar a monarquia e eliminar a
dominação colonial.
A 27 de Julho de 1897, as tropas de Maguiguane foram
derrotadas pelo exército português chefiado por Mouzinho de Albuquerque.
Fig. 6 – Avanço Português no sul de Moçambique |
Conquista do centro de Moçambique
A conquista no centro de Moçambique foi levada a cabo
pela Companhia de Moçambique. Logo após a criação da Primeira Companhia de
Moçambique, o seu fundador, Paiva de Andrade, iniciou contactos com as
aristocracias locais mais influentes tentando obter concessões.
Em 1889, Paiva de Andrade conseguiu um acordo com
Ngungunhane, pelo qual reconhecia Companhia direitos mineiros em Manica.
Contudo, a presença portuguesa no interior continuou muito frágil.
A ideia de que Manica era bastante rica em ouro originou
disputas entre os portugueses e os ingleses, que sé foram ultrapassadas com a
assinatura do Acordo de Fronteiras entre Portugal e Inglaterra de 27 de Junho
de 1891. Durante este período, a questão da ocupação passou para segundo Plano.
Terminados os conflitos entre Portugal e Inglaterra, a
Companhia de Moçambique retomou os esforços para a ocupação das terras de
Manica. Vejamos as principais acções nesse sentido:
- 1893 – Acordo
entre a Companhia e o Estado de Gaza segundo o qual Ngungunhane renunciava aos
impostos a norte do Save a favor da Companhia.
- 1895 – Os
portugueses desencadearam a campanha de Gaza, tendo a Companhia organizado
expedições militares ao Buzi e Moribane visando impedir que se solidarizassem
com Ngungunhane.
- 1896 – Novas
expedições para Moribane, Buzi, Save e Chichongue, destinadas a extinguir a
influência Nguni e firmarem a autoridade da Companhia.
- 1893 –
Os prazos de Tambara, Chiramba e ilhas vizinhas foram submetidos por uma força
chefiada por Paiva de Andrade. Uma expedição da Companhia e uma coluna
portuguesa permitiram estender a cobrança do mussoco à área de Sena.
- 1892 – A morte
de Gouveia permite Companhia dominar Gorongosa após sufocar uma revolta liderada
por Cambuemba. Após a derrota, Cambuemba reorganizou as suas forças,
reforçando-as com camponeses.
- 1896 – Uma
força de 2000 homens liderada pelo filho de Cambuemba atacou Gorongosa e cercou
a residência do governador da Companhia, mas a iniciativa foi reprimida. Em
seguida, Cambuemba assinou acordos com Massangano e Barué para o fornecimento
de armas e em 1897 tinha um exército com 5 a 10 mil homens.
- 1897 – Inicia
o levantamento, tendo as suas forcas expulsado os portugueses dos prazos de
Bandar, Tambara, Inharruca e Sone e bloqueado a navegação do Baixo Zambeze.
Foram então enviados reforços de Portugal, Niassa, Tete e Quelimane.
As tropas de Cambuemba e seus aliados Gizi e Luís de
Gorongoza foram derrotados e estes obrigados a refugiar-se em Barué.
Revolta de Báruè
Apos a queda dos estados militares, Báruè passou a ser o
único estado, em Manica e Sofala, fora do controlo dos portugueses.
Báruè foi produto da desagregação do Estado dos
Muenemutapa, que conseguiu resistir devastação dos Nguni e as disputas com os
estados militares vizinhos.
Entre 1870 e 1892 esteve sob controlo de Gouveia, que
usurpou o poder e tentou submeter Chipapata. Para reforçar o seu poder andou
construir aringas e fortificações pequenas onde instalou forças chicunda. Para
tentar legitimar o seu poder, colocou as suas principais esposas nas aringas
mais importantes, de onde o informavam sobre a situação. Contudo, a oposição
manteve-se.
A prisão de Manuel António de Sousa «Gouveia» juntamente
com Paiva de Andrade pelas forças da BSAC, em 1890, permitiu ao macombe Hanga,
filho de Chipapata reagrupar as suas tropas e restaurar a independência do
reino. Após ser libertado em 1891, Gouveia atacou Báruè com um exército de
cerca de 4 000 homens, mas foi derrotado.
A partir deste acontecimento, o prestígio de Báruè, como
foco de resistência, aumentou, começando a preocupar a própria coroa
portuguesa, que decidiu intervir.
A 30 de Julho de 1902, três pelotões de soldados
portugueses e africanos e 2000 soldados de reserva invadiram Báruè. As tropas
africanas comandadas por Hanga, Mafunda, Cambuemba, Cabendere e outros foram
derrotadas no final do ano e aí instalada a administração colonial.
Por que ocorreu a derrota?
- Elevado número de reforços vindos de Angola, Inhambane, Lourenço Marques e norte de Moçambique.
- Inovações tecnológicas no armamento.
- Erros tácticos e deserções.
A derrota de 1902 não foi, contudo, definitiva. Novas
acções de resistência, como os levantamentos contra o mussoco, as fugas para
fora do pais e outras, continuaram a registar-se. O ponto mais marcante da
resistência, nesta fase, foi atingido com a Revolta de Báruè de 1917/8.
Causas da revolta de Báruè
1914 –
o governo português mandou construir uma estrada ligando Tete a Macequece
passando por Báruè com a finalidade de conseguir maior controlo administrativo
do interior e facilidade de recrutamento de homens para a luta contra os
alemães (IGM). O recrutamento de milhares de camponeses para trabalhar nas
obras em regime forçado.
Paralelamente, os camponeses estavam sujeitos a pagar
impostos cada vez mais altos.
1916 –
A situação agravou-se devido å decisão do governo português de recrutar 5000
homens para a guerra contra os alemães.
Face a estes acontecimentos, os principais chefes de
Báruè, nomeadamente, Nongué-Nongué e Macossa decidiram reorganizar o exército
para lutar contra os portugueses.
Estes chefes conseguiram juntar cerca de 15 000
guerreiros e atraíram Gorongosa, Tauara, Nsenga, Tonga e grupos a-chicunda para
a luta.
Os preparativos terminaram em 1916 com a formação de três
frentes:
- Frente Sudeste: comandada por Macossa, apoiado por Ngaru, à frente dos exércitos de Báruè, Sena, Tonga e Gorongosa, com a missão de capturar Sena e destruir as propriedades da Companhia de Moçambique.
- Frente de Mungari-Tete: liderada por Nongué-Nongué e Cuedzania frente do exército conjunto Barué-Tauara.
- Frente Noroeste: onde as tropas de Tauara, Nsenga e grupos a-chicunda deviam expulsar os portugueses de Zumbo, Cachomba e Chicoa.
A rebelião começou em Margo de 1917, espalhando-se
rapidamente pelo Zumbo, Tonga e Sena.
A revolta sé foi reprimida em Novembro de 1 920, devido
a:
- Incorporação de soldados Nguni e de mercenários vindos da Rodésia do Sul.
- Conflitos e deserções entre os membros da elite da resistência. Com a derrota de Báruè colocou-se ponto final resistência primária armada contra a ocupação colonial no centro de Moçambique.
Conquista e resistência no Norte
A situação política nas vésperas da partilha:
No fim do século XIX, no Norte de Moçambique, existiam,
entre Moma e Memba os reinos afro-islâmicos da costa, no interland da Ilha de
Moçambique, a confederação de chefaturas dos macuas Namarrais, chefiada por
Mucuttu-munu e as chefaturas macua: Chaca, Eráti e Meto. Nos planaltos do
interior de Cabo Delgado encontravam-se os macondes e na actual província do
Niassa estavam os Estados Yao, os Nyanja e as chefaturas Makua Lámué e Chirima.
Fig. 8 – Avanço das tropas portuguesas no norte de Moçambiqu |
Neste período, os portugueses viviam instalados ao longo
da costa: Ilha do Ibo, Mussoril, Ilha de Moçambique e Quelimane.
Resistência e conquista
A ocupação militar do Norte pelos portugueses teve como
base de partida a Ilha de Moçambique, a região de Mussoril e da Ilha do Ibo.
A ocupação iniciou-se em 1895, com a região dos Macua
Namarrais, no interland da Ilha de Moçambique, na actual província de Nampula.
Ocupação de Nampula
As primeiras tentativas de ocupar Nampula foram
conduzidas por Mouzinho de Albuquerque, contra a região da Makuana em 1896 e
1897. Estas primeiras acções fracassaram por várias razões:
- A união de todos os chefes, de Moma a Memba, contra a ocupação.
- O grande envolvimento popular, graças a forte mobilização dos chefes locais.
Em 1905, os portugueses esboçaram um novo plano de
ocupação, que consistia em colocar os chefes e reinos do interior contra os
reinos esclavagistas da costa. Esta estratégia funcionou, uma vez que havia
conflitos entre os reinos da costa e os do interior por causa do controlo do
comércio. Assim, processou-se a ocupação de Nampula, partindo da costa para o
interior e do Norte para o Sul.
Fig. 9 – Conquista de Nampula |
Ocupação de Cabo Delgado e Niassa
A ocupação das actuais províncias de Cabo Delgado e do
Niassa efetivou-se em quatro fases:
- Assinatura de tratados entre os portugueses e os chefes locais.
- Ataque militar contra Mataca, que fracassou, mas permitiu aos portugueses a confirmação da fronteira norte, em 1891.
- Ataques militares lançados pelas tropas da Companhia do Niassa, em 1899, que permitiram destruir a povoação do chefe Mataca e erguer um posto militar em Metarica, bem como ocupar Mesumba e Metangula entre 1900 e 1902. Esta fase foi, contudo, interrompida pela forte resistência popular que levou à expulsão dos representantes da Companhia de várias regiões entre o rio Lugenda e o Lago Niassa.
- Depois de 1910, ataques sistemáticos ao território do chefe Mataca destruindo aldeias. Foi instalado um posto militar em Oizulu e, em 1912, tentou-se a ocupação total de Cabo Delgado e Niassa.
- Depois da 1ª Guerra Mundial, invasão do planalto de Mueda e submissão dos Macondes.
Assim terminava a resistência no Norte de Moçambique e
consumava-se a ocupação da região. Além dos exemplos descritos, a resistência
realizou-se um pouco por toda a África.
Portanto, em todo o continente, os africanos procuraram
resistir ocupação europeia. Entretanto, o saldo dessa resistência foi
claramente negativo, pois exceptuando a Etiópia toda a resistência foi
derrotada.
Como resultado da conquista europeia, foram destruídas as formações políticas africanas, foram instaladas as estruturas administrativas coloniais, foi imposto o trabalho forçado e foi instituído o «imposto de palhota».
Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.
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