Revoluções Burguesas
Revoluções Burguesas
O surgimento do Capitalismo reduziu, como já vimos, o
poder dos senhores de terras, passando a economia a ser controlada pela
Burguesia.
Apesar do controlo da economia, a burguesia via a
estrutura política em vigor como obstáculo para a realização das suas ideias
económicas.
A burguesia iniciou, então, a luta pela conquista do
poder político que culminou com as chamadas «Revoluções Burguesas», que
iniciaram na Inglaterra, no século XVI e atingiram outros países da Europa e
América no século XVIII.
Revolução Burguesa na Inglaterra
Uma revolução é por definição a queda repentina e de
longo alcance na continuidade do desenvolvimento de um sistema social. Por
outras palavras, fala-se em revolução quando numa sociedade ocorre uma
interrupção repentina e que muda totalmente as formas de Vida até aí
existentes.
A revolução pode ser:
- Política: implica uma mudança radical, na maioria das vezes violenta, a nível político-social, que leva a que todo um sistema político e jurídico seja derrubado e substituído por outro.
- Sociocultural: implica modificações também radicais, mas graduais e não políticas. Não envolve a aplicação de violência e ocorre em diversos aspectos do campo sociocultural (revolução industrial, revolução artística, revolução científica, etc.).
As Revoluções Burguesas
foram, portanto, revoluções lideradas pela burguesia e que pretendiam
satisfazer os interesses deste grupo social. Foram revoluções de carácter
político que levaram å queda do Absolutismo como forma de governo e, afirmação
do parlamentarismo, não só em diversos países europeus, como também nos Estados
Unidos da América.
As Revoluções Burguesas foram muitas vezes, conduzidas
sob a de forma de insurreições armadas.
As Revoluções Burguesas são também designadas Revoluções Liberais.
A Inglaterra, o primeiro país onde se desenvolveram
relações capitalistas, foi, também, o primeiro país onde teve lugar uma
Revolução Burguesa.
Antecedentes da Revolução Burguesa na Inglaterra
Embora a referida Revolução Burguesa na Inglaterra tenha
ocorrido no século XVII, as suas origens remontam Idade Média.
Já na Idade Média o poder do rei na Inglaterra era
limitado pelas imposições colocadas pela Magna Carta (1215) e pelas Provisões
de Oxford (1258).
Assinada em 15 de Junho de 1215, a Magna Carta
estabelecia o juramento de fidelidade da nobreza para com o rei; no entanto,
uma das cláusulas do documento estabelecia um comité de 25 barões com poderes
para reformar qualquer decisão real, até mesmo pela força, se necessário. Por
outras palavras, o documento limitava o poder real.
A Carta Magna garantia a liberdade política, religiosa e
civil. Segundo o documento, nenhum homem poderia ser preso antes de ser julgado
(habeas corpus) e o rei não poderia criar leis ou impostos sem antes consultar
o Parlamento, além de ter a obrigatoriedade de julgar os indivíduos segundo a
Lei e não conforme a sua própria vontade.
A partir do século XVII, em virtude de novos conflitos
entre a Coroa e o Parlamento, a Magna Carta passou a ser extremamente
importante, tornando-se o elemento fundamental para o surgimento da monarquia
constitucional britânica. O documento foi o primeiro estatuto de direito e base
da constituição britânica, sendo que até hoje alguns artigos da Magna Carta, de
1 927, integram o direito inglês.
A Magna Carta obrigava o rei a governar mantendo sempre o
respeito pelas liberdades dos súbditos, não podendo langar impostos sem o seu
consentimento.
Nos princípios do século XIV a monarquia inglesa começou
a ser controlada por um parlamento de duas câmaras:
- Câmara dos Lordes: formada pelos nobres (grandes proprietários de terras) e pelos prelados (dignitários religiosos).
- Câmara dos Comuns: formada pela burguesia e pela baixa nobreza.
Portanto, ao contrário do que acontecia noutros países da
Europa, na mesma ocasião, na Inglaterra o rei governava com base em regras bem
definidas e era controlado e apoiado por um parlamento nas suas funções. Deste
modo, a Inglaterra era um modelo de constituição política do seu tempo, em que
o poder não era exercido e controlado somente pelo rei.
No século XVI, o poder na Inglaterra pertencia dinastia
dos Tudor, que entre 1485 e 1603 governou a Inglaterra, segundo a cronologia
que se serve:
- 1485-1509 – Henrique
VII
- 1509-1547 –
Henrique VIII
- 1547-1553 –
Eduardo VI
- 1553-1558 – Maria
I
- 1558-1603 –
Isabel I
Durante o seu reinado, os Tudor mostraram alguma simpatia
em relação ao Absolutismo, que estava em surgimento nas diferentes regiões da
Europa. Apesar desta tendência, de uma forma geral, os reis Tudor mantiveram as
instituições tradicionais e o respeito pelos usos e costumes dos ingleses.
Causas da Revolução Inglesa
Dos vários aspectos sociais, políticos e económicos que
deram origem Revolução Burguesa na Inglaterra, destacam-se dois:
Surgimento das tendências absolutistas
Até princípios do século XVII, os reis ingleses
procuraram sempre manter as instituições tradicionais e o respeito pelos usos e
costumes dos ingleses. Contudo, a partir do século XVII, a Vida política
inglesa conheceu importantes mudanças.
Em 1603, com a morte da rainha Isabel I (a última monarca
da dinastia Tudor) subiu ao poder o seu primo Jaime l, rei da Escócia, da
dinastia Stuart, visto que a monarca não tinha deixado herdeiros directos.
Ao contrário dos Tudor, Jaime I não queria apenas
governar como rei absoluto de facto, queria principalmente ser reconhecido como
rei absoluto. Foi por isso que adoptou a doutrina francesa do direito divino
dos reis que dizia: «assim como é ateísmo e blasfémia disputar o que Deus pode
fazer, também é presunção e grande desacato da parte de um súbdito disputar o
que um rei pode fazer».
Esta maneira de pensar levou Jaime I a violar as regras
até aí vigentes na Inglaterra, adoptando uma política verdadeiramente
despética, isto é, uma política baseada numa forte autoridade do rei. O seu
objectivo era impor o Absolutismo como regime político no pais.
Para isso, Jaime I tomou várias medidas, das quais se
destacaram:
- Introduziu novos impostos sem consultar o Parlamento.
- Dissolveu várias vezes o Parlamento.
- Interferiu na liberdade de comércio concedendo grandes privilégios a companhias comerciais suas protegidas, assim prejudicando os restantes comerciantes.
- Conduziu as relações exteriores sem tomar em conta os interesses de alguns sectores da economia inglesa. Por exemplo, enquanto os mercadores ingleses pretendiam retomar a guerra contra a Espanha para destruir o império comercial daquele país, Jaime I assinou um acordo de paz com a Espanha. Portanto, Jaime I retirou aos cidadãos ingleses direitos que tinham conquistado desde o século XIII, o que se tornou motivo de descontentamento da população.
Problemas religiosos entre o rei e os
protestantes
Para além dos problemas políticos, a população inglesa
também teve outros problemas com o rei Jaime l.
Durante a reforma religiosa, o Anglicanismo oscilava
entre o Protestantismo e o Catolicismo, até que, no reinado de Isabel l, se
adoptou uma política conciliatória, que tentava estabelecer um equilíbrio entre
as duas tendências religiosas.
Nesse sentido, o Anglicanismo, no tempo de Isabel l,
seguia muitas das práticas protestantes, como o casamento dos padres e a não veneração
dos santos e relíquias, mas manteve as práticas religiosas cristãs.
Para os protestantes radicais, a política conciliatória
de Isabel I tornava a Igreja Anglicana muito parecida com a Igreja Católica e
por isso criaram o movimento dos puritanos.
Quando Jaime I chegou ao poder, assumiu uma política
religiosa pouco favorável aos puritanos, beneficiando os católicos.
Em 1605, o conflito entre o rei e os puritanos
agravou-se. Naquele ano ocorreu a chamada «conspiração da pólvora» (plano dos
católicos fanáticos para explodir o Parlamento durante a sessão). Em resposta
aquele acto, o Parlamento, composto na sua maioria por protestantes, adoptou
várias leis contra os católicos, mas as mesmas foram ignoradas pelo rei, o que
aumentou a fúria dos protestantes.
Fases da Revolução Burguesa na Inglaterra
A primeira Revolução Burguesa, que veio dar origem ao
Capitalismo, teve lugar na Inglaterra, no século XVII, e decorreu em três
fases:
- O período de 1628 (Petição de Direitos) a 1658 (fim do governo de Oliver Cromwell).
- O período da Restauração e do Habeas Corpus, logo a seguir a Cromwell, com o rei Carlos II, um Stuart.
- O período da Declaração dos Direitos.
1ª fase: Petição de Direitos
Depois da morte de Jaime l, em 1625, subiu ao poder o seu
filho e sucessor Carlos l. Este resolveu manter a política absolutista do seu
pai, continuando a decretar impostos sem o consentimento do Parlamento, como,
por exemplo, a introdução da taxa marítima, o que aumentou o descontentamento
da população.
Embora pretendendo seguir o Absolutismo, Carlos I viu-se
obrigado a aproximar-se do Parlamento, pois precisava de dinheiro porque estava
envolvido em guerras (por exemplo, a guerra contra Espanha, as revoltas
internas). Por isso, foi forçado a convocar o parlamento.
Aproveitando esta oportunidade, o Parlamento apresentou
ao rei, em 1628, a petição dos direitos,
que este foi obrigado a assinar para conseguir que o Parlamento aprovasse novos
impostos que lhe permitissem ter dinheiro.
Que propostas eram apresentadas pelo Parlamento
rei?
Embora a tenha assinado, Carlos I não cumpriu a petição
dos direitos; por isso, os tempos que se seguiram foram marcados por uma guerra
civil.
Guerra civil
Ao assinar a petição dos direitos, Carlos I não queria,
de facto, abandonar o Absolutismo, mas apenas conseguir que o parlamento não
impedisse a introdução de novos impostos. Assim, depois de conseguir a aprovação
de novos impostos, o rei voltou a governar como rei absoluto.
O descontentamento popular aumentou quando o rei resolveu
tomar várias medidas contrárias ao desejo dos ingleses, tais como:
- Repor algumas leis feudais, cobrando multas aos que as violavam.
- Obrigar os ricos a solicitar o título de cavaleiro, cobrando taxas.
- Vender direitos de exclusividade em certas actividades.
- Mandar os juízes aumentar as taxas judiciais.
- Introduzir as contribuições navais.
Por outro lado, provocou o descontentamento dos
calvinistas ao nomear um bispo de tendências anglicanas (William Laud) para
dirigir a Igreja inglesa, autorizar jogos públicos aos domingos (o que era
contra as leis calvinistas) e tentar impor a hierarquia da Igreja Católica aos
protestantes do norte.
Estes factos provocaram uma rebelião armada dos súbditos
do norte (escoceses) que iniciaram uma guerra generalizada. Carlos I precisou
de obter dinheiro para reprimir a revolta dos escoceses, por isso, decidiu
convocar o Parlamento em 1640.
Sabendo que o rei precisava que o Parlamento aprovasse
novos impostos pois nada podia fazer sem dinheiro, os membros do Parlamento
aproveitaram o momento para tomar várias medidas:
- Aboliram as contribuições navais e os tribunais especiais que serviam como instrumentos da tirania (opressão).
- Prenderam algumas pessoas fiéis ao rei.
- Decretaram uma lei proibindo o rei de dissolver o Parlamento.
Como resultado destes acontecimentos, o rei e o
parlamento não conseguiram chegar a um entendimento, o que originou um
conflito, em 1642.
Este conflito, que assumiu a forma de uma guerra civil,
durou de 1642 a 1649 e envolveu:
- Cavaleiros: apoiantes do rei, maioritariamente nobres e latifundiários, católicos, anglicanos fiéis.
- Cabeças Redondas: defensores da burguesia, pequena nobreza, população das cidades, etc., que eram defensores da liberdade política, religiosa e económica.
Nesta guerra, os cabeças redondas saíram vitoriosos,
derrubaram a Monarquia e mataram o rei. Com estes acontecimentos foi eliminada
a Monarquia e criada a República na Inglaterra (1649).
Entre 1649 e 1658, a Inglaterra foi governada por Oliver
Cromwell, que dirigiu os cabeças redondas durante a guerra civil. Cromwell, que
era chefe militar, dirigiu o pais com base na força e tornou-se «Lord
Protector» da Inglaterra, Escócia e Irlanda.
2ª fase: Restauração e Habeas Corpus
Apos a morte de Cromwell (1658), os seus sucessores não
conseguiram manter a mesma autoridade com que ele tinha governado o país. Para
tentar acabar com a anarquia que se tinha generalizado, o Parlamento decidiu
convidar um rei para dirigir o pais. Assim, em 1660, Carlos II, filho de Carlos
l, torna-se o novo monarca inglês. Deste modo, foi restabelecida a Monarquia na
Inglaterra.
O período que vai de 1660 a 1685 é conhecido, na história
da Inglaterra, como o período da Restauração,
pois trata-se do momento em que a Monarquia foi restaurada na Inglaterra.
Contudo, o novo rei, antes de tomar o poder, foi obrigado a comprometer-se
perante o Parlamento a abandonar a política absolutista.
Ainda com o objectivo de defender os direitos dos
cidadãos, em 1679, o Parlamento votou e submeteu aprovação do rei um importante
documento, o Habeas Corpus, ou seja, a garantia de que ninguém podia ser preso
sem culpa formada.
Depois de tomar o poder, Carlos II converteu-se ao
Catolicismo e, apesar do compromisso com o Parlamento, governou como um monarca
absoluto, principalmente nos últimos anos do seu reinado.
O comportamento absolutista de Carlos II deu origem a um
desejo de revolta por parte da população, com o objectivo de acabar de vez com
o Absolutismo. Por isso, a revolução continuou, na sua terceira fase, a da
Declaração dos Direitos.
3ª fase: Declaração dos Direitos
Após a morte de Carlos II, em 1685 subiu ao trono o seu irmão
Jaime II, cujo reinado foi marcado por conflitos com o Parlamento devido aos
seguintes aspectos:
- O desejo de Jaime II de restaurar o Catolicismo.
- A tomada de medidas autoritárias e impopulares (absolutistas).
O conflito entre o Parlamento e o rei Jaime II agravou-se
quando este tentou baptizar o seu filho na Igreja Católica. Na sequência deste
conflito, o Parlamento decidiu convidar a princesa Maria, filha de Jaime II,
casada com Guilherme de Orange, Stauder (chefe da República) na Holanda para
tomar o poder.
Respondendo ao apelo do Parlamento inglês, em 1688
Guilherme invadiu Inglaterra. Abandonado por todos, Jaime II partiu para França.
Guilherme de Orange e Maria foram coroados reis de
Inglaterra, mas antes o parlamento apresentou-lhes a Declaração dos Direitos,
que enumerava as liberdades e direitos dos ingleses e punha limites ao poder do
rei. O parlamento e a burguesia tinham triunfado.
A importância da Revolução Inglesa
A Revolução Burguesa foi a primeira de todas as
Revoluções Burguesas de que há memória. Esta revolução foi de especial
importância para a Inglaterra e para o mundo, pois marcou o triunfo do regime
parlamentar, contrastando com aquilo que era prática em muitos países europeus
e que alguns reis tentavam implantar na Inglaterra. O triunfo da Revolução
Inglesa contribuiu para despertar outros países europeus e, sobretudo, as
colónias inglesas na América do Norte para a luta contra o absolutismo.
A Declaração dos Direitos, 1689
Os senhores e os
comuns reunidos em Assembleia, representando a nação, declaram:
- 1º – Que o pretendido poder de suspender as leis, pela autoridade real, sem o consentimento do parlamento, é contrário as leis.
- 2º – Que o pretendido poder de dispensar das ou da sua execução pela autoridade real, como foi usurpado e exercido ultimamente, é contrário às leis.
- 4º – Que todo o levantamento de dinheiro para uso da coroa, sob o pretexto de prerrogativa real, sem que tenha sido concedido pelo parlamento, é contrário as leis.
- 6º – Que levantar ou manter o exército no reino em tempo de paz sem o consentimento do parlamento, é contrário as leis.
In: Da Aurora do
Capitalismo às Vésperas da Primeira Guerra Mundial
História 9ª classe
Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.
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